Favorecer uma cultura do encontro e da paz, valorizando família, idosos e jovens:
Papa Francisco ao Corpo Diplomático
Segundo uma tradição
consolidada, o Santo Padre recebeu nesta segunda-feira todo o Corpo Diplomático acreditado
junto da Santa Sé para a apresentação de votos de Ano Novo. Uma ocasião para o Papa
Francisco apresentar algumas reflexões sobre a situação actual do mundo, neste início
de 2014. Reflexões que - disse – “brotam primariamente do seu coração de pastor, atento
às alegrias e sofrimentos da humanidade”. Na primeira parte de um extenso e denso
discurso, o Papa chamou a atenção para a situação da família, dos idosos e dos jovens,
pedindo que se favoreça “uma cultura do encontro”. Citando a sua Mensagem para
o Dia Mundial da Paz, Papa Francisco sublinhou que «a fraternidade se começa a aprender
habitualmente no seio da família», a qual, «por vocação, deveria contagiar o mundo
com o seu amor» e contribuir para fazer maturar aquele espírito de serviço e partilha
que edifica a paz. O Santo Padre recordou que, infelizmente, “aumenta o número
das famílias divididas e dilaceradas não só pela frágil consciência do sentido de
pertença que caracteriza o mundo actual, mas também pelas difíceis condições em que
muitas delas são forçadas a viver, chegando ao ponto de lhes faltarem os meios de
subsistência. Por isso – advertiu - tornam-se necessárias políticas adequadas que
apoiem, promovam e consolidem a família. Passando então à situação dos idosos e
jovens, o Papa Francisco lembrou que os primeiros são muitas vezes “considerados um
peso, enquanto os jovens não vêem à sua frente perspectivas seguras para a sua vida”.
Ora – sublinhou – “idosos e jovens são a esperança da humanidade: os primeiros trazem
a sabedoria da experiência, enquanto os segundos nos abrem ao futuro, impedindo de
nos fecharmos em nós mesmos.” “Sábia opção é não marginalizar os idosos da vida
social, para se manter viva a memória dum povo. De igual modo, é bom investir nos
jovens, com iniciativas adequadas que os ajudem a encontrar trabalho e fundar um lar
doméstico. É preciso não apagar o seu entusiasmo!” O Papa evocou, a este propósito,
a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, onde encontrou – disse – tantos
jovens contentes, cheios de esperança e de expectativas, com desejo de se abrirem
aos outros. “O egoísmo e o isolamento criam sempre uma atmosfera asfixiante e
pesada, que mais cedo ou mais tarde acaba por estiolar e sufocar. Ao contrário, serve
um compromisso comum de todos para favorecer uma cultura do encontro, porque só quem
consegue ir ao encontro dos outros é capaz de dar fruto, criar vínculos de comunhão,
irradiar alegria, construir a paz”. A partir daqui, o Santo Padre passou em resenha
os pontos do globo que se confrontam com problemas mais sérios de justiça e de paz.
Começando pela Síria, Papa Francisco assegurou que continua a esperar que tenha finalmente
termo o conflito na Síria. “A solicitude por aquela amada população e o desejo
de evitar o agravamento da violência levaram-se a proclamar um dia de jejum e oração,
em Setembro passado. Por vosso intermédio, agradeço de coração sincero a quantos nos
vossos países, autoridades públicas e pessoas de boa vontade, se associaram a esta
iniciativa.” Agora requer-se uma renovada vontade política comum para pôr fim ao
conflito – advertiu o Papa, referindo expressamente a Conferência Genebra 2, convocada
para o próximo dia 22, e a necessidade imperiosa de que se respeite plenamente o direito
humanitário. “Não se pode aceitar que seja atingida a população civil inerme, sobretudo
as crianças. Encorajo todos a favorecer e garantir, de todos os modos possíveis, a
assistência necessária e urgente da população, sem esquecer o louvável esforço dos
países, especialmente Líbano e Jordânia, que generosamente acolheram no seu território
inúmeros refugiados sírios.” Ainda no Médio Oriente, o Papa evocou as dificuldades
políticas com que se confrontam o Líbano e o Egipto e congratulou-se com os progressos
no diálogo com o Irão sobre a questão nuclear. “Por toda a parte, a via para resolver
as questões em aberto há-de ser o caminho diplomático do diálogo. É a estrada-mestra
já apontada, com lúcida clareza, pelo Papa Bento XV, quando convidava os responsáveis
das nações europeias a fazerem prevalecer «a força moral do direito» sobre a força
«material das armas», para acabar com aquele «inútil massacre» que foi a I Guerra
Mundial, cujo início teve lugar há cem anos. É preciso «a coragem de ultrapassar
a superfície conflitual» para considerar os outros na sua dignidade mais profunda,
a fim de que a unidade prevaleça sobre o conflito e seja «possível desenvolver uma
comunhão nas diferenças.» Não faltou no discurso do Santo Padre ao Corpo Diplomático
uma referência às negociações de paz entre israelitas e palestinianos, assim como
à sua “preocupação incessante” pelo êxodo dos cristãos do Médio Oriente e do Norte
de África. “O desejo deles é continuarem a fazer parte da colectividade social,
política e cultural dos países que ajudaram a construir, e anelam concorrer para o
bem comum das sociedades onde querem viver plenamente inseridos como artífices de
paz e reconciliação. Também noutras partes da África, os cristãos são chamados
a dar testemunho do amor e da misericórdia de Deus. Não se deve jamais desistir de
praticar o bem, mesmo quando é árduo e se padecem actos de intolerância, se não de
verdadeira e própria perseguição.” Neste contexto o Santo Padre, mencionou expressamente
as violências na Nigéria e na República Centro-Africana. “Ao mesmo tempo que asseguro
a minha oração pelas vítimas e os numerosos desalojados, constrangidos a viver em
condições de indigência, espero que a solicitude da Comunidade Internacional contribua
para fazer cessar as violências, restaurar o estado de direito e garantir a chegada
das ajudas humanitárias mesmo nas zonas mais remotas do país. Por sua vez, a Igreja
Católica continuará a assegurar a sua presença e colaboração, empenhando-se generosamente
por fornecer toda a ajuda possível à população e sobretudo por reconstruir um clima
de reconciliação e de paz entre todas as componentes da sociedade.” “Reconciliação
e paz aparecem como prioridades fundamentais também noutras partes do continente africano”
– sublinhou ainda o Papa Francisco, mencionando o Mali e o Sudão do Sul. Dirigindo
o seu olhar à Ásia, referiu expressamente ao povo coreano e à necessidade de que se
encontrem possíveis soluções para a Coreia, segundo o espírito de convivência pacífica
tradicional no continente: “a Ásia tem uma longa história de convivência pacífica
entre as suas diversas componentes civis, étnicas e religiosas. É preciso incentivar
tal respeito mútuo, sobretudo perante alguns sinais preocupantes do seu enfraquecimento,
nomeadamente nas atitudes, em número crescente, de fechamento que, apoiando-se sobre
motivos religiosos, tendem a privar os cristãos da sua liberdade e pôr em risco a
convivência civil. Inversamente, a Santa Sé olha com viva esperança os sinais de abertura
que provêm de países de grande tradição religiosa e cultural, com quem ela deseja
colaborar para a edificação do bem comum.”
Na Secção "Mensagens e Documentos",
encontrará o texto integral, em português, do discurso do Santo Padre, pronunciado
em italiano -