2014-01-24 13:59:05

Pe. Spadaro: Para Francisco, comunicar é "encontro" e "um desafio apaixonante"


Cidade do Vaticano (RV) - Proximidade, encontro, diálogo. Estas são algumas das palavras-chave da Mensagem do Papa Francisco para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais. O documento, publicado nesta quinta-feira (23), gira em torno da figura do Bom Samaritano, indicado pelo Pontífice como modelo para os comunicadores. Para comentar a Mensagem, a Rádio Vaticano entrevistou o Diretor da "Civiltà Cattolica", Padre Antonio Spadaro:

R: "Certamente, o Papa Francisco é um Pontífice que ama muito a comunicação, pois tem um estilo pastoral de contato direto com as pessoas. Portanto, para ele, comunicação significa encontro. A cultura da comunicação está em colisão direta com a cultura do desperdício, portanto, da divisão, das divisões do tipo econômico, ideológico. A comunicação - e o encontro - está no centro, é o coração da 'visão bergogliana' da vida e da Igreja. Se devêssemos resumir, então, o conceito que está por trás deste texto, eu diria que para ele, comunicar é encontrar, isto é, fazer-se próximo. Existe uma espécie de revolução copérnica da comunicação, onde no centro não existe a mensagem, mas existem as pessoas que comunicam. Isto é muito moderno, muito contemporâneo, porque nós sabemos que as redes, hoje, constroem uma comunicação baseada nas relações. Se não existem relações, não se comunica"

RV: O Papa indica um modelo, que pode parecer original para um jornalista, para um comunicador, aquele do Bom Samaritano, a após acrescenta: "Gosto de definir este poder da comunicação como proximidade". Ou seja, a proximidade é o centro.....

R: "A proximidade é exatamente o centro! A imagem, portanto, do Bom Samaritano é uma imagem muito forte que, aliás, o então Cardeal Bergoglio já havia utilizado em 2002, falando aos comunicadores de Buenos Aires. Esta mensagem é o fruto de uma meditação e de uma longa reflexão sobre este tema. E é muito bonito como a Parábola evangélica se torna uma referência para um comunicador. O Bom Samaritano se faz próximo e cura as feridas, curas as chagas, ajuda quem está em dificuldade. Isto significa concretamente para um comunicador cristão dar voz a quem não tem voz, tornar visível a face de quem é invisível".

RV: Nesta mensagem, como também nas últimas mensagens do Papa Bento XVI, se fala muito de Internet. O Papa Francisco utiliza uma imagem muito bonita: "A rede digital - diz - pode ser um lugar rico de humanidade, não uma rede de fios, mas de pessoas humanas"....

R: "Este é outro conceito central, pois a comunicação é uma comunicação entre pessoas, antes de tudo. A Rede, portanto, não é como a rede hidráulica ou a rede de gás, mas a Rede constrói um ambiente comunicativo. Na realidade, é como se o Papa dissesse que a Rede não existe, Internet não existe: é a nossa vida, somos nós, seres humanos, a estar em Rede! A nossa vida é uma rede de relações. Depois, os fios, os cabos, se quisermos, nos ajudam obviamente. Antes, devem nos ajudar - é esta a vocação da Rede - sermos mais unidos, termos uma comunicação mais direta, que seja também capaz de superar as barreiras e os obstáculos. Existe uma visão cristã forte, uma visão quase profética da Rede. A Rede é entendida como dom de Deus aos homens, porque graças a ela, os homens podem estar mais unidos".

RV: Uma parte consistente desta mensagem é dedicada ao diálogo e obviamente neste caso não se refere somente ao diálogo dos comunicadores. "Dialogar - escreve o Papa Francisco - não significa renunciar às próprias idéias, mas sim à intenção de que sejam únicas e absolutas". Aqui, de alguma forma, se percebe uma característica do seu Pontificado ...

R: "Certamente, pois o dialogar significa falar com uma pessoa, não para convencê-la das próprias idéias, isto não é diálogo: diálogo significa tratar com as pessoas, sabendo que o outro pode ajudar-me a entender melhor. Podemos caminhar juntos para uma verdade única. Então, fechar-se dentro de idéias pessoais ou tradições linguísticas, partidárias e assim por diante, significa impedir esta fluidez de comunicação. É um tema muito, muito caro ao Papa Francisco, que diversas vezes afirmou que a Igreja deve inserir-se no diálogo com os homens e as mulheres de hoje, justamente para compreender melhor as expectativas, as esperanças e as dúvidas. O estilo do diálogo, portanto, é justamente um estilo radical, entendendo-se por estilo não somente um modo de fazer, mas justamente a própria essência do Evangelho, a abertura ao mundo".

RV: E justamente a abertura, o horizonte e o olhar para o futuro concluem esta mensagem, quando o Papa afirma: "A revolução dos meios de comunicação requer energias frescas e uma imaginação nova". Também aqui existe um impulso para sair, um incentivo que o Papa dá aos comunicadores...

R: "O Papa diz uma coisa muito importante aqui, que a comunicação é um desafio apaixonante - é uma expressão sua - que, justamente, requer energia. Não se pode, portanto, confiar a comunicação a uma rotina mecânica, de comunicados de imprensa que limitam-se a comunicar frases feitas. Requer, então, energia, desejo de comunicar, intensidade, mas também uma imaginação nova. Isto é muito interessante, isto é, necessita ver as coisas de maneira diferente. A imaginação cristã é uma imaginação - graças à imagens do Bom Samaritano - capaz de plasmar, de dar forma a uma comunicação que significa também um modo de viver juntos. O Papa fala às vezes na Evangelii Gaudium de uma maré um pouco caótica, de uma espécie de "caravana solidária" em que nos encontramos mergulhados. São todas imagens que tocam o homem de hoje, mas dizem como a Igreja deve envolver-se, deva misturar-se com esta humanidade para comunicar a mensagem do Evangelho". (JE)








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