Rio de Janeiro (RV) - A oitava de Natal é rica de símbolos e celebrações. Uma
delas é a da Solenidade da Sagrada Família. Como família de Deus, a Igreja Católica,
volta reverente, seu olhar para a Família Santa para pedir a proteção e graça divina
em favor da família humana. Se no Natal o homem e a mulher se divinizam pela encarnação
do Redentor, a primeira vocação da família é ser espelho da divindade que provém da
sacra família Divina.
Nos tempos hodiernos, num mundo muitas vezes estranho
e até hostil à fé, as famílias crentes são de primordial importância, como focos de
fé viva e irradiante. É por isso que o Concílio Vaticano II chama à família, segundo
uma antiga expressão, de Igreja Doméstica. É no seio da família que os pais são, "pela
palavra e pelo exemplo [...], os primeiros arautos da fé para os seus filhos, ao serviço
da vocação própria de cada um e muito especialmente da vocação consagrada".
Relembramos
de tantos problemas porque passa a instituição familiar e o bombardeamento dos grupos
de pressão contrários a sacralidade da família, a indissolubilidade sacramental do
matrimônio, as pressões pelas outras formas de família! A Sagrada Família nos inspira
a trabalhar pela família aberta à vida humana, comprometida com o amor, a unidade,
a piedade, o perdão, a paciência, as esperanças e as aspirações de tempos novos. Sabemos
que enfrentamos o trabalho, os sofrimentos, as dificuldades sociais, culturais e os
dissabores de todas as famílias brasileiras. Mas com tudo isso queremos oferecer nossos
sonhos e lutas como sacrifício espiritual ao nosso Pai celeste, mediante o seu Filho
Jesus Cristo e em união com o sacrifício de Cristo na cruz. Desejo também rezar pelas
famílias sabendo que acreditamos na força do amor para desenraizar o mal e o eliminar
dos nossos corações. Nesse sentido a Igreja quer pôr em prática o ensinamento de São
Paulo "colocando acima de tudo a caridade", “de maneira que a paz de Cristo possa
reinar nos vossos corações" (cf. Col 3, 14-15).
No plano do Criador, a família
é uma comunidade de pessoas. Por conseguinte a forma fundamental da vida e do amor
na família consiste no respeito de cada pessoa, de cada um dos membros da família.
Os esposos estimam-se e mantêm entre si mútuo respeito. Pais, respeitai a personalidade
singular dos vossos filhos. Filhos, prestai aos vossos pais obediente respeito. Todos
os membros da família devem sentir-se aceitos e respeitados porque devem sentir-se
amados. De modo particular os anciãos e os doentes. Esposos e esposas, amai-vos reciprocamente;
sacrificai-vos um pelo outro e pelos vossos filhos.
Recordamos com carinho
as palavras na missa de encerramento do Encontro Mundial das Famílias, realizado em
nossa Arquidiocese, quando o Beato João Paulo II afirmou: "Pais e famílias do mundo
inteiro, deixai que vo-lo diga: Deus vos chama à santidade! Ele mesmo escolheu-nos
"por Jesus Cristo, antes da criação do mundo - nos diz S. Paulo - para que sejamos
santos na sua presença" (Ef 1, 4). Ele vos ama loucamente, Ele deseja a vossa felicidade,
mas quer que saibais conjugar sempre a fidelidade com a felicidade, pois não pode
haver uma sem a outra. Não deixeis que a mentalidade hedonista, a ambição e o egoísmo
entrem nos vossos lares. Sede generosos com Deus. Não poderia deixar de recordar,
mais uma vez, que a família está ao «serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e
agir, enquanto comunidade íntima de vida e de amor» (Familiaris consortio, 50). A
mútua doação abençoada por Deus, perpassada de fé, esperança e caridade, permitirá
alcançar a perfeição e a mútua santificação de cada um dos esposos. Servirá, em outras
palavras, como núcleo santificador da própria família, e de expansão da obra de evangelização
de todo o lar cristão. Queridos irmãos e irmãs, que grande tarefa tendes por diante!
Sede portadores de paz e de alegria no seio do lar; a graça eleva e aperfeiçoa o amor,
e com ele vos concede as virtudes familiares indispensáveis da humildade, do espírito
de serviço e de sacrifício, do afeto paterno e filial, do respeito e da mútua compreensão.
E, como o bem é por si mesmo difusivo, faço votos também de que a vossa adesão à pastoral
familiar seja, na medida das vossas possibilidades, um incentivo a irradiar generosamente
o dom que está em vós, primeiramente entre os filhos, depois àqueles casais - talvez
parentes e amigos - que estão afastados de Deus ou passam por momentos de incompreensão
ou de desconfiança".
O Santo Padre Francisco, em sua visita por ocasião da
JMJRio 2013, disse no Angelus da sacada de nossa Residência Arquiepiscopal, fazendo
memória de São Joaquim e Sant'Ana: "Olhando para o ambiente familiar, queria destacar
uma coisa: hoje, na festa de São Joaquim e Sant’Ana, no Brasil como em outros países,
se celebra a festa dos avós. Como os avós são importantes na vida da família, para
comunicar o patrimônio de humanidade e de fé que é essencial para qualquer sociedade!
E como é importante o encontro e o diálogo entre as gerações, principalmente dentro
da família. O Documento de Aparecida nos recorda: "Crianças e anciãos constroem o
futuro dos povos; as crianças porque levarão por adiante a história, os anciãos porque
transmitem a experiência e a sabedoria de suas vidas" (DAp 447). Esta relação, este
diálogo entre as gerações é um tesouro que deve ser conservado e alimentado! Nesta
Jornada Mundial da Juventude, os jovens querem saudar os avós. Eles saúdam os seus
avós com muito carinho e lhes agradecem pelo testemunho de sabedoria que nos oferecem
continuamente".
Aos voluntários da JMJ ele recordou que a vida do matrimônio
exige escolhas definitivas: “Alguns são chamados a se santificar constituindo uma
família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está
“fora de moda”. Está fora de moda? [Não…]. Na cultura do provisório, do relativo,
muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se
por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe
o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, eu
peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem
contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de
assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade. Eu tenho
confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”.
E tenham também a coragem de ser felizes!”
O Catecismo da Igreja Católica nos
ensina no seu número 1655 que: "Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família
de José e de Maria. A Igreja outra coisa não é senão a «família de Deus». Desde as
suas origens, o núcleo aglutinante da Igreja era, muitas vezes, constituído por aqueles
que, «com toda a sua casa», se tinham tornado crentes» (179). Quando se convertiam,
desejavam que também «toda a sua casa» fosse salva (180). Estas famílias, que passaram
a ser crentes, eram pequenas ilhas de vida cristã no meio dum mundo descrente".
Por
isso, dentro do contexto do ano da caridade arquidiocesano, que estamos iniciando
na Igreja do Rio, a família, Igreja Doméstica, é convidada a testemunhar a caridade.
Que o exemplo de pais e filhos que fecundados pela caridade de Cristo resplandeçam
e que nossas famílias sintam o calor oriundo da manjedoura e, vivendo o matrimônio
cristão, testemunhem a caridade que é o fruto da santidade.
Neste último sábado
do ano agradeci, no Santuário Arquidiocesano da Penha, os muitos acontecimentos e
importantes que vivemos em 2013. Louvamos a Deus pela JMJRio 2013, mas os frutos da
JMJRio 2013, devem ser iluminadores para a vivência da família.
Que a Sagrada
Família inspire todas as nossas famílias! Amém!
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ