O nosso caminho de fé é ligado ao de Maria, "Mãe de Deus" e nossa Mãe: Papa Francisco
na Missa de 1 Janeiro
A iniciar o novo
ano, a Igreja latina celebra desde tempos imemorais a grande solenidade de Santa Maria
Mãe de Deus. Seguindo a tradição, o Papa Francisco preside, na basílica de São Pedro,
à celebração eucarística, a partir das 10 horas, que pode ser seguida em directo,
neste site, também com comentários em português. A missa é com celebrada por grande
número de padres e um certo número de bispos e cardeais presentes em Roma. Este
primeiro de Janeiro é também o quadragésimo sétimo Dia Mundial da Paz, instituído
pelo Papa Paulo VI. Tema proposto desta vez: Fraternidade, fundamento e caminho para
a paz.
A homilia da Missa foi toda ela centrada na figura de Maria, Mãe de
Deus, partindo das leituras proclamadas, a começar pela primeira, do Livro dos Números,
com a bênção que Deus sugerira a Moisés, para que fosse invocada sobre todo o povo.
“É significativo ouvir estas palavras de bênção no início de um novo ano - observou
o Papa:
“São palavras que dão força, coragem e esperança; não uma esperança
ilusória, assente em frágeis promessas humanas, nem uma esperança ingénua que imagina
melhor o futuro, simplesmente porque é futuro.”
É uma esperança que tem a
sua razão de ser precisamente na bênção de Deus; uma bênção que contém… os votos da
Igreja para cada um de nós, repletos da protecção amorosa do Senhor, da sua ajuda
providente. Ora – prosseguiu Papa Francisco – os votos contidos nesta bênção realizaram-se
plenamente numa mulher, Maria, enquanto destinada a tornar-Se a Mãe de Deus, e realizaram-se
n’Ela antes de qualquer outra criatura.
“Mãe de Deus! Este é o título principal
e essencial de Nossa Senhora. Trata-se duma qualidade, duma função que a fé do povo
cristão, na sua terna e genuína devoção à Mãe celeste, desde sempre Lhe reconheceu.”
Papa
Francisco evocou, a este propósito, aquele momento importante da história da Igreja
Antiga que foi o Concílio de Éfeso, no qual se definiu com autoridade a maternidade
divina da Virgem. Esta verdade da maternidade divina de Maria – recordou – ecoou em
Roma, onde, pouco depois, se construiu a Basílica de Santa Maria Maior, o primeiro
santuário mariano de Roma e de todo o Ocidente, no qual se venera a imagem da Mãe
de Deus – a Theotokos – sob o título de Salus populi romani. Diz-se que os habitantes
de Éfeso, durante o Concílio, se teriam congregado aos lados da porta da basílica
onde estavam reunidos os Bispos e gritavam: «Mãe de Deus!» Os fiéis, pedindo que se
definisse oficialmente este título de Nossa Senhora, demonstravam reconhecer a sua
maternidade divina. “É a atitude espontânea e sincera dos filhos, que conhecem
bem a sua Mãe, porque A amam com imensa ternura.”
Mas é também o exercício
do “sensus fidei” unânime do santo e fiel povo de Deus, que , na unidade, nunca se
engana – acrescentou o Papa, logo prosseguindo:
“Desde sempre Maria está presente
no coração, na devoção e sobretudo no caminho de fé do povo cristão.”
O nosso
itinerário de fé é igual ao de Maria; por isso, A sentimos particularmente próxima
de nós! – sublinhou o Papa. O nosso caminho de fé está indissoluvelmente ligado a
Maria, desde o momento em que Jesus, quando estava para morrer na cruz, no-La deu
como Mãe, dizendo: «Eis a tua mãe!»
“Estas palavras têm o valor dum testamento,
e dão ao mundo uma Mãe. Desde então, a Mãe de Deus tornou-Se também nossa Mãe! Na
hora em que a fé dos discípulos se ia quebrantando com tantas dificuldades e incertezas,
Jesus confiava-lhes Aquela que fora a primeira a acreditar e cuja fé não desfaleceria
jamais. E a «mulher» torna-Se nossa Mãe, no momento em que perde o Filho divino.
O seu coração ferido dilata-se para dar espaço a todos os homens, bons e maus; e ama-os
como os amava Jesus.”
A Mãe do Redentor caminha diante de nós e sempre nos
confirma na fé, na vocação e na missão. Com o seu exemplo de humildade e disponibilidade
à vontade de Deus, ajuda-nos a traduzir a nossa fé num anúncio, jubiloso e sem fronteiras,
do Evangelho – observou ainda o Papa Francisco, quase a concluir.
“A Ela confiamos
o nosso itinerário de fé, os desejos do nosso coração, as nossas necessidades, as
carências do mundo inteiro, especialmente a sua fome e sede de justiça e de paz...
e de Deus; e invocamo-La todos juntos: Santa Mãe de Deus! Santa Mãe de Deus! Santa
Mãe de Deus!”
Como habitualmente nestas celebrações papais, usaram-se diferentes
línguas nas leituras e na oração dos fiéis: - um jovem chinês
rezou pela paz entre os povos e nações, invocando Jesus, Príncipe da paz, para que
se vençam todas as divisões, ódios e rancores; - uma mãe de família rezou, em espanhol,
pelas mulheres e por todas as mães, chamadas a gerar, defender e promover a vida; -
em árabe, recordou-se o ano novo, para que Jesus eduque todos a viver activamente
na história, sempre orientados para a Vida eterna; - finalmente, em português,
rezou-se por toda a assembleia presente…
Eis o texto integral da homilia:
Amados
Irmãos e Irmãs, A primeira leitura propôs-nos a antiga
súplica de bênção que Deus sugerira a Moisés, para que a ensinasse a Aarão e seus
filhos: «O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face
e te seja favorável. O Senhor dirija para ti o seu olhar e te conceda a paz» (Nm 6,
24-26). É muito significativo ouvir estas palavras de bênção no início dum novo ano:
acompanharão o nosso caminho neste tempo que se abre diante de nós. São palavras que
dão força, coragem e esperança; não uma esperança ilusória, assente em frágeis promessas
humanas, nem uma esperança ingénua que imagina melhor o futuro, simplesmente porque
é futuro. Esta esperança tem a sua razão de ser precisamente na bênção de Deus; uma
bênção que contém os votos maiores, os votos da Igreja para cada um de nós, repletos
da protecção amorosa do Senhor, da sua ajuda providente.
Os
votos contidos nesta bênção realizaram-se plenamente numa mulher, Maria, enquanto
destinada a tornar-Se a Mãe de Deus, e realizaram-se n’Ela antes de qualquer outra
criatura.
Mãe de Deus! Este é o título principal
e essencial de Nossa Senhora. Trata-se duma qualidade, duma função que a fé do povo
cristão, na sua terna e genuína devoção à Mãe celeste, desde sempre Lhe reconheceu. Lembremos aquele momento importante da história da Igreja Antiga
que foi o Concílio de Éfeso, no qual se definiu com autoridade a maternidade divina
da Virgem. Esta verdade da maternidade divina de Maria ecoou em Roma, onde, pouco
depois, se construiu a Basílica de Santa Maria Maior, o primeiro santuário mariano
de Roma e de todo o Ocidente, no qual se venera a imagem da Mãe de Deus – a Theotokos
– sob o título de Salus populi romani. Diz-se que os habitantes de Éfeso, durante
o Concílio, se teriam congregado aos lados da porta da basílica onde estavam reunidos
os Bispos e gritavam: «Mãe de Deus!» Os fiéis, pedindo que se definisse oficialmente
este título de Nossa Senhora, demonstravam reconhecer a sua maternidade divina. É
a atitude espontânea e sincera dos filhos, que conhecem bem a sua Mãe, porque A amam
com imensa ternura. Mais ainda: é o sensus fidei do
santo fiel Povo de Deus, que nunca - na sua unidade - nunca se engana.
Desde
sempre Maria está presente no coração, na devoção e sobretudo no caminho de fé do
povo cristão. «A Igreja caminha no tempo (...). Mas, nesta caminhada, a Igreja procede
seguindo as pegadas do itinerário percorrido pela Virgem Maria» (JOÃO PAULO II, Enc.
Redemptoris Mater, 2). O nosso itinerário de fé é igual ao de Maria; por isso, A sentimos
particularmente próxima de nós! No que diz respeito à fé, que é o fulcro da vida cristã,
a Mãe de Deus partilhou a nossa condição, teve de caminhar pelas mesmas estradas,
às vezes difíceis e obscuras, trilhadas por nós, teve de avançar pelo «caminho da
fé» (CONC. ECUM. VAT. II, Const. Lumen gentium, 58).
O
nosso caminho de fé está indissoluvelmente ligado a Maria, desde o momento em que
Jesus, quando estava para morrer na cruz, no-La deu como Mãe, dizendo: «Eis a tua
mãe!» (Jo 19, 27). Estas palavras têm o valor dum testamento, e dão ao mundo uma Mãe.
Desde então, a Mãe de Deus tornou-Se também nossa Mãe! Na hora em que a fé dos discípulos
se ia quebrantando com tantas dificuldades e incertezas, Jesus confiava-lhes Aquela
que fora a primeira a acreditar e cuja fé não desfaleceria jamais. E a «mulher» torna-Se
nossa Mãe, no momento em que perde o Filho divino. O seu coração ferido dilata-se
para dar espaço a todos os homens, bons e maus; e ama-os como os amava Jesus. A mulher
que, nas bodas de Caná da Galileia, dera a sua colaboração de fé para a manifestação
das maravilhas de Deus na mundo, no Calvário mantém acesa a chama da fé na ressurreição
do Filho, e comunica-a aos outros com carinho maternal. Assim Maria torna-Se fonte
de esperança e de alegria verdadeira.
A Mãe do
Redentor caminha diante de nós e sempre nos confirma na fé, na vocação e na missão.
Com o seu exemplo de humildade e disponibilidade à vontade de Deus, ajuda-nos a traduzir
a nossa fé num anúncio, jubiloso e sem fronteiras, do Evangelho. Deste modo, a nossa
missão será fecunda, porque está modelada pela maternidade de Maria. A Ela confiamos
o nosso itinerário de fé, os desejos do nosso coração, as nossas necessidades, as
carências do mundo inteiro, especialmente a sua fome e sede de justiça e de paz; e
invocamo-La todos juntos: Santa Mãe de Deus!