Dom Gerhard Muller: Mesmo com instrumentos e técnicas de comunicação de hoje, o homem
é menos capaz de comunicar
Milão (RV) – “Na sociedade globalizada existe comunicação como nunca houve
no passado, mas, de fato, o homem é sempre mais auto-referencial, com uma incapacidade/rejeição
de estreitar vínculos solidários, e portanto, menos capaz de comunicar”. Foi o que
afirmou o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Gerhard Muller, durante
a lectio magistralis por ocasião da inauguração do Ano Acadêmico da Faculdade
de Teologia da Itália Setentrional, em Milão.
Segundo Dom Muller, “o homem
hoje não é mais capaz de formas de discernimento que ultrapassem o reduzido âmbito
do útil e do imediato. Não reconhece mais aquilo que corresponde ou aquilo que afasta
as peculiaridades que o tornam verdadeiramente homem”. Como conseqüência, “diminui
sempre mais a densidade da cultura por ele produzida”. Uma cultura que “é tão forte
nos instrumentos e na técnica de comunicar quanto é pobre, sob o ponto de vista humano,
nos conteúdos veiculados. Uma cultura em que aquilo que parece significativo não ultrapassa
os confins dos ‘short term’ e do ‘low cost’”.
“E uma metáfora desta cultura
é a velocidade com que a Mídia hoje descarrega as notícias e as imagens, em um vórtice
de comunicação”. E quanto mais se comunica uma quantidade de dados, tanto menos se
entra em comunicação com o outro”
O Prefeito da Congregação para a Doutrina
da Fé, por outro lado, diz estar convencido de que na crise antropológica – antes
ainda que econômica e financeira -, em que nos encontramos, são necessárias “respostas
radicais”, uma “reviravolta cultural”, antes ainda que estrutural e de costumes, mas
uma mudança que atinja os fundamentos últimos do homem”.
Neste sentido, a teologia
“pode contribuir muito ao saeculum sempre mais ‘breve’, de onde viemos e onde
nos encontramos ainda”. “A dignidade do homem deve ser a linha vermelha também para
a legislação, para a forma em que vivemos juntos, a comunidade”, disse ele ao ser
interpelado por jornalistas. E acrescentou que “a doutrina dos cristãos pode ser um
bom remédio para as exigências das sociedades de hoje”. (JE)