Papa aos migrantes e refugiados: "não percais a esperança num mundo melhor". Foi no
Angelus, ocasião em que reflectiu sobre o significado de Cordeiro de Deus
Numa Praça
de S. Pedro como de costume repleta de fiéis das mais diversas proveniências o Santo
Padre dedicou as suas reflexões, antes da oração mariana do Angelus, ao evangelho
deste domingo do Tempo comum. Com a festa do Baptismo do Senhor, celebrada no Domingo
passado – disse - entrámos no tempo litúrgico chamado "comum". É que neste tempo o
Evangelho nos apresenta a cena do encontro entre Jesus e João Baptista nas margens
do rio Jordão, encontro narrado por um testemunha ocular, João Evangelista que, antes
de ser discípulo de Jesus, foi discípulo de João Baptista, juntamente com o seu irmão
Tiago, com Simão e André, todos da Galileia, todos pescadores. João Baptista viu Jesus
que avançava por entre a multidão e, inspirado por Deus, reconheceu n’Ele o Enviado
de Deus, e por isso o indicou com as palavras: "Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que
tira o pecado do mundo! ".
O verbo tirar neste contexto – explicou o Papa Francisco
- significa literalmente "levantar", "carregar sobre si". E acrescentou:
“Jesus
veio ao mundo com uma missão específica: libertá-lo da escravidão do pecado, carregando
sobre si os pecados da humanidade. De que maneira? Amando. Não existe outro modo de
vencer o mal e o pecado, senão o amor que leva ao dom da própria vida para os outros.
No testemunho de João Baptista, Jesus tem os traços do Servo do Senhor, que "carregou
sobre si os nossos sofrimentos, tomou para si as nossas dores" até à morte na cruz.
Ele é o verdadeiro cordeiro pascal, que mergulha no rio do nosso pecado, para nos
purificar”.
O Papa Francisco continuou dizendo que no Novo Testamento,
a palavra "cordeiro" é usada várias vezes e sempre em referência a Jesus; uma imagem
bastante surpreendente, na medida em que o cordeiro não se caracteriza pela força
e robustez ao ponto de carregar sobre os seus ombros um fardo tão pesado… O cordeiro
é símbolo de obediência, docilidade, e de amor indefeso, que vai até ao sacrifício
de si. O cordeiro não é dominador, mas dócil; não é agressivo, mas pacífico; não mostra
as garras ou os dentes diante de qualquer ataque, mas suporta e é submisso – insistiu
o Papa Francisco, pondo em relevo o significado desta imagem para nós, hoje:
"O
que significa para a Igreja, para nós, hoje, ser discípulos de Jesus, o Cordeiro de
Deus? Significa colocar no lugar da malícia a inocência, no lugar da força o amor,
no lugar do orgulho a humildade, no lugar do prestígio o serviço. [É
um grande trabalho este, e nós cristãos devemos fazer isto …]. Ser
discípulos do Cordeiro significa não viver como uma "cidadela sitiada", mas como uma
cidade colocada sobre um monte, aberta, acolhedora e solidária. Significa não assumir
atitudes de fechamento, mas propor o Evangelho a todos, testemunhar com a nossa vida
que seguir a Jesus nos faz mais livres e mais alegres.”
Depois da oração
das Ave marias, o Santo Padre recordou o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que
hoje se celebra sob o tema "Migrantes e refugiados: rumo a um mundo melhor", e dirigiu
uma saudação especial aos representantes das diferentes comunidades étnicas presentes
na Praça (entre as quais a cabo-verdiana), às comunidades católicas de Roma e a todos
os migrantes e refugiados:
“Queridos amigos, vós estais perto do coração
da Igreja, porque a Igreja é um povo que caminha em direcção ao Reino de Deus, que
Jesus Cristo trouxe para o nosso meio. Não percais a esperança por um mundo melhor!
Desejo que vivais em paz nos países que vos acolhem, mantendo os valores das vossas
culturas de origem”.
O Papa saudou também de modo particular e agradeceu
os Missionários/as de S. Carlos e a todos os que se ocupam dos migrantes:
“Gostaria
de agradecer aqueles que trabalham com os migrantes, para acolhê-los e acompanhá-los,
nos seus momentos difíceis, para defendê-los daqueles que o Beato Scalabrini definia
“os mercantes de carne humana”, que querem escravizar os migrantes, de modo particular
quero agradecer a Congregação dos Missionários de S. Carlos, os Padres e as Irmãs
Scalabrinianos, que tanto bem fazem à Igreja, e se fazem migrantes com os migrantes.
Neste momento pensemos em tantos migrantes, tantos, tantos refugiados, nos seus sofrimentos,
a sua vida, tantas vezes sem emprego, sem documentos, tanta dor”.
E
o Papa propôs um momento de oração pelos migrantes e refugiados que vivem em situações
graves e difíceis.
O Papa Francisco terminou com uma saudação a todos fiéis
de diferentes paróquias da Itália e de outros países, bem como as associações e aos
vários grupos presentes na Praça de S. Pedro, desejando-lhes um bom domingo.