Mensagem do Papa Francisco aos Prelados Auditores, Oficiais e Colaboradores do Tribunal
Apostólico da Rota Romana
Por ocasião da inauguração do ano judiciário, o Papa Francisco recebeu em audiência,
nesta sexta-feira, na Sala Clementina, os Prelados Auditores, Oficiais e Colaboradores
do Tribunal Apostólico da Rota Romana. Na sua mensagem, após breve saudação e agradecimento
pelo inestimável serviço à Igreja em nome e por mandato do Sucessor de Pedro, o Papa
sublinhou que a dimensão jurídica e a dimensão pastoral do ministério pastoral da
Igreja não estão em contraposição mas ambas contribuem para a realização das finalidades
e da unidade de acção da Igreja. A actividade judicial da Igreja, que se configura
como serviço à verdade na justiça, tem portanto uma conotação profundamente pastoral,
porque tem como finalidade a busca do bem dos fiéis e a edificação da comunidade cristã
. Tal actividade constitui um desenvolvimento peculiar do poder de governo, finalizado
ao cuidado espiritual do povo de Deus , e está, por conseguinte, plenamente inserido
no caminho e na missão da Igreja. Daí que o ofício judicial é uma diaconia real,
ou seja, um serviço ao Povo de Deus, em vista à consolidação da plena comunhão entre
os fiéis individuais, e entre eles e o corpo eclesial. Em seguida o Papa traçou
um breve perfil do juiz eclesiástico. Antes de tudo o perfil humano: ao juiz, disse
o Papa Francisco, se exige uma maturidade humana que se exprime na serenidade do julgamento
e no desapego de opiniões pessoais. Também faz parte da maturidade humana a capacidade
de mergulhar na mentalidade e nas legítimas aspirações da comunidade em que o serviço
se realiza, para evitar de praticar uma justiça legalista e abstracta, mas sim adaptada
às exigências da realidade concreta. Para tal ele não se contentará com um conhecimento
superficial da realidade das pessoas que aguardam o seu julgamento, mas advertirá
a necessidade de ir ao fundo na situação das partes em causa, e estudar em profundidade
as actas e todos os elementos úteis para o julgamento. O Papa também falou do aspecto
judiciário. Para além dos requisitos de doutrina jurídica e teológica, no exercício
do seu ministério o juiz se caracteriza pela perícia no direito, a objectividade no
julgamento e a equidade, julgando com equidistância imperturbável e imparcial. Na
sua actividade também é guiado pela intenção de tutelar a verdade, respeitando a lei,
sem deixar para trás a delicadeza e a humanidade próprias do pastor de almas. Um
terceiro aspecto no perfil do juiz eclesiástico é o perfil pastoral. Como expressão
da preocupação pastoral do Papa e dos bispos, ao juiz se pede não apenas uma competência
comprovada, mas também um verdadeiro espírito de serviço. Ele é o servidor da justiça,
chamado para tratar e julgar a condição dos fiéis que confiantes se dirigem a ele,
imitando o Bom Pastor que cuida da ovelha ferida. Para isto é animado pela caridade
pastoral, aquela caridade que Deus derramou nos nossos corações mediante o Espírito
Santo que nos foi dado" (Rm 5:5) e é o vínculo da perfeição e, portanto, também alma
da função do juiz eclesiástico. Por último o Papa Francisco recordou aos juízes
e operadores do Tribunal da Rota Romana, que o seu ministério é um serviço peculiar
ao Deus Amor que está perto de cada pessoa e que, no exercício da sua missão, eles
nunca devem esquecer que são essencialmente pastores e que por trás de cada prática,
cada posição, cada causa, existem pessoas que aguardam justiça – concluiu o Papa.