"Papa Francisco pôs com força a Igreja em movimento" - afirma P. Lombardi, Diretor
da Sala de Imprensa e da Rádio Vaticano
O Ano de 2013
foi absolutamente extraordinário para a Igreja. Ninguém, ao terminar o ano de 2012,
poderia esperar o que efetivamente aconteceu durante este ano. Foi precisamente para
uma reflexão ao ano findo que o nosso colega Alessandro Gisotti entrevistou o P. Federico
Lombardi, Diretor-Geral da Radio Vaticano e da Sala de Imprensa da Santa Sé, que começou
por analisar a escolha de renúncia de Bento XVI:
"... uma escolha que
marcou este ano e continuará a marcar também as próximas épocas da Igreja. Eu penso,
efectivamente, que terá consequências no que diz respeito aos próximos pontificados.
É a abertura de um caminho, digamos de uma possibilidade, que, como dizia bem Bento
XVI, precisamente na sua motivação à renúncia está a ligação aos tempos que estamos
vivendo. Não tanto, portanto a uma sua simples situação pessoal, quanto à colocação
nos tempos com a aceleração, a acumulação que os problemas colocam. E isto foi visto
pelo Papa com grande lucidez e com grande humildade, precisamente para dar possibilidade
de uma direcção que ele definiu de renovado vigor, à Igreja. O que efectivamente aconteceu
e que se deu de modo impressionante e inesperado."
Para o Padre Lombardi
é impressionante o impacto dos gestos e das palavras do Papa Francisco em todo mundo
e considera que estas vêm ao encontro de uma grande necessidade de amor e de atenção
de toda a humanidade:
"Certamente o impacto dos gestos e das palavras
do papa Francisco no mundo de hoje é absolutamente impressionante. Penso que tenha
respondido a uma permanente expectativa profunda da inteira humanidade, que é aquela
da necessidade, do desejo do amor, da humanidade, do perdão, de um relacionamento
sincero que seja próximo, de conforto e de encorajamento. Portanto algo que tocou
as cordas mais profundas da sensibilidade e da personalidade humana de um modo geral,
porque isso teve verdadeiramente efeitos em todos os continentes, em todos os países,
em todas as situações diversas de vida dos homens e das mulheres do nosso tempo. Creio
que a leitura mais simples seja também a mais verdadeira, isto é, ter concentrado
o anúncio sobre o amor de Deus, sobre a sua misericórdia, sobre a sua proximidade
a todos, sobre o seu desejo de bem e de salvação para todas a suas criaturas. É algo
que foi percebido e que foi também percebido pela eficácia dos gestos e das palavras
simples com que foi dito. A abolição, portanto, das barreiras entre a pessoa do Papa
e a gente que ele encontrou isso foi percebido muito simplesmente e directamente por
todos. Creio que é assim que deve ser interpretado esse impacto. O Papa responde,
porque interpreta efectivamente o amor de Deus Pai para com todas as suas criaturas.
"
- Desde os primeiros gestos e as primeiras palavras, o Papa Francisco
suscitou imensas expectativas, no âmbito eclesial e não só. O que se pode esperar
no próximo ano, pensando nomeadamente nas importantes reuniões do Conselho dos Oito? "Eu
creio que nós devemos esperar que este grande impulso de renovação, de eficiência
do anúncio da mensagem essencial que o Papa Francisco realizou, possa difundir-se
na Igreja, porque por agora é algo que nós vemos em Roma, que é muito concentrado
em volta de sua pessoa; embora saibamos que em muitos países do mundo as pessoas voltaram
a confessar-se, a participar nas celebrações religiosas. Existe, portanto, um difundir-se
como uma onda deste efeito de proximidade do amor de Deus por meio da Igreja. Isto,
porém, precisa de ser desenvolvido: deve tornar-se verdadeiramente um pouco o estilo
com que a Igreja anuncia. E o Papa Francisco, num certo sentido, dá um exemplo, dá
um modelo de relação pastoral, que posteriormente é difundido e que deve tornar-se
habitual, um pouco em todas as partes da Igreja. Isto é o que devemos esperar. As
famosas mudanças estruturais, as reformas de que tanto se fala, servem enquanto ajudam
isto, isto é, enquanto as estruturas, os instrumentos ou as organizações estão efetivamente
a serviço do Espírito e do anúncio de Evangelho. Isto é o que o Papa Francisco entende
como reforma: fazer com que os instrumentos e as estruturas tornem-se mais adaptadas
à missão da Igreja; missão da Igreja de anúncio do Evangelho e do anúncio até as fronteiras
deste mundo, às periferias de que ele tanto fala, na relação com os pobres, com as
pessoas que têm mais necessidade da proximidade do amor do Senhor e do testemunho
de Deus. Eis então, o que podemos esperar que o Conselho dos oito Cardeais ou outras
consultas possam obter. No meu modo de ver, porém, deve ser absolutamente claro que
é um aspecto secundário, um aspecto que vem depois e à serviço do "primum", que é
o anúncio do Evangelho e a missão da Igreja. Isto está em marcha.
O Papa deu início a diversas consultas, diversas comissões para tornar mais transparente,
mais eficaz o testemunho das estruturas, mesmo no que diz respeito ao Vaticano, às
suas estruturas administrativas. O problema verdadeiro, porém, é o da relação entre
o Espírito e os seus instrumentos de expressão: as estruturas e as organizações".
-
Francisco é o primeiro Papa jesuíta da história. O que representa para si estar entre
os seus mais estreitos colaboradores; o que lhe está dando pessoalmente o Santo Padre? "Eu
vejo uma sintonia muito profunda entre a espiritualidade do Papa e o seu modo de guiar
a Igreja e a espiritualidade inaciana, isto, sobretudo no sentido de estar a caminho,
no buscar e encontrar a cada dia a vontade de Deus, para servi-Lo melhor e para realizar
aquilo que os jesuítas chamam como a sua maior glória, isto é, o mais profundo conhecimento
do amor de Deus e traduzir na nossa vida esta profunda relação do amor entre Deus
e o homem e entre os homens entre eles. Portanto, o Papa Francisco,
efetivamente, colocou a Igreja a caminho, com grande força, e a colocou a caminho
com o seu exemplo, o seu empenho e também com tantas mensagens e iniciativas. Pensemos
no novo Sínodo sobre a família; pensemos também no encorajamento em renovar a Igreja
e também em nossa vida concretamente. Assim, o facto de estar sempre em caminho, para
procurar encontrar coisas novas, que Deus pede a nós na nossa situação, na nossa vida,
é algo que caracteriza profundamente, me parece, a espiritualidade e o modo de governo
do Papa Francisco. Entrámos numa situação em que a Igreja foi colocada
em movimento. Não são apresentados objetivos precisos, imagens precisas de como deverá
ser organizada a Igreja amanhã para chegar a este objetivo. Devemos pôr-nos a caminho,
devemos converter-nos, devemos acolher as surpresas que Deus nos faz na nossa vida
e entender para onde Ele nos está chamando, também por meio das situações e realidades
em que nos encontramos. Portanto, o sentido da Igreja que entra
em movimento, num caminho, que é peregrina, no cumprir sua missão, me parece que seja
um dos aspectos espiritualmente mais característicos deste Pontificado".