Mandela será enterrado ao lado dos filhos, em aldeia onde cesceu
Cidade do Vaticano (RV) - O ex-Presidente da África do Sul, Nelson Mandela,
morreu aos 95 anos em Pretória, nesta quinta-feira, 5, anunciou o atual Presidente,
Jacob Zuma. Mandela ficou internado de junho a setembro devido a uma infecção pulmonar.
Ele deixou o hospital e estava em casa. Faleceu às 20h50, no horário local de Pretória.
O
funeral de Mandela deve durar dez ou 12 dias. O corpo será enterrado, de acordo com
seus desejos, na aldeia de Qunu, onde ele cresceu. Os restos mortais de três de seus
filhos foram sepultados no mesmo lugar, em julho.
Conhecido como “Madiba” na
África do Sul, ele foi considerado um dos maiores heróis da luta dos negros pela igualdade
de direitos no país e foi um dos principais responsáveis pelo fim do regime racista
do apartheid, vigente entre 1948 a 1993.
Em dezembro de 2012, porém, ele permaneceu
18 dias hospitalizado, em decorrência de uma infecção pulmonar. No fim de março de
2013, passou 10 dias internado, também por uma infecção pulmonar, provavelmente vinculada
às sequelas de uma tuberculose que contraiu durante sua detenção na prisão de Robben
Island (ilha de Robben).
Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 no clã Madiba
no vilarejo de Mvezo, sudeste da África do Sul. Seu pai, Henry Gadla Mphakanyiswa,
era chefe do vilarejo e teve quatro mulheres e 13 filhos - Mandela nasceu da terceira
mulher, Nosekeni. Seu nome original era Rolihlahla Mandela.
Após seu pai morrer
em 1927, ele foi acolhido pelo rei da tribo, Jongintaba Dalindyebo. Ele cursou a escola
primária no povoado de Qunu e recebeu o nome Nelson de uma professora, seguindo uma
tradição local de dar nomes cristãos às crianças. Conforme as tradições Xhosa, ele
foi iniciado na sociedade aos 16 anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde
estudou cultura ocidental. Na adolescência, praticou boxe e corrida.
Mandela
completou os estudos na Universidade da África do Sul e se mudou para Johanesburgo,
em 1941.
Lá, ele trabalhou como segurança de uma mina e começou a se interessar
por política. Mandela começou a frequentar informalmente as reuniões do Congresso
Nacional Africano (CNA) em 1942.
Em 1948, se tornou secretário nacional do
CNA. No mesmo ano, o Partido Nacional ganhou as eleições do país e começou a implementar
a política de apartheid, ou segregação racial. Em 1951, Mandela se tornou presidente
do CNA.
Prisão
Mandela passou 18 anos preso na ilha de Robben, na costa
da Cidade do Cabo, e nove na prisão Pollsmoor, no continente – a transferência ocorreu
em 1982. Enquanto esteve preso, Mandela perdeu sua mãe, que morreu em 1968, e seu
filho mais velho, morto em 1969. Ele não foi autorizado a participar dos funerais.
Durante
o período em que ficou preso, sua reputação como líder negro cresceu e sedimentou
a imagem de liderança do movimento antiapartheid. A partir de 1985, ele iniciou o
diálogo sobre sua libertação com o Partido Nacional, que exigia que ele não voltasse
à luta armada. No dia 11 de fevereiro de 1990, Mandela foi solto e, em um evento transmitido
mundialmente, disse que continuaria lutando pela igualdade racial no país.
Prêmio
Nobel e presidência
Em 1991, Mandela foi eleito novamente presidente do CNA.
Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993, por seus
esforços para trazer a paz ao país.
Mandela encabeçou uma série de articulações
políticas que culminaram nas primeiras eleições democráticas e multirraciais do país
em 27 de abril de 1994.
O CNA ganhou com 62% dos votos, enquanto o Partido
Nacional teve 20%. Com o resultado, Mandela tornou-se o primeiro líder negro do país
e também o mais velho, com 75 anos. Ele tomou posse em 10 de maio de 1994. A gestão
do presidente foi marcada por políticas antiapartheid, reformas sociais e de saúde.
Em
1999, não se candidatou à reeleição e se aposentou da carreira política. Desde então,
ele passou boa parte de seu tempo em sua casa no vilarejo de Qunu, onde passou a infância,
na província pobre do Cabo Leste.
Causas sociais
Após o fim da carreira
política, Mandela voltou-se para a causa de diversas organizações sociais e de direitos
humanos. Participou de uma campanha de arrecadação de fundos para combater a Aids
que tinha como símbolo o número 46664, que carregava quando esteve na prisão.
Em
sua autobiografia, Long Walk to Freedom [Um Longo Caminho para a Liberdade], Mandela
conta sua conversão ao cristianismo. Ele vem de uma família evangélica metodista:
“A Igreja estava tão preocupada com este mundo quanto com o céu. Eu vi que praticamente
todas as realizações dos africanos pareciam ter surgido através do trabalho missionário
da Igreja”.
Em Long Walk, que deverá chegar aos cinemas em 2014, Mandela lembra
como se tornou membro da Associação de Estudantes Cristãos e dava aulas aos domingos
em escolas bíblicas nas aldeias vizinhas. Tendo estudado em escolas evangélicas até
o ensino médio, sempre defendeu o poder transformador da educação.
Também conta
como, algumas semanas antes de ser eleito presidente, pregou num culto de Páscoa de
uma igreja cristã. Após ler as bem-aventuranças, começou a louvar a Deus por que “nosso
Messias ressuscitado não escolheu uma raça, não escolheu um país, não escolheu uma
língua, não escolheu uma tribo, mas escolheu salvar toda a humanidade!”. (CM e
agências)