Alocução do Papa no Concistório para criação de novos Cardeais - 22 fevereiro
«Jesus caminhava à frente deles» (Mc 10, 32). Também neste momento Jesus caminha
à nossa frente. Ele está sempre à nossa frente. Precede-nos e abre-nos o caminho...
E esta é a nossa confiança e a nossa alegria: ser seus discípulos, estar com Ele,
caminhar atrás d’Ele, segui-Lo...
Quando concelebrámos juntos a primeira santa
Missa na Capela Sistina, «caminhar» foi a primeira palavra que o Senhor nos propôs:
caminhar e, em seguida, construir e confessar. Hoje volta aquela palavra, mas
como um acto, como a acção de Jesus que continua: «Jesus caminhava…» Isto é uma coisa
que impressiona nos Evangelhos: Jesus caminha muito e instrui os seus discípulos ao
longo do caminho. Isto é importante. Jesus não veio para ensinar uma filosofia, uma
ideologia... mas um «caminho», uma estrada que se deve percorrer com Ele; e aprende-se
a estrada, percorrendo-a, caminhando. Sim, queridos Irmãos, esta é a nossa alegria:
caminhar com Jesus.
Mas, isso não é fácil, não é cómodo, porque a estrada
que Jesus escolhe é o caminho da cruz. Enquanto estão a caminho, fala aos seus discípulos
do que Lhe acontecerá em Jerusalém: preanuncia a sua paixão, morte e ressurreição.
E eles ficam «surpreendidos» e «cheios de medo». Surpreendidos, sem dúvida, porque,
para eles, subir a Jerusalém significava participar no triunfo do Messias, na sua
vitória – como se vê em seguida pelo pedido de Tiago e João; e cheios de medo, por
causa daquilo que Jesus haveria de sofrer e que se arriscavam a sofrer eles também.
Mas nós, ao contrário dos discípulos de então, sabemos que Jesus venceu e
não deveríamos ter medo da Cruz; antes, é na Cruz que temos posta a nossa esperança.
E, contudo, sendo também nós humanos, pecadores, estamos sujeitos à tentação de pensar
à maneira dos homens e não de Deus. E quando se pensa de maneira mundana, qual
é a consequência? «Os outros dez indignaram-se com Tiago e João» (cf. Mc 10, 41).
Indignaram-se. Se prevalece a mentalidade do mundo, sobrevêm as rivalidades, as invejas,
as facções… Assim, esta palavra que o Senhor nos dirige hoje, é muito salutar!
Purifica-nos interiormente, ilumina as nossas consciências e ajuda a sintonizarmo-nos
plenamente com Jesus; e a fazê-lo juntos, no momento em que aumenta o Colégio Cardinalício
com a entrada de novos Membros.
Então «Jesus chamou-os...» (Mc 10, 42). Aqui
temos o outro gesto do Senhor. Ao longo do caminho, dá-Se conta que há necessidade
de falar aos Doze, pára e chama-os para junto de Si. Irmãos, deixemos que o Senhor
Jesus nos chame para junto de Si! Deixemo-nos “con-vocar” por Ele. E ouçamo-Lo, com
a alegria de acolhermos juntos a sua Palavra, de nos deixarmos instruir por ela e
pelo Espírito Santo para, ao redor de Jesus, nos tornarmos cada vez mais um só coração
e uma só alma.
E, enquanto nos encontramos assim convocados pelo nosso único
Mestre, «chamados para junto d’Ele», também eu vos digo aquilo de que a Igreja precisa:
precisa de vós, da vossa colaboração e, antes disso, da vossa comunhão, comunhão comigo
e entre vós. A Igreja precisa da vossa coragem, para anunciar o Evangelho a tempo
e fora de tempo, e para dar testemunho da verdade. A Igreja precisa da vossa oração
pelo bom caminho do rebanho de Cristo; oração que é, juntamente com o anúncio da Palavra,
a primeira tarefa do Bispo. A Igreja precisa da vossa compaixão, sobretudo neste momento
de tribulação e sofrimento em tantos países do mundo. Queremos exprimir a nossa proximidade
espiritual às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que sofrem discriminações
e perseguições. A Igreja precisa da nossa oração em favor deles, para que sejam fortes
na fé e saibam reagir ao mal com o bem. E esta nossa oração estende-se a todo o homem
e mulher que sofre injustiça por causa das suas convicções religiosas.
A Igreja
precisa de nós também como homens de paz, precisa que façamos a paz com as nossas
obras, os nossos desejos, as nossas orações: por isso invocamos a paz e a reconciliação
para os povos que, nestes tempos, vivem provados pela violência e a guerra. Obrigado,
Irmãos muito amados! Caminhemos juntos atrás do Senhor e deixemo-nos cada vez mais
convocar por Ele, no meio do povo fiel, da Santa Mãe Igreja.