2014-02-06 20:47:00

Pe. Zollner: Relatório da ONU sobre menores é confuso e injusto, não reconhece grande esforço da Igreja


RealAudioMP3 Cidade do Vaticano (RV) - O Relatório da Comissão de Direitos da Infância da ONU sobre a Santa Sé, publicado nesta quarta-feira, tem tido ampla repercussão em nível mundial. Um documento que não se limita à avaliação do que a Igreja tem feito no combate à chaga dos abusos sobre menores, mas coloca sob acusação a moral católica acerca do aborto e da homossexualidade. Para um comentário sobre esse relatório, a Rádio Vaticano entrevistou o responsável do Centro para a proteção da Infância, da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, Pe. Hans Zollner. Eis o que disse:

Pe. Hans Zollner:- O Relatório não leva em consideração que há uma tentativa e a vontade expressa pelos Papas Bento XVI e Francisco de fazer do combate aos abusos, verdadeiramente, uma das coisas principais da missão também da Igreja, como tem sido repetidamente reiterado. Além disso, não se entende bem como é possível que tenham entrado temáticas como o aborto e a contracepção; temas como a homossexualidade, onde se vê que provavelmente esses temas deveriam, de algum modo, acabar dentro do Relatório e que certamente não estão relacionados com o tema em questão. Alguém queria inserir esses temas como que para dizer: a Igreja deve intervir sobre a moral sexual, de modo que assim colocamos a questão..."

RV: A Igreja – como o senhor ressaltava – está combatendo esta terrível chaga dos abusos. A seu ver, que efeito este Relatório pode ter sobre esse empenho da Igreja?

Pe. Hans Zollner:- "É difícil responder. De um lado, certamente será um estímulo para seguir adiante e para identificar ainda mais e especificamente as áreas em que devemos dizer o que já estamos fazendo e as áreas onde devemos verdadeiramente trabalhar mais, concretizar, como disse o próprio Dom Scicluna, que durante dez anos foi Promotor de Justiça. Porém, devo também dizer que uma depreciação como a desta Comissão – ao menos em algumas partes do Relatório – não ajuda a motivar as pessoas na Igreja a seguir adiante, porque nada que venha a ser feito é reconhecido. Portanto, é um pouco decepcionante: o trabalho feito não é levado em consideração! Certamente é também injusto unicamente apontar o dedo sobre estas coisas, das quais, como se sabe, os Papas e a própria Congregação para a Doutrina da Fé há anos têm falado como "a chaga aberta no corpo da Igreja."

RV: Em várias passagens o Relatório ataca de modo frontal a moral da Igreja. A seu ver, esse ataque é fruto de quê? De um lobby? Há uma deriva, como – por exemplo – afirmou em Genebra Dom Silvano Maria Tomasi?

Pe. Hans Zollner:- "Infelizmente – daquilo que se sabe através das notícias –, a presidente da Comissão reagiu de modo taxativo, dizendo que a Igreja não fez o suficiente. É claro, a questão é se vemos o copo meio vazio ou meio cheio. A Igreja está levando adiante, como nenhuma outra instituição mundial, o combate ao abuso: houve erros, pecados e crimes por parte de membros da Igreja e inclusive de sacerdotes. Mas dizer que a Igreja não faz exatamente nada, me parece não objetivo! Aliás, me parece, talvez uma tentativa, não sei se perversa ou não... Mas se pode dizer que não levam seriamente em consideração o que a Igreja tem feito. Não se entende! Há muita confusão: a imagem de uma Igreja que funciona como um órgão de fiscalização de cada católico, de cada Igreja local, de cada paróquia, de cada diocese... É claro que não é assim que funciona! Aí vejo também uma ambivalência no Relatório: de um lado reconhecem, mas de outro requerem, por exemplo – e é uma coisa absurda! –, que a Igreja possa gerir todas as despesas em favor das crianças: como se em cada creche, em cada escola, em cada universidade, em cada paróquia, em cada diocese, o Papa afinal tivesse que estabelecer um orçamento. São coisas que não se podem pretender! Portanto, a avaliação deste documento, que não é unívoco, é muito complexa. Certamente há coisas injustas e acusações desproporcionadas."

RV: Infelizmente, todos os dias, em muitas áreas do mundo, as crianças são vítimas de guerra. Por que, a seu ver, existe essa grande atenção – como se tem visto – quase espasmódica da mídia em relação ao Vaticano, exatamente sobre esse aspecto dos abusos contra menores?

Pe. Hans Zollner:- "A minha interpretação é a seguinte: a Igreja propõe-se como guardiã dos valores humanos e toda infração desses valores no coloca numa posição em que devemos também admitir que muitos dos nossos não vivem aquilo que propomos, professamos e propagamos. Por isso há certamente, também, uma justificação em parte nessas observações da mídia e da sociedade em geral. Por outro lado, a Igreja Católica é vista como um organismo único: portanto, se sou sacerdote, tenho uma certa co-responsabilidade por aquilo que faz meu coirmão sacerdote; se comete um abuso, também sou de certo modo indiretamente acusado de fazer parte deste organismo que não fez o que deveria ter feito. Portanto, há algo que gira em torno dessa imagem de uma Igreja co-responsável em todas as suas partes. Penso que ninguém, obviamente, possa julgar de onde vem essa "fixação" por parte da mídia sobre a Igreja Católica, porém, nos impele a seguir adiante, a não diminuir o nosso esforço comum, com tantas pessoas de boa vontade dentro e fora da Igreja que nos ajudam, para fazer da Igreja verdadeiramente um organismo, uma realidade onde as crianças possam viver aquilo que Jesus mesmo nos deu como missão, que estejam protegidas, com aquele desenvolvimento que não deve ser impedido por esses graves pecados e crimes!" (RL)







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