Editorial: Em cada tempo, o Espírito Santo dá à Igreja o Papa de que ela precisa
Cidade do Vaticano
(RV) - Parece ter sido outro dia, quando, na tarde chuvosa de 13 de março de 2013,
após horas de espera e grande expectativa, a multidão que se encontrava apinhada no
amplo espaço circundado pela colunata de Bernini, ouvia ecoar na Praça São Pedro,
na voz do Cardeal proto-diácono Jean-Louis Tauran, o anúncio da eleição e o nome do
novo Bispo de Roma.
No entanto, já se passou quase um ano daquele dia em que
o Conclave varreu a tradição de mais de doze séculos ininterruptos da eleição de papas
europeus. Vale lembrar que o primeiro Papa não-europeu foi propriamente o primeiro
Papa da história: São Pedro era proveniente da Terra Santa, como Jesus.
De
fato, o último Sucessor de Pedro não-europeu fora Gregório III, sírio, Pontífice de
731 a 741. Como se sabe, as novidades não ficaram por aqui: primeiro Papa do Continente
Americano – filho da América Latina, primeiro da Companhia de Jesus a calçar as "Sandálias
do Pescador", primeiro a chamar-se Francisco.
O mais importante, porém, estava
por vir, e podia-se intuir da escolha do Papa Bergoglio, ao tomar para si o nome do
pobrezinho de Assis: o manifesto desejo de "uma Igreja pobre, para os pobres", com
os pobres e dos pobres; uma Igreja em estado permanente de missão, capaz de sair de
si, de suas comodidades e ir "às periferias geográficas e existenciais" – como ama
repetir –, "mesmo a custa de acidentar-se".
Em todo caso, é absolutamente dispensável
evocar aqui aqueles elementos que têm levado ao que de há muito têm chamado de a "Revolução
de Bergoglio", a grande atenção que este Pontificado tem despertado no mundo inteiro.
Por isso, prefiro evitar o risco de tornar-me repetitivo.
De fato, de lá para
cá, neste quase um ano, foram escritos dezenas de livros, produzidos centenas de documentários
e reportagens, e milhares de artigos sobre o Bispo de Roma que veio "quase do fim
do mundo", como definiu-se ele mesmo, da sacada da Basílica Vaticana, ao cair da tarde
daquele 13 de março.
Por isso mesmo, sem a pretensão de acrescentar nada de
realmente novo, gostaria somente de partilhar com você, amigo ouvinte e caro leitor
– e assim convidá-lo a ulterior reflexão –, apenas algumas parcas considerações.
Como
se sabe, o Espírito Santo dá à Igreja o Papa de que ela precisa para cada momento
da história. Atendo-nos apenas aos últimos pontífices, podemos lembrar o bom Papa
João XXIII, que por inspiração do Espírito Santo, convocou e iniciou o Concílio –
trazendo uma verdadeira Primavera na Igreja; seguido do Papa Paulo VI, excelso pastor,
homem de elevada envergadura cultural, a quem coube continuar, concluir e iniciar
a aplicação do Concílio.
Depois tivemos Albino Luciani, o Papa João Paulo I,
que tão logo partiu, ocupando a Cátedra de Pedro no breve espaço de um sorriso.
Em
seguida, o grande Papa João Paulo II, cuja eleição, em 1978, interrompeu a tradição
de quatro séculos e meio de papas italianos. De fato, o último não italiano havia
sido Adriano VI, holandês.
Em 2005 tivemos a eleição de Bento XVI, grande catequizador,
insigne teólogo, o Papa que em suas primeiras palavras como Pontífice se definiu "um
humilde trabalhador na vinha do Senhor", que quase oito anos depois, num gesto de
extrema humildade, lucidez e desapego, surpreendeu o mundo inteiro, renunciando em
fevereiro do ano passado.
Décimo segundo Papa não-europeu, Bergoglio traz para
a Cátedra de Pedro, de onde irradia o alto Magistério petrino, o modo de ser e de
viver da Igreja na América Latina, subcontinente onde se encontra quase a metade de
todos os católicos do mundo inteiro.
E traz para a velha e cansada Europa a
experiência eclesial de uma Igreja jovem, viva e dinâmica, cujo Pontificado também
representa mais responsabilidades e desafios para a Igreja nesta porção do "Continente
da Esperança".
Manifestamente contrário ao "culto da personalidade", o Papa
Francisco nos remete continuamente a Cristo e a seu Evangelho, incentivando-nos a
fixar nosso olhar unicamente em Jesus, fazendo-nos sentir – como disse em outra circunstância
e contexto seu vigário-geral para o Estado da Cidade do Vaticano, Cardeal Angelo Comastri
– o perfume do Evangelho, o perfume da palha da gruta de Belém.
A Francisco,
nosso irmão, nossas contínuas orações por ele, por suas intenções, pela Igreja e pelo
mundo! (Raimundo Lima)