Papa Francisco conversa com dois irmãos argentinos que fugiram para a Suécia no tempo
da ditadura militar
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu na tarde de quarta-feira,
12 de fevereiro, na Casa Santa Marta, dois irmãos argentinos, Carlos e Rodolfo, que
fugiram para a Suécia, em 1970, como refugiados políticos durante a ditadura militar.
O encontro durou quase uma hora.
A conversa começou com as recordações do Papa
Francisco que conheceu a esposa já falecida de um dos dois irmãos. Naquela época,
Jorge Mario Bergoglio trabalhava num laboratório de química.
Em seguida, o
Santo Padre lembrou sua amizade com um Pastor Luterano, Anders Gutt, grande homem
com o qual partilhou, em Buenos Aires, a cátedra de Teologia Espiritual. "Éramos um
jesuíta e um luterano e nos entendíamos muito bem", disse o pontífice. O Pastor Gutt
ensinava a espiritualidade da reforma e Pe. Bergoglio a espiritualidade católica.
"O mundo deve ser mais solidário com os refugiados. Alguns países fecham suas
fronteiras e isso não é bom", disse o Papa Francisco aos dois irmãos. O Santo Padre
elogiou o acolhimento da Suécia que abriu as fronteiras para os imigrantes, integrando-os
na própria sociedade.
"Os refugiados hoje são muitos e ninguém os quer. São
como um 'palavrão'. Talvez a mensagem seja que a salvação de um povo se encontra no
ser irmãos daqueles que estão sofrendo o exílio de sua pátria. Nós, em nossa fé cristã,
sabemos que Jesus foi um refugiado quando era criança. É uma das primeiras mensagens
do Evangelho. Jesus um refugiado e não um turista. Ele não fugiu por motivos de trabalho,
mas fugiu da morte, como um refugiado", disse o Papa Francisco.
O Santo Padre
respondeu a uma pergunta sobre os muitos imigrantes que chegam a Lampedusa, sul da
Itália, e sobre o papel da comunidade internacional.
"A globalização da indiferença
nos leva a dizer: Chegam os refugiados. Que outros cuidem disso! Em Lampedusa o povo
sentiu a necessidade de acolhê-los. E acolhem. O povo de Lampedusa junto com a prefeita,
que é uma mulher forte e corajosa, entendeu que sua missão é acolher", disse ainda
o pontífice.
O Papa acrescentou que em Lampedusa está sendo feito um bom trabalho,
embora não tenha espaço para acolher todos os imigrantes que desembarcam na ilha.
No que diz respeito a outros países europeus, Francisco disse que muitas vezes
os refugiados não são bem acolhidos e correm o risco de ficarem pelas estradas, roubando
ou se prostituindo.
O Santo Padre recordou o trabalho dos Jesuítas com a intuição
de Pe. Pedro Arrupe de fundar o Serviço Jesuíta para Refugiados e disse que tudo isso
não é suficiente, é uma pequena gota no oceano. O Santo Padre falou sobre o encontro
promovido em dezembro passado pela Pontifícia Academia das Ciências sobre o tema do
trabalho escravo, afirmando que proximamente será feito outro encontro sobre as organizações
de trabalho. O Papa reiterou a necessidade de reconstruir a consciência do ser humano
contra a globalização da indiferença.
Por fim, o Papa recordou os quatro milhões
de imigrantes na Argentina, dentre os quais os paraguaios e bolivianos são a maioria,
e falou sobre o papel das mulheres paraguaias:
"Para mim, a mulher paraguaia
é a mais heróica da América. Depois da guerra, a cada dez pessoas, oito eram mulheres.
Essas mulheres escolheram ter filhos para salvar a pátria, a língua, a cultura e a
fé. Desejo que um dia o Comitê do Prêmio Nobel dê o prêmio à mulher paraguaia por
salvar a cultura, a pátria. Ela foi heróica." (MJ)