2014-01-13 11:43:05

Favorecer uma cultura do encontro e da paz, valorizando família, idosos e jovens: Papa Francisco ao Corpo Diplomático


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Segundo uma tradição consolidada, o Santo Padre recebeu nesta segunda-feira todo o Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé para a apresentação de votos de Ano Novo. Uma ocasião para o Papa Francisco apresentar algumas reflexões sobre a situação actual do mundo, neste início de 2014. Reflexões que - disse – “brotam primariamente do seu coração de pastor, atento às alegrias e sofrimentos da humanidade”.
Na primeira parte de um extenso e denso discurso, o Papa chamou a atenção para a situação da família, dos idosos e dos jovens, pedindo que se favoreça “uma cultura do encontro”.
Citando a sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, Papa Francisco sublinhou que «a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família», a qual, «por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor» e contribuir para fazer maturar aquele espírito de serviço e partilha que edifica a paz.
O Santo Padre recordou que, infelizmente, “aumenta o número das famílias divididas e dilaceradas não só pela frágil consciência do sentido de pertença que caracteriza o mundo actual, mas também pelas difíceis condições em que muitas delas são forçadas a viver, chegando ao ponto de lhes faltarem os meios de subsistência. Por isso – advertiu - tornam-se necessárias políticas adequadas que apoiem, promovam e consolidem a família.
Passando então à situação dos idosos e jovens, o Papa Francisco lembrou que os primeiros são muitas vezes “considerados um peso, enquanto os jovens não vêem à sua frente perspectivas seguras para a sua vida”. Ora – sublinhou – “idosos e jovens são a esperança da humanidade: os primeiros trazem a sabedoria da experiência, enquanto os segundos nos abrem ao futuro, impedindo de nos fecharmos em nós mesmos.”
“Sábia opção é não marginalizar os idosos da vida social, para se manter viva a memória dum povo. De igual modo, é bom investir nos jovens, com iniciativas adequadas que os ajudem a encontrar trabalho e fundar um lar doméstico. É preciso não apagar o seu entusiasmo!”
O Papa evocou, a este propósito, a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, onde encontrou – disse – tantos jovens contentes, cheios de esperança e de expectativas, com desejo de se abrirem aos outros.
“O egoísmo e o isolamento criam sempre uma atmosfera asfixiante e pesada, que mais cedo ou mais tarde acaba por estiolar e sufocar. Ao contrário, serve um compromisso comum de todos para favorecer uma cultura do encontro, porque só quem consegue ir ao encontro dos outros é capaz de dar fruto, criar vínculos de comunhão, irradiar alegria, construir a paz”.
A partir daqui, o Santo Padre passou em resenha os pontos do globo que se confrontam com problemas mais sérios de justiça e de paz. Começando pela Síria, Papa Francisco assegurou que continua a esperar que tenha finalmente termo o conflito na Síria.
“A solicitude por aquela amada população e o desejo de evitar o agravamento da violência levaram-se a proclamar um dia de jejum e oração, em Setembro passado. Por vosso intermédio, agradeço de coração sincero a quantos nos vossos países, autoridades públicas e pessoas de boa vontade, se associaram a esta iniciativa.”
Agora requer-se uma renovada vontade política comum para pôr fim ao conflito – advertiu o Papa, referindo expressamente a Conferência Genebra 2, convocada para o próximo dia 22, e a necessidade imperiosa de que se respeite plenamente o direito humanitário.
“Não se pode aceitar que seja atingida a população civil inerme, sobretudo as crianças. Encorajo todos a favorecer e garantir, de todos os modos possíveis, a assistência necessária e urgente da população, sem esquecer o louvável esforço dos países, especialmente Líbano e Jordânia, que generosamente acolheram no seu território inúmeros refugiados sírios.”
Ainda no Médio Oriente, o Papa evocou as dificuldades políticas com que se confrontam o Líbano e o Egipto e congratulou-se com os progressos no diálogo com o Irão sobre a questão nuclear.
“Por toda a parte, a via para resolver as questões em aberto há-de ser o caminho diplomático do diálogo.
É a estrada-mestra já apontada, com lúcida clareza, pelo Papa Bento XV, quando convidava os responsáveis das nações europeias a fazerem prevalecer «a força moral do direito» sobre a força «material das armas», para acabar com aquele «inútil massacre» que foi a I Guerra Mundial, cujo início teve lugar há cem anos.
É preciso «a coragem de ultrapassar a superfície conflitual» para considerar os outros na sua dignidade mais profunda, a fim de que a unidade prevaleça sobre o conflito e seja «possível desenvolver uma comunhão nas diferenças.»
Não faltou no discurso do Santo Padre ao Corpo Diplomático uma referência às negociações de paz entre israelitas e palestinianos, assim como à sua “preocupação incessante” pelo êxodo dos cristãos do Médio Oriente e do Norte de África.
“O desejo deles é continuarem a fazer parte da colectividade social, política e cultural dos países que ajudaram a construir, e anelam concorrer para o bem comum das sociedades onde querem viver plenamente inseridos como artífices de paz e reconciliação.
Também noutras partes da África, os cristãos são chamados a dar testemunho do amor e da misericórdia de Deus. Não se deve jamais desistir de praticar o bem, mesmo quando é árduo e se padecem actos de intolerância, se não de verdadeira e própria perseguição.”
Neste contexto o Santo Padre, mencionou expressamente as violências na Nigéria e na República Centro-Africana.
“Ao mesmo tempo que asseguro a minha oração pelas vítimas e os numerosos desalojados, constrangidos a viver em condições de indigência, espero que a solicitude da Comunidade Internacional contribua para fazer cessar as violências, restaurar o estado de direito e garantir a chegada das ajudas humanitárias mesmo nas zonas mais remotas do país. Por sua vez, a Igreja Católica continuará a assegurar a sua presença e colaboração, empenhando-se generosamente por fornecer toda a ajuda possível à população e sobretudo por reconstruir um clima de reconciliação e de paz entre todas as componentes da sociedade.”
“Reconciliação e paz aparecem como prioridades fundamentais também noutras partes do continente africano” – sublinhou ainda o Papa Francisco, mencionando o Mali e o Sudão do Sul.
Dirigindo o seu olhar à Ásia, referiu expressamente ao povo coreano e à necessidade de que se encontrem possíveis soluções para a Coreia, segundo o espírito de convivência pacífica tradicional no continente:
“a Ásia tem uma longa história de convivência pacífica entre as suas diversas componentes civis, étnicas e religiosas. É preciso incentivar tal respeito mútuo, sobretudo perante alguns sinais preocupantes do seu enfraquecimento, nomeadamente nas atitudes, em número crescente, de fechamento que, apoiando-se sobre motivos religiosos, tendem a privar os cristãos da sua liberdade e pôr em risco a convivência civil. Inversamente, a Santa Sé olha com viva esperança os sinais de abertura que provêm de países de grande tradição religiosa e cultural, com quem ela deseja colaborar para a edificação do bem comum.”

Na Secção "Mensagens e Documentos", encontrará o texto integral, em português, do discurso do Santo Padre, pronunciado em italiano - RealAudioMP3








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