Petrópolis (RV) - Muitos são os mistérios que nos cercam. Um, me parece, está
acima de todos: Deus se fez homem. E nós sabemos que Jesus, o Verbo encarnado, é a
palavra decisiva do Pai. Ele habitou entre nós para experimentar nossas dores e alegrias,
nossas derrotas e nossas vitórias. Nos ensinou a carregar o peso uns dos outros, para
que nós nos reconheçamos como irmãos uns dos outros. O mal e a morte serão vencidos,
porque um Filho nos foi dado... e o seu nome é Emanuel, Deus conosco.
E certo:
Deus quer salvar a humanidade em Jesus, contando com a participação de todos os homens
e mulheres. Somos nós, portanto, os colaboradores deste novo Natal, que se atualiza
à medida que assumimos, em nossa história, o que nos ensinou o Filho de Deus. Sem
medo, como o Anjo ensinou a Maria (Lc 1,30) e a José (Mt 1,20), devemos tomar como
nosso o vigor do anúncio, pois Aquele que veio a nós deseja salvar a humanidade com
a nossa participação.
Nosso Natal não pode ser encarado como uma novidade,
nem como uma simples lembrança. Ele é sempre atual e recorda-nos o tempo que se chama
hoje. Frente ao Menino que nasce numa manjedoura porque não teve onde ficar; sua palavra
nos instrui: “Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber;
era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes (...). Em
verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (cf. Mt 25,31-46).
O Natal cristão,
portanto, só se explica por amor: um amor extraordinário, indizível, sem limites.
Deus entrega-nos a sua divindade e recebe a nossa humanidade para Se colocar ao nosso
serviço. Muitas vezes fomos renitentes à salvação. Não poucas vezes, proibimos que
Deus entre até ao mais íntimo recanto das nossas vidas. Por isso, foi custoso para
Jesus desde o início. Fecharam-se-lhe todas as portas. Teve que nascer fora da povoação,
no meio de animais. Veio com toda a sua boa vontade, cheio de verdade, de vida, de
luz, de solidariedade..., mas não foi recebido por muita gente: “Ele veio para o que
era seu, e os seus não O acolheram” (Jo 1,4-5).
Neste Natal, Deus quer fazer
novas todas às coisas, tornando visíveis os irmãos que insistimos em não enxergar.
Sim! Deus assumiu nossa história e nos ensinou tudo o que precisamos saber para colaborarmos
na implantação do seu Reino, que não é outro, senão, de justiça, de amor e de paz.
Assim
pensando, abramos o nosso coração, a fim de que a Palavra de Deus faça a sua morada
no interior de cada um de nós, na nossa casa, no meio dos nossos vizinhos, no meio
da nossa terra. Criemos condições para acolher mais e melhor a presença de Deus e
do seu Evangelho. Deus chega à nossa porta e toca a campainha. Quer visitar-nos em
pessoa... está com saudade de nós... Ele já nos encontrou... Ele é nosso Salvador.
Mas Jesus não pode ser Salvador de nada nem de ninguém, se colocarmos o nosso interesse
e a nossa confiança em outros "salvadores".
Eis que uma criança já se anuncia;
dentro de Maria o Céu conosco está. Vamos esperar que o Senhor virá, o libertador
já vem.
Para você, meu querido irmão e irmã da Diocese de Petrópolis, peço
as mais copiosas bênçãos do Céu, e envio-lhe os votos de um Feliz Natal.
Dom
Gregório Paixão, OSB Bispo da Diocese de Petrópolis