Jales (RV) - Desta vez, a passagem de ano coincide, simbolicamente, com os
nove meses de pontificado do Papa Francisco. É o tempo de uma gestação. Foi um tempo
muito fecundo de iniciativas, que aos poucos vão dando forma ao novo pontificado.
Através
destas iniciativas, dá para perceber a intenção do Papa Francisco de ir abrindo frentes
de trabalho, que integram um projeto mais amplo de renovação da Igreja, a partir
de sua missão.
Já é possível perceber o alcance de algumas destas frentes.
A
primeira, decidida com rapidez pelo Papa, se refere ao “Banco do Vaticano”. Esta é
fácil de resolver. Pois se trata, em síntese, de agir com honestidade e transparência,
na gestão dos recursos financeiros, que poderiam, simplesmente, ser confiados, para
a sua gestão, a um banco idôneo, de qualquer país, e livrar assim a Igreja da persistente
imaginação de que ela é detentora de grandes recursos financeiros!
A segunda
iniciativa, também tomada para deixar clara a atitude da Igreja, se refere às vítimas
da pedofilia. Foi constituída uma comissão, com a finalidade específica de proteger
estas vítimas, seja qual foi a autoria desses crimes, contra os quais a Igreja quer
agir com severidade. Como a primeira, esta segunda frente de trabalho se destina a
fortalecer a credibilidade da Igreja, para tomar outras iniciativas, mais amplas e
mais significativas.
Estas duas iniciativas, que poderíamos chamar de prévias,
já foram tomadas em sintonia com o grupo de oito cardeais, nomeados para ajudar o
Papa no governo da Igreja. Mas a própria convocação deste grupo de cardeais já sinaliza,
por sua vez, uma proposta mais ampla e mais profunda, de estabelecer um “governo colegiado”
da Igreja, que está em plena sintonia com a “colegialidade episcopal”, a qual se constituiu
no núcleo teológico e pastoral mais consistente de todo o Concílio Vaticano II.
Uma
outra “frente” aberta pelo Papa, é a campanha contra a fome no mundo. Ela tem a fisionomia
de uma campanha esporádica. Mas as circunstâncias lhe dão o caráter de paradigma da
ação social da Igreja. Lançada pela Cáritas, que é presidida pelo Cardeal Maradiaga,
um dos membros do “grupo dos oito”, foi recomendada com ênfase pelo Papa, deixando
bem clara sua intenção de fazer dela o símbolo da aproximação entre Igreja e Sociedade,
recomendada pelo Concílio em sua constituição pastoral denominada Gaudium et spes.
Bastariam
estes acenos, para perceber que o Papa age de maneira estratégica, respaldando sua
ação no Evangelho de Cristo e apoiando-se na consistência teológica e pastoral do
Concílio, que é reproposto como referência básica e indispensável para a tão esperada
renovação da Igreja.
Para que estas iniciativas não pareçam soltas e desconexas,
o Papa Francisco aproveitou a “Exortação Pós-sinodal Evangelii Gaudium” para transmitir
sua visão orgânica e integral do momento que a Igreja está vivendo, e dos desafios
que ela precisa enfrentar.
De tal modo que a “Evangelii Gaudium” se constituirá
num marco referencial para a caminhada da Igreja, como foi a “Evangelii Nuntiandi”
de Paulo VI.
É um documento que servirá de baliza para a caminhada da Igreja
nos próximos anos, como afirmou o próprio Papa Francisco. Colocando suas propostas
de maneira integrada na “Evangelii Gaudium”, o Papa nos convida a refletir sobre elas,
e perceber quanto podem influenciar nossa ação eclesial. Se queremos estar em sintonia
com o Papa, precisamos acolher as reflexões e as propostas da Evangelii Gaudium!