Para um desenvolvimento solidário em África - Simpósio internacional sobre a África
promovido no Vaticano pela Pontifícia Academia das Ciências
Para um desenvolvimento solidário em África - Simpósio internacional sobre a África
promovido no Vaticano pela Pontifícia Academia das Ciências A economia solidária
e o desenvolvimento sustentável são o único caminho possível para a África: é o que
emergiu na última sexta-feira 29 de Novembro dos trabalhos do Simpósio internacional
promovido pela Pontifícia Academia das Ciências, na Casa Pio IV, no Vaticano, com
a colaboração da Fundação Irmã Natureza. A receita para o futuro da África é "um
desenvolvimento integral, solidário e durável" à luz das concretas indicações da Doutrina
Social da Igreja: disse o Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, Arcebispo de Kinshasa,
que pronunciou a lectio magistralis do Simpósio. O cardeal denunciou a "forte
desigualdade e desproporção" - que se traduz num "crescimento sem solidariedade" –
e o aumento do desemprego". Ele também falou de "enfraquecimento das estruturas democráticas,
que é um crescimento sem voz"; de "perda de identidade cultural, que é um crescimento
sem raízes”; de “forte exploração dos recursos minerais necessários para as gerações
futuras, que é um crescimento sem futuro". O Cardeal congolês indicou como "necessidades
essenciais a alimentação, a educação, a saúde, a casa e ainda a liberdade humana":
nesta realidade os africanos não devem ser "considerados apenas como beneficiários
do desenvolvimento, mas como agentes da mudança" . Por seu lado o Cardeal Giovanni
Battista Re, que abriu os trabalhos do encontro, destacou a "necessidade quer de pensamento
quer de acção em favor de um desenvolvimento sustentável. E para alcançar resultados
concretos - disse - precisamos de um empenho global, coordenado e sistemático, envolvendo
a política, a sociedade civil, a comunidade científica, os organismos internacionais,
o mundo da indústria e da empresa». De acordo com o Cardeal Re "vivemos ao mesmo tempo
o melhor e o pior dos tempos. O melhor dos tempos pelo alto grau de prosperidade e
bem-estar que o mundo conseguiu alcançar, mas também o pior dos tempos pela fome que
existe no mundo e a desnutrição que há, especialmente em África; pela desigualdade
entre ricos e pobres; pelo relacionamento entre o homem e a criação, que se quebrou
por causa de uma exploração selvagem operada pelos países ricos e que tem impacto
sobre o meio ambiente, com desastres naturais, como inundações e secas preocupantes
". Para o missionário Piero Gheddo, do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras,
"o desenvolvimento da África vem do Evangelho e da educação". Os missionários «no
terreno dizem que há um abismo entre a vida dos africanos e as análises de estudiosos
e jornalistas ocidentais. Estes vêem a África do exterior e falam das causas externas
que explicam a falta de desenvolvimento: dívida externa, comércio internacional injusto,
as multinacionais que exploram os recursos africanos, a venda de armas aos Países
e às várias facções étnicas, e assim por diante". Pelo contrário, "quem conhece a
partir do interior a vida dos africanos fala sobretudo das causas internas, histórico-culturais
e também religiosas e educacionais". Em síntese, para os missionários “as causas fundamentais
do subdesenvolvimento africano são quatro". Antes de tudo “a religião animista, que
mantém a maioria dos africanos ainda prisioneiros de superstições, mau-olhado, tabus,
medo de represálias, culto aos espíritos com violência e crueldade inéditas mesmo
em seres humanos". Depois, está a questão do ''analfabetismo e a falta de escolas.
As pessoas analfabetas em África são à volta de 35-40 por cento e com os "analfabetos
de retorno" mais de 50. Na África profunda as escolas em geral, valem pouco, muitas
vezes com 60-70 alunos por turma, sem livros nem cadernos e outros instrumentos didácticos”.
Há também os problemas do "tribalismo e a corrupção em todos os níveis da vida pública,
até os níveis mais baixos" e "os militares são a primeira casta do poder, controlam
a política e a economia". Estas "quatro causas histórico-culturais da falta de desenvolvimento
da África negra são muitas vezes ignoradas ou consideradas irrelevantes para o desenvolvimento.
Os missionários, que dão a vida para a África, as consideram pelo contrário causas
fundamentais do subdesenvolvimento". Entre as intervenções, “o drama dos africanos
com albinismo" foi abordado por Cristiano Gentili, funcionário internacional nos Países
do Sul do mundo que tomou licença não remunerada e tem viajado por toda a Tanzânia,
na companhia de um activista dos direitos humanos, Josephat Torner, que sofre de albinismo.
Gentili denunciou que ainda hoje "os albinos africanos são mortos, para além de serem
rejeitados e atrozmente torturados": ele o constatou pessoalmente viajando "em incógnito
nas áreas onde a superstição é mais premente, visitando comunidades protegidas onde
as crianças albinas encontram refúgio dos seus caçadores, encontrando as vítimas do
preconceito quotidiano e constante, concentradas à volta do Lago Vitória, onde se
consume o maior número de homicídios". Durante o Simpósio – introduzido pelas saudações
do Arcebispo Marcelo Sanchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências,
e de Roberto Leoni, presidente da Fundação Irmã Natureza - também interveio a ministro
para a integração do governo italiano, Cecile Kyenge. E foi concedido doutoramento
honoris causa pela Universidade de Burkina Faso ao Cardeal Óscar Andrés Rodríguez
Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Romano Prodi, representante da Organização das
Nações Unidas para o Sahel, e Paolo Scaroni, administrador delegado da Eni.