Dom Parolin: "Secretaria de Estado deve tornar-se um modelo de renovação para toda
a Igreja"
Cidade do Vaticano (RV) – Que a Cúria Romana seja um instrumento “ágil e hábil”
no serviço da “missão da Igreja no mundo de hoje”. Foi o que afirmou o Secretário
de Estado vaticano Dom Pietro Parolin, numa entrevista à jornalista Stefania Falasca,
publicada neste domingo (9) no jornal ‘Avvenire’. O Secretário de Estado tratou de
diversos temas, da colaboração com o Papa Francisco ao papel da diplomacia vaticana,
do conflito na Síria ao “período muito doloroso” do Vatileaks.
“O meu
estilo não pode ser que não o do Papa Francisco, um estilo com o qual me sinto profundamente
identificado”. Inicia assim o futuro Cardeal, ao falar de uma “renovação na Igreja”,
à qual o Papa está chamando todos “com insistência”, observando que a Secretaria de
Estado deverá assumir com “total disponibilidade a conversão pastoral proposta pelo
Papa Francisco”. Antes, acrescenta, “num certo sentido deverá tornar-se um modelo
para toda a Igreja”.
Dom Parolin sublinha que a diplomacia vaticana está empenhada
em ajudar os povos “na construção de um mundo humano e fraterno”, no qual sejam tutelados
“os mais fracos e os mais vulneráveis”. Portanto, a Cúria Romana deverá transformar-se
num instrumento “ágil e hábil, menos burocrático e mais eficaz, ao serviço da comunhão
e da missão da Igreja no mundo de hoje”. Um instrumento – prosseguiu – “à serviço
do Papa e dos Bispos, da Igreja universal e das Igrejas particulares”.
“Certo
– admitiu – existe sempre o perigo de se abusar do poder” e “deste perigo não está
fora a Cúria”. E advertiu que “não basta uma reforma das estruturas - que também deve
ser feita – mas esta deve ser acompanhada por uma permanente conversão pessoal”.
O
Secretário de Estado reitera que também na Cúria Romana “existiram e existem santos”,
o que leva a lamentar quando “com pinceladas muito precipitadas e violentas, se apresenta
uma imagem exclusivamente negativa da Cúria”. Em última análise, comenta, é necessário
trabalhar duro para se tornar mais humanos, mais acolhedores, mais evangélicos, como
quer Papa Francisco.
Interpelado sobre o Vatileaks, o prelado afirmou
com uma certa amargura que “foi um período muito doloroso, que, espero, tenha definitivamente
acabado”. Um acontecimento – observou , “que fez sofrer injustamente o Papa Bento
XVI” e que escandalizou muitíssimas pessoas, danificando “não pouco, a causa de Cristo”.
Aqueles acontecimentos – acrescentou - “não devem cessar de nos questionar sobre nossa
efetiva fidelidade ao Evangelho”.
Sobre o IOR, Dom Parolin não entrou no mérito
das soluções técnicas, mas evidenciou que, segundo indicações do Pontífice, a gestão
do dinheiro destinado “às necessidades da vida e da missão da Igreja” deve ser permeada
“por princípios do Evangelho”.
Outra parte da entrevista foi dedicada ao compromisso
da Santa Sé com a paz. Neste ponto, Dom Parolin definiu o Papa Francisco como “o primeiro
agente diplomático da Santa Sé” e cita, em particular, o papel desempenhado na busca
de uma solução para a guerra na Síria. A propósito de ‘Genebra 2’, o prelado reiterou
a necessidade de traçar um road map ‘realístico para o fim do conflito e a
realização de uma paz duradoura”.
O Secretário de Estado também não deixou
de falar sobre a difícil situação dos cristãos no Oriente Médio, cuja situação “é
uma das grandes preocupações da Santa Sé”. Falou ainda, sobre as relações com a China,
desejando que “aumentem a confiança e a compreensão entre as partes e que isto possa
ser concretizado na retomada de um diálogo construtivo com as autoridades políticas”.
Sobre
as críticas ao Papa vindas de ambientes conservadores, que o definiram como “marxista”
em matéria economia, Dom parolin respondeu com uma pergunta: “É marxismo exortar à
solidariedade desinteressada e a um retorno da economia e das finanças a uma ética
em favor do ser humano ?”. E observou que “a forte intervenção” do Papa Francisco,
por exemplo, em algumas partes da Evangelii Gaudium, foi motivada por situações
“de desigualdade e de exclusão” existentes na América Latina, como em tantas outras
partes do mundo. (JE)