Jales (RV) - O carnaval neste ano chega um pouco mais tarde. De tal modo que
a quarta-feira de cinza vai acontecer só no dia cinco de março.
O aproximar-se
da quaresma, para nós no Brasil, significa a emergência de um tema relevante, trazido
pela Campanha da Fraternidade. Ela vem se realizando todos os anos, desde 1964. Desta
vez com um assunto difícil, pois aborda questões que circulam mais nos porões da opinião
pública do que nas pautas estabelecidas diariamente.
Trata-se do Tráfico Humano.
Este é o tema da Campanha da Fraternidade deste ano de 2014: “Fraternidade e Tráfico
Humano”. .
Ele vem acompanhado de um lema, de inspiração bíblica, que vai
logo apontando critérios para a compreensão do assunto, sugerindo também posicionamentos
práticos para a ação pastoral.
Desta vez o lema é citação de uma das sentenças
mais fortes e contundentes do Apóstolo Paulo. De maneira categórica afirma com convicção:
“E´ para a liberdade que Cristo nos libertou!”
Pode ser que alguns estejam
inclinados a perguntar, se existe mesmo o “tráfico humano” Ou quando muito admitem
que existam casos isolados, certamente longe da realidade em que vivem.
Mas
quando tomamos conhecimento de situações que envolvem pessoas acidentadas, quando
em vez do pronto atendimento para salvar os envolvidos, parece haver um indisfarçável
desejo de que venham a morrer, para assim sobrar mais órgãos para serem comercializados,
sentimos então como este problema de “tráfico humano”, pode existir, sim, e pode assumir
diversas modalidades, em circunstâncias também desconhecidas.
Parece o cúmulo
da perversão do sistema econômico, em que tudo se reduz a mercadoria, que pode ser
vendida ou comprada, entrando nesta categoria também as pessoas, que dependendo de
certas circunstâncias, podem virar mercadorias a serem simplesmente negociadas.
Para
enfrentar esta mentalidade perversa é necessário desmascarar esta realidade, e mostrar
os interesses escusos que presidem e articulam este tráfico.
Para isto, é indispensável
dispormos de convicções bem arraigadas, que advogam com lucidez e firmeza a sacralidade
de toda pessoa humana, independente de qualquer caracterização. Todos somos portadores
de uma dignidade inalienável, que nos acompanha deste o início de nossa trajetória
humana.
Lembro que em uma das diversas reuniões continentais, convocadas para
escutar a sociedade mundial, tive a oportunidade de insistir na proposta de que todo
ser humano, pelo simples fato de existir, deveria gozar de um reconhecimento mundial,
admitido por todos.
Este reconhecimento precisaria assumir uma forma jurídica
que lhe garantisse minimamente seus direitos. Ela se traduziria em forma de “cidadania
universal”, a ser devidamente registrada e documentado.
A declaração universal
dos direitos humanos, feita pelas Nações Unidas logo no início de sua existência,
se constituiu em estatuto consistente, que foi conquistando sempre maiores adesões.
O
estatuto da cidadania universal, pelo qual cada indivíduo seria reconhecido como “cidadão
do mundo”, efetivaria na prática os “direitos humanos”, garantindo sua vigência em
favor de todos, não só das minorias privilegiadas do mundo.
Assim, a cidadania
universal daria eficácia verdadeira aos direitos humanos.