ONU sobre direitos da criança – a nota do P. Lombardi e o comentário do P. Hans Zollner
do Centro Proteção Infância da Univ. Gregoriana
Nesta semana teve
grande impacto a nível mundial o Relatório do Comité da Organização das Nações Unidas
para os Direitos das Crianças que recomenda que o Vaticano “remova imediatamente”
todos os padres que tenham abusado sexualmente de menores ou que sejam suspeitos disso,
e que os entreguem às autoridades judiciais. Um relatório sem precedentes que foi
apresentado em Genebra, concluindo que os abusos foram “sistemáticos” e pede à Igreja
Católica que entregue os seus arquivos sobre abusos sexuais para que todos os casos
sejam conhecidos. A esse propósito, o director da Sala de Imprensa da Santa Sé,
P. Federico Lombardi, pronunciou-se, através de uma nota em que considera ter este
documento graves limites não tendo levado adequadamente em consideração os dados fornecidos
pela Santa Sé, e que, ao invés, deu muito mais atenção a ONGs bastante conhecidas,
preconceituosamente contrárias à Igreja Católica e incapazes de reconhecer o que foi
feito. É bastante dura a crítica do P. Lombardi às observações da Comissão da ONU,
que – observa – parecem ter sido escritas antes do encontro com os representantes
vaticanos. Poucas ou nenhuma outra instituição – pontua com veemência o P. Lombardi
– fez o que a Santa Sé tem feito nestes anos em favor da protecção dos menores. Além
do mais, a Comissão foi além das suas competências, interferindo nas posições doutrinais
e morais da Igreja, dando indicações sobre o aborto, contracepção, educação nas famílias
e com uma visão ideológica da sexualidade. É também grave a incompreensão sobre
a natureza específica da Santa Sé, que, no entanto, foi detalhadamente explicada nos
20 anos de adesão à Convenção dos direitos da infância. Não é capaz de entender ou
não quer entender? – pergunta-se o P. Lombardi. Em seguida, o porta-voz vaticano
define totalmente anómala a atenção reservada pela Comissão à Santa Sé, quando comumente
são escassos os relatórios sobre outros países onde os problemas dos direitos humanos
e da infância são notoriamente graves. Não por acaso – ressalta –, jamais se ouve
falar sobre esses relatórios. Entretanto o P. Lombardi rejeita existir qualquer
desencontro entre a ONU e a Santa Sé. As Nações Unidas são uma realidade muito importante
para a humanidade de hoje. A Santa Sé sempre deu um forte suporte moral à Organização
da Nações Unidas como lugar de encontro entre todas as nações, para favorecer a paz
no mundo e o crescimento da comunidade dos povos na harmonia e no respeito recíproco.
São disso testemunha inúmeros documentos e intervenções da Santa Sé aos seus níveis
mais altos e a participação intensa dos seus representantes na actividade de muitos
organismos da ONU. Para uma reflexão sobre o assunto a Rádio Vaticano foi ouvir
a opinião do Padre Hans Zollner, responsável do Centro para a Protecção da Infância
da Universidade Gregoriana. A reportagem é do nosso colega da redacção italiana Alessandro
Gisotti: “Não é tomado em consideração que existe uma tentativa e a vontade
expressa dos Papas Bento XVI e Francisco, de dar luta contra os abusos, verdadeiramente
uma das coisas principais da missão também da Igreja, como foi reforçado repetidamente.
Depois não se percebe bem como é que entraram temáticas como o aborto e a contracepção;
temas como a homossexualidade, onde se vê que provavelmente estes temas deveriam acabar,
de qualquer maneira dentro do Relatório e que certamente não estão ligados. Alguém
queria meter estes temas como que para dizer: a Igreja tem que se mexer sobre a moral
sexual, assim afirmamos o nosso ponto...” "Infelizmente – daquilo
que se sabe através das notícias –, a presidente da Comissão reagiu de modo taxativo,
dizendo que a Igreja não fez o suficiente. É claro que a questão é se vemos o copo
meio cheio ou meio vazio. A Igreja está a levar em frente, como nenhuma outra instituição
mundial, o combate ao abuso: houve erros, pecados e crimes por parte de membros da
Igreja e inclusive de sacerdotes. Mas dizer que a Igreja não fez exactamente nada,
parece-me não objectivo! Aliás, parece, talvez uma tentativa, não sei se perversa
ou não... Mas pode-se dizer que não levam seriamente em consideração o que a Igreja
tem feito. Não se entende! Há muita confusão: a imagem de uma Igreja que funciona
como um órgão de fiscalização de cada católico, de cada Igreja local, de cada paróquia,
de cada diocese... É claro que não é assim que funciona! Aí vejo também uma ambivalência
no Relatório: de um lado reconhecem, mas de outro requerem, por exemplo – e é uma
coisa absurda! –, que a Igreja possa gerir todas as despesas em favor das crianças:
como se em cada creche, em cada escola, em cada universidade, em cada paróquia, em
cada diocese, o Papa afinal tivesse que estabelecer um orçamento. São coisas que não
se podem pretender! Portanto, a avaliação deste documento, que não é unívoca, é muito
complexa. Certamente que há coisas injustas e acusações desproporcionadas." (RS)