Cardeal Koch: "As divisões não correspondem à vontade de Cristo. Devemos superá-las
com urgência"
Cidade do Vaticano (RV) - Celebra-se no Hemisfério Norte, de 18 a 25 de janeiro,
a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que neste ano tem por tema "Será que
Cristo está dividido?". (No Hemisfério Sul é celebrada entre a Ascensão do Senhor
e a Solenidade de Pentecostes - neste ano entre 1° e 8 de junho). Na sexta-feira (17)
o Papa Francisco, ao receber em audiência uma delegação ecumênica da Finlândia, encorajou-os
"a não desistir nunca" dos "esforços ecumênicos, fiéis àquilo que Jesus pediu ao Pai:
que todos sejam um!". A Rádio Vaticano entrevistou o Presidente do Pontifício Conselho
para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch, sobre o significado desta
Semana:
R:"Eu penso que o tema representa um particular desafio:
é tirado da Primeira Carta aos Coríntios e é precedido pelo que diz Paulo: "Um diz
eu sou de Pedro, o outro, eu sou de Apolo" e depois segue a pergunta: "Cristo foi
dividido?". Obviamente, Cristo nunca poderá ser dividido, nem mesmo o seu corpo poderá
ser dividido; mas na história verificaram-se tantas cisões, tanta separações. Esta
pergunta provocatória, portanto, deve continuar a colocar no centro do ecumenismo
que as separações não podem corresponder à vontade de Cristo, e que devemos superá-las
com urgência. Desde criança sempre me tocou muito, na história da Paixão, que os soldados
romanos dividiram tudo que era do Senhor, exceto as vestes. Não as quiseram dividir,
mas deixá-las inteiras; assim, também elas tornaram-se, na história da Igreja, sinal
da unidade da Igreja. Tocou-me, depois, o fato de que nós cristãos fizemos, ao invés
disto, aquilo que os soldados não fizeram: rasgamos as vestes do Senhor. Será necessário
tanto trabalho ainda para juntá-las".
RV: O que o senhor poderia nos
dizer sobre o diálogo entre a Igreja Católica e os irmãos das Igrejas Ortodoxas?
R:"Devemos distinguir o diálogo do amor, isto é, as relações de amizade e de colaboração
e de fraternidade seguem muito bem com muitas Igrejas Ortodoxas; eu mesmo visitei,
em dezembro passado, a Romênia e a Rússia e mantive contatos com as Igrejas Ortodoxas.
No que diz respeito ao diálogo teológico, infelizmente, não se realizou mais nenhuma
assembléia plenária desde 2010, mas estamos preparando a próxima assembléia geral
a ser realizada na Sérvia, no outono. Recentemente verificou-se um fato que trouxe
dificuldades a este diálogo, que é o documento que o Patriarcado russo Ortodoxo publicou
sobre o primado, que na realidade é uma tomada de posição no que diz respeito ao diálogo
que se desenvolve com todas as Igrejas Ortodoxas. Agora devemos recomeçar a buscar
um caminho, dentro desta comissão. Ao mesmo tempo, um Metropolita Greco-ortodoxo tomou
posição sobre este documento, abrindo assim um diálogo intra-ortodoxo sobre o primado
e me parece que isto seja positivo".
RV: E qual é a situação em relação
às Igrejas da Reforma?
R:"Naturalmente, a Reforma é um fenômenos
de muitas facetas e tem muitos aspectos diferenciados. Acredito que a Reforma tenha
sido diferente na Suiça em relação à Alemanha; a Reforma nos países nórdicos foi mais
diferente ainda. De fato, naqueles países nunca houve movimentos populares, mas uma
imposição do rei. Então, colocar tudo isto sob a expressão "Reforma 2017" não é algo
simples. No entanto, no outono passado, realizou-se um congresso internacional em
Zurique para a preparação comum da memória da Reforma dentro do mundo protestante,
e penso que isto seja muito positivo".
RV: É competência do Pontifício
Conselho, o diálogo com o judaísmo. Este tema será acrescentado à Semana de Oração?
R:
"O grande teólogo católico Erich Przywara disse que a primeira grande separação
que vivemos no cristianismo foi entre a sinagoga e a igreja e por isto a reconciliação
entre judaísmo e cristianismo faz parte dos esforços ecumênicos da Igreja Católica".
(JE)