Belo Horizonte (RV) - A fraternidade na economia é uma premissa determinante
na construção da paz. Lamentavelmente, a idolatria do dinheiro tem estreitado mentes
e corações, negociações e pactos, em razão da hegemonia exercida sobre o desejo e
sobre as razões de viver das pessoas, de povos, grupos e culturas.
Entre as
dinâmicas da idolatria do dinheiro, além da mesquinhez que limita as oportunidades
de partilhas, apoios e desenvolvimento de projetos básicos para o crescimento das
populações, inscreve-se a devoradora compulsão pelo consumo. Conduta que está na base
da crise de valores, experimentada em todo o mundo, por reduzir a pessoa ao seu poder
aquisitivo.
O desarvoro do consumo gera voracidade e tiranias incontroláveis
no íntimo das pessoas, determinando dinâmicas perversas para a sociedade contemporânea.
Como enfrentar adequadamente as graves crises financeiras e econômicas deste tempo?
O lucro é determinante e deve ser sempre maior. Impõe o esvaziamento antropológico
de entendimentos sobre o que é essencial na vida das pessoas, impedindo investimentos,
partilhas e apoios. Torna-se meta principal, sacrificando projetos e programas que
poderiam fazer a diferença em cenários de pobreza. A lógica do lucro que expulsa a
fraternidade das dinâmicas da economia gera outras consequências igualmente preocupantes,
tecendo uma rede de violências, perversidades e corrupção. Destrói o que poderia se
traduzir em exercícios ricos de fraternidade. O Papa Francisco, na convicção que rege
o serviço evangelizador da Igreja, constata e chama à reflexão sobre o afastamento
do homem, de Deus e do próximo e sobre o empobrecimento das relações interpessoais
e comunitárias como causas fatais dessa realidade contemporânea.
As pessoas
são consequentemente empurradas na direção do consumo, na busca do lucro a todo custo
e fora da lógica de uma economia saudável. O cenário é de desgoverno e de descontrole,
realidade que pesa sobre todos os ombros. Não se pode continuar crescendo e avançando,
comprometendo aspectos essenciais, gerando prejuízos irreversíveis, como a perda do
sentido fundamental de humanidade que sustenta cada pessoa. O sistema de produção
e os meios de comunicação, já dizia o Bem Aventurado Joao Paulo II, têm enorme responsabilidade
pela forte influência no dia a dia das pessoas e na formação de conceitos que não
priorizam o que, de fato, é importante.
É clara a convicção de que as crises
econômicas e suas injunções devem levar os construtores da sociedade pluralista, dirigentes
governamentais e cidadãos a repensar os modelos de desenvolvimento e os estilos de
vida. Transformações que têm sido claramente indicadas como possibilidades de proteger
cada pessoa da agressividade dos mecanismos da sociedade do lucro e do consumo. A
mudança de estilo de vida - frisa o Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial
da Paz, não pode abrir mão do cultivo das virtudes da prudência, temperança, justiça
e fortaleza.
A mudança da sociedade não virá, nem se sustentará, simplesmente
pelas dinâmicas próprias da economia, que não possui arcabouço suficiente em si mesma
para promover as transformações que a cultura contemporânea necessita. Apostar em
outro modelo econômico como solução para as sociedades faria, apenas, aumentar a lista
dos fracassos na busca da paz e adiaria a possibilidade de uma justiça social mais
abrangente e mais significativa.
A fraternidade sim, tem a energia necessária
para mudar a economia. Vivida e cultivada pela força motriz das virtudes tem propriedades
singulares e únicas para extinguir a guerra, humanizar as relações econômicas e promover
o entrelaçamento de pessoas. A Fraternidade tem o poder de iluminar a inteligência
gerando entendimentos que arquitetam pactos sociais e políticos. A fraternidade, como
via para a paz, é o caminho novo para a economia.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte