Rio de Janeiro (RV) - Durante treze dias eu tive a grata satisfação de rever
os meus amados arquidiocesanos com a trezena de São Sebastião, quando levamos a imagem
peregrina/missionária de nosso Padroeiro em todos os cantos e recantos de nossa querida
Igreja Particular de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Observei, nestes dias,
a devoção de nossos irmãos e irmãs! Quanta gente santa, que vive o Evangelho, que
reza verdadeiramente no seu trabalho e tem uma abertura para o anúncio do Evangelho!
Foram muitas emoções e belos exemplos!
A presença e a identidade cristã dos
católicos em nossa Arquidiocese são muito marcantes. Trazemos em nossa cultura, apesar
de tantas mudanças sociais, culturais e religiosas, a marca de uma vida que busca
colocar em prática o evangelho de Jesus Cristo, olhando para grandes exemplos de nossa
vida, como são os santos.
É muito comum entre nós a Oração do Terço. Agora,
com a beleza do “terço dos homens”, que cresce a cada dia! Mas temos muitos belos
exemplos de uma piedade simples que, apesar dos avanços da modernidade, ainda ajudam
as pessoas a ficarem firmes na fé e a continuarem a aprofundar o encontro com Deus,
meditando os mistérios da salvação junto com Maria.
Observei uma situação que
pode ser muito ilustrativa para a nossa vida cristã. Eu me comovi internamente a observar
uma mulher, aparentemente não muito “letrada” das letras do mundo, mas doutora nas
coisas de Deus, ensinando as pessoas a rezarem o Terço e refutando as acusações dos
incréus, que acusavam que a Oração do Terço não está fundamentada na Sagrada Escritura.
A
senhora, simpática e calejada do trabalho pesado, disse que reza o Terço em quatro
ocasiões do dia. Sabemos que a tradição nos ensina que rezamos cada mistério em um
dos dias, mas nada impede que o façamos diariamente, nas várias horas do dia.
Ela
ia explicando que, ao acordar, ela medita a Palavra de Deus e a guarda no coração,
rezando o Terço. Lembra que é na Cruz que o Filho de Deus, Nosso Senhor, dando o seu
próprio sangue salvou a humanidade e faz a Profissão de Fé. O início Terço nos leva
a meditar sobre a onipotência de um Deus que é Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito
Santo. E estas verdades não se questionam, mas a vivem e a testemunham.
A senhora
explicou o sentido do Pai Nosso que, por ser a oração que o próprio Senhor nos ensinou,
deve ser uma oração muito querida de todo batizado. Explicou, ainda, que cinco são
os mistérios do terço para lembrar as cinco chagas que Jesus teve na Cruz. Falou,
também, que o número das Ave-Marias rezadas nos relembra os dez mandamentos. Além
do que, a oração da Ave Maria, em sua primeira parte, é totalmente bíblica, sendo
a segunda parte uma resposta nossa, da Igreja, pedindo a intercessão mariana. E concluindo
com a glorificação da Trindade, no Glória ao Pai.
Entretanto, a metodologia
desta oração vocal tão importante, foi testemunhada pela senhora católica. De manhã,
quando ela inicia a sua luta diária, ela reza os mistérios gozosos, pedindo pelo seu
dia e lembrando que Jesus, Maria e José viveram uma vida modesta, pobre, mas uma vida
digna, pautada na vivência da Palavra de Deus, pela confiança inabalável na Divina
Misericórdia.
Quando o dia chega ao meio, em que normalmente o sol está a pino,
ela reza os mistérios luminosos, que nos recordam a pregação de Jesus e o anúncio
do Reino de Deus.
À tardezinha, ao por do sol, em que a senhora já está cansada
pela fadiga dos trabalhos, diz que reza os mistérios dolorosos. Diante da dura caminhada
de Nosso Senhor Jesus Cristo para o Calvário, cheio de dores e cansaço, a nossa vida
é intermediada por sofrimentos, incompreensões, perseguições e não podemos abandonar
o caminho da Cruz, devemos tomar a nossa Cruz e seguir ao Cristo Senhor.
No
fim do dia, à noite, a senhora, ao chegar do seu dia repleto de afazeres do trabalho
fora de casa, sorridente, me disse que iria rezar os mistérios gloriosos para lembrar
que Jesus venceu a morte para salvar a humanidade.
Esse testemunho de uma
mulher que vence as dificuldades, que busca fé sem se esmorecer, nos ensina que Deus
não desampara os mais humildes, os simples, ao contrário, ele eleva os humildes e
destrona os poderosos de seus tronos. Pela contemplação dos mistérios, relemos a Sagrada
Escritura e os mistérios de nossa fé através da cadência contemplativa das “ave-marias”,
que nos acompanham com tranquilidade neste mundo frenético de correrias.
Por
isso, a Oração do Rosário deve ser revigorada pelos agentes da ação caritativa de
nossa Igreja neste Ano da Caridade. A caridade deve ter como fundamento o amor de
Deus e, por isso, devemos nos fundamentar na vida de oração, para com maior vigor
visitar os que estão no cárcere, os que são fragilizados, os que estão nos hospitais,
os que vivem nos asilos, os que vivem na recuperação da droga e do crack. Vamos propor
a Oração do Terço, que é cristológico, mas com uma impostação mariana, devoção de
todos os Papas que tão bem escreveram sobre ele para podermos trabalhar cristãmente.
Eu me lembro com carinho do Bispo que me ordenou padre e que governou a Diocese
na época com muito carinho e frutos abundantes de vocações, pastoral e unidade, com
o Terço nas mãos. O Papa Francisco nos ensinou que a oração do Terço, como um "remédio
espiritual", é "bom para o coração".
O Terço deve também nos ensinar a ter
um coração bom, um coração que acolhe, que perdoa, que recomeça, que reza, que confia,
mas, sobretudo, que dá testemunho das delicadezas simples que, por causa do individualismo
reinante, nós muitas vezes estamos deixando de lado ou esquecendo.
A Oração
contemplativa do Rosário nos ajuda a entender os que sofrem, os mais humildes e a
sermos despojados e desarmados para darmos testemunho do Cristo Senhor!
†
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ