Jacques Maritain: O amor pela verdade na liberdade
Cidade do Vaticano (RV) – “Jacques Maritain e o Concílio Vaticano II” é o título
do Simpósio realizado nesta quinta-feira (05) na Universidade Salesiana em Roma, dedicado
ao filósofo francês. O evento foi organizado pela Faculdade de Filosofia da Universiade
e pelo Instituto Internacional Jaques Maritain. A Rádio Vaticano entrevistou o prof.
Piero Viotto, da Universidade Católica de Milão:
RV: Prof. Viotto, a
40 anos da morte de Jacques Maritain, que aspectos atualmente têm maior relevância
em relação aos ensinamentos do Concílio Vaticano II?
R:“Eu diria
que a linha vermelha que leva em frente a influência de Maritain no Concílio Vaticano
I,I e depois, é a ‘Dignitatis Humanae’, isto é, o problema da liberdade religiosa.
Maritain trabalhou uma vida e sofreu por esta idéia de garantir a verdade em relação
à liberdade. Assim, o momento central da reflexão, quer sobre a Dignitatis Humanae,
quer sobre a Gaudium et Spes, é esta relação entre a verdade e a liberdade, na qual
ocorre garantir a verdade na liberdade e a liberdade na verdade, evitando de um lado
um fundamentalismo que imponha a verdade, e de outro um relativismo que leve o homem
a ser cético diante da verdade. Maritain é um mestre nesta linha: recordar a verdade
e a liberdade”.
RV: Jacques Maritain representou também um modelo
de católico empenhado, presente, consciente dos tempos em que vivia e da importância
do testemunho...
R:“Sim, Maritain foi um leigo empenhado de forma
cristã na cultura e na política, para afirmar a presença do cristão nesta situação
social em que ele veio a encontrar-se. É um comportamento fundamental, que levou a
definir muito precisamente o papel do laicato na Igreja e, ao mesmo tempo, a autonomia
do leigo respeito às coisas deste mundo. Maritain fala com insistência – e deste ponto
de vista é muito próximo à La Pira – da missão temporal do cristão. Por outro lado,
também Paulo VI, numa famosa homilia de 1962, fala de dois fins da vida humana: este
mundo e outro mundo. É claro que estão ligados entre si, mas não são opostos e não
são confundidos. Então, a lição maritainiana consistiu em afirmar a verdade na liberdade”.
RV:
Uma lição que hoje é cada vez mais relida, refletida, relançada...
R:”Certamente, mesmo porque hoje existem momentos de pensamentos frágeis; o homem
está em dificuldade diante da busca da verdade. Após Kant, negou-se ao homem a capacidade
de reconhecer a verdade e então a filosofia que derivou disto – a hermenêutica, a
fenomologia, a filosofia analítica – dizem que nós estamos somente no limiar da verdade
e colocam o ser – e assim Deus – entre parênteses. É uma situação muito ambígua contra
a qual Maritain lutou, sobretudo no famosíssimo volume “O camponês da Garonna”, onde
afirmou que somente voltando ao realismo de São Tomás pode-se reencontrar o caminho
para encontrar a verdade. Entre outros, Paulo VI, em 1974 na sua Carta que é quase
uma Encíclica, a “Lumen Ecclesiae”, disse que Tomás é a via privilegiada, não exclusiva,
mas privilegiada, para se chegar à verdade. Porque se nós negamos à inteligência a
capacidade de conhecer a verdade, a experiência cristã não tem as suas raízes”. (JE).