Moçambique deve ser protegido, não destruído - D. Elio Greselin, Bispo de Lichinga
O encerramento do Ano da Fé, foi uma ocasião para a Diocese moçambicana de Lichinga
realizar, em Cuamba, de 21 a 24 de Outubro, o Conselho Pastoral Diocesano e reflectir
mais uma vez sobre a situação que o país está a viver, pondo em foco o papel da Igreja
na construção duma nação pacífica à luz do Evangelho.
Num documento publicado
por essa ocasião, e a que tivemos acesso há poucos dias, o Bispo da Diocese, D. Elio
Greselin detém-se sobre a situação de Moçambique e da África em geral, sublinhando
que à luz da fé, os Bispos da Conferência Regional da África Austral (IMBISA) que
esteve reunida em Gaborone de 11 a 15 de Novembro, querem fazer uma leitura correcta
da África de hoje.
Juntando a sua voz à da Conferência Episcopal moçambicana,
os bispos da IMBISA, de que o Moçambique faz parte, exprimiram preocupação em relação
à situação que se tem vindo a viver nos últimos tempos em terras moçambicanas, onde
“acções de guerra, roubos, violências, por parte de bandos armados (…) estrangulam
o povo sob o olhar e um Estado ausente e dissolvido no nada”. Voltou-se a ver “grupos
de refugiados que, para fugir perante o horror da guerra, acabam em condições ainda
piores daquelas das quais fugiam”
A Igreja permanece a única instituição que
tem verdadeiramente a peito a situação da população – escreve D. Elio, sublinhando
contudo que os bispos do país se sentem sem forças e por vezes com a sensação de que
as suas exortações não são ouvidas. Mas não deixam cair os braços. Continuam a pedir
ao Estado e ao Presidente da República para retomarem a sua tarefa de garante da “Unidade
Nacional ameaçada pela intolerância entre os partidos e bandos armados ao serviço
de poderes estranhos ao país”, pois que “Moçambique deve ser protegido, não destruído”.
No acima mencionado documento, D. Elio Greselin em linha com os outros bispos
de Moçambique e da IMBISA alarga o olhar para toda a África, continente rico humana
e materialmente, mas marcado ainda por conflitos e misérias, situações – escreve –
que “interpelam a nossa consciência de crentes”, chamados a dar uma resposta a tudo
isso “partindo da fé cristã e da natureza da Igreja-Família de Deus”.
Para
isso o Bispo de Lichinga põe em evidencia quatro pontos fundamentais: uma renovada
proclamação do Evangelho; uma profunda conversão do coração do homem; redescobrir
o sentido do sacramento da reconciliação e praticar o dialogo com todos e a todos
os níveis.
Com vista à “evangelização em profundidade” tema aliás do Ano da
Fé na sua Diocese, D. Elio Greselin chama a atenção para a superação de toda e qualquer
forma de discriminação, para a divisão e injustiça no seio da Igreja-Família; para
a formação dos leigos, com particular atenção ao matrimónio cristão, à juventude e
à mulher na evangelização; assim como para a para a tentação das riquezas e do poder
em que nenhum cristão deve cair.
Citando a Exortação pós-sinodal “Africae
Munus”, o Bispo de Lichinga recorda que Deus quer que a África seja terra de paz,
de segurança e de bem-estar e sublinha que estimulados pelo exemplo do Papa Francisco
há que promover o dialogo, sobretudo com o Islão, mas também com as religiões tradicionais
africanas e com os novos movimentos religiosos que estão a multiplicar-se pela África
toda. Chama também a atenção para a responsabilidade da África no seu próprio desenvolvimento
por forma a garantir um futuro melhor a todos os filhos do continente, onde a Igreja
não perde a ousadia de falar em defesa do povo.
Foto: D. Elio com uma criança
na Diocese de Lichinga