Pe. Spadaro: Para Francisco, comunicar é "encontro" e "um desafio apaixonante"
Cidade do Vaticano (RV) - Proximidade, encontro, diálogo. Estas são algumas
das palavras-chave da Mensagem do Papa Francisco para o próximo Dia Mundial das Comunicações
Sociais. O documento, publicado nesta quinta-feira (23), gira em torno da figura do
Bom Samaritano, indicado pelo Pontífice como modelo para os comunicadores. Para comentar
a Mensagem, a Rádio Vaticano entrevistou o Diretor da "Civiltà Cattolica", Padre Antonio
Spadaro:
R: "Certamente, o Papa Francisco é um Pontífice que ama
muito a comunicação, pois tem um estilo pastoral de contato direto com as pessoas.
Portanto, para ele, comunicação significa encontro. A cultura da comunicação está
em colisão direta com a cultura do desperdício, portanto, da divisão, das divisões
do tipo econômico, ideológico. A comunicação - e o encontro - está no centro, é o
coração da 'visão bergogliana' da vida e da Igreja. Se devêssemos resumir, então,
o conceito que está por trás deste texto, eu diria que para ele, comunicar é encontrar,
isto é, fazer-se próximo. Existe uma espécie de revolução copérnica da comunicação,
onde no centro não existe a mensagem, mas existem as pessoas que comunicam. Isto é
muito moderno, muito contemporâneo, porque nós sabemos que as redes, hoje, constroem
uma comunicação baseada nas relações. Se não existem relações, não se comunica"
RV:
O Papa indica um modelo, que pode parecer original para um jornalista, para um comunicador,
aquele do Bom Samaritano, a após acrescenta: "Gosto de definir este poder da comunicação
como proximidade". Ou seja, a proximidade é o centro.....
R: "A
proximidade é exatamente o centro! A imagem, portanto, do Bom Samaritano é uma imagem
muito forte que, aliás, o então Cardeal Bergoglio já havia utilizado em 2002, falando
aos comunicadores de Buenos Aires. Esta mensagem é o fruto de uma meditação e de uma
longa reflexão sobre este tema. E é muito bonito como a Parábola evangélica se torna
uma referência para um comunicador. O Bom Samaritano se faz próximo e cura as feridas,
curas as chagas, ajuda quem está em dificuldade. Isto significa concretamente para
um comunicador cristão dar voz a quem não tem voz, tornar visível a face de quem é
invisível".
RV: Nesta mensagem, como também nas últimas mensagens do
Papa Bento XVI, se fala muito de Internet. O Papa Francisco utiliza uma imagem muito
bonita: "A rede digital - diz - pode ser um lugar rico de humanidade, não uma rede
de fios, mas de pessoas humanas"....
R:"Este é outro conceito
central, pois a comunicação é uma comunicação entre pessoas, antes de tudo. A Rede,
portanto, não é como a rede hidráulica ou a rede de gás, mas a Rede constrói um ambiente
comunicativo. Na realidade, é como se o Papa dissesse que a Rede não existe, Internet
não existe: é a nossa vida, somos nós, seres humanos, a estar em Rede! A nossa vida
é uma rede de relações. Depois, os fios, os cabos, se quisermos, nos ajudam obviamente.
Antes, devem nos ajudar - é esta a vocação da Rede - sermos mais unidos, termos uma
comunicação mais direta, que seja também capaz de superar as barreiras e os obstáculos.
Existe uma visão cristã forte, uma visão quase profética da Rede. A Rede é entendida
como dom de Deus aos homens, porque graças a ela, os homens podem estar mais unidos".
RV:
Uma parte consistente desta mensagem é dedicada ao diálogo e obviamente neste caso
não se refere somente ao diálogo dos comunicadores. "Dialogar - escreve o Papa Francisco
- não significa renunciar às próprias idéias, mas sim à intenção de que sejam únicas
e absolutas". Aqui, de alguma forma, se percebe uma característica do seu Pontificado
...
R:"Certamente, pois o dialogar significa falar com uma pessoa,
não para convencê-la das próprias idéias, isto não é diálogo: diálogo significa tratar
com as pessoas, sabendo que o outro pode ajudar-me a entender melhor. Podemos caminhar
juntos para uma verdade única. Então, fechar-se dentro de idéias pessoais ou tradições
linguísticas, partidárias e assim por diante, significa impedir esta fluidez de comunicação.
É um tema muito, muito caro ao Papa Francisco, que diversas vezes afirmou que a Igreja
deve inserir-se no diálogo com os homens e as mulheres de hoje, justamente para compreender
melhor as expectativas, as esperanças e as dúvidas. O estilo do diálogo, portanto,
é justamente um estilo radical, entendendo-se por estilo não somente um modo de fazer,
mas justamente a própria essência do Evangelho, a abertura ao mundo".
RV:
E justamente a abertura, o horizonte e o olhar para o futuro concluem esta mensagem,
quando o Papa afirma: "A revolução dos meios de comunicação requer energias frescas
e uma imaginação nova". Também aqui existe um impulso para sair, um incentivo que
o Papa dá aos comunicadores...
R:"O Papa diz uma coisa muito
importante aqui, que a comunicação é um desafio apaixonante - é uma expressão sua
- que, justamente, requer energia. Não se pode, portanto, confiar a comunicação a
uma rotina mecânica, de comunicados de imprensa que limitam-se a comunicar frases
feitas. Requer, então, energia, desejo de comunicar, intensidade, mas também uma imaginação
nova. Isto é muito interessante, isto é, necessita ver as coisas de maneira diferente.
A imaginação cristã é uma imaginação - graças à imagens do Bom Samaritano - capaz
de plasmar, de dar forma a uma comunicação que significa também um modo de viver juntos.
O Papa fala às vezes na Evangelii Gaudium de uma maré um pouco caótica, de uma espécie
de "caravana solidária" em que nos encontramos mergulhados. São todas imagens que
tocam o homem de hoje, mas dizem como a Igreja deve envolver-se, deva misturar-se
com esta humanidade para comunicar a mensagem do Evangelho". (JE)