Dom Tomasi sobre uso de drones: "As máquinas não respeitam o princípio de humanidade"
Genebra (RV) - As Nações Unidas usaram pela primeira vez, nesta terça-feira,
veículos aéreos não tripulados no âmbito de uma missão de paz na República Democrática
do Congo, onde atuam grupos armados rebeldes.
O primeiro voo dos drones foi
realizado na capital da província de Kivu Norte, Goma. A Missão da ONU no país, Monusco,
afirmou que as aeronaves devem ajudar na proteção de civis.
A notícia abre
novas reflexões sobre o uso pacífico de drones usados freqüentemente nos últimos anos
para fins militares, com grandes implicações éticas e humanitárias evidenciadas pelo
Observador Permanente da Santa Sé na ONU em Genebra, na Suíça, Dom Silvano Tomasi.
O
arcebispo falou durante o encontro anual dos países signatários da Convenção para
proibir ou limitar o uso de armas de efeitos traumáticos excessivos ou indiscriminados,
como os drones armados. Ele convidou a comunidade internacional a pensar "na incapacidade
dos sistemas técnicos automatizados pré-programados de fazer julgamentos morais sobre
a vida e a morte, de respeitar os direitos humanos e observar o princípio de humanidade".
"Quando
um drone armado é pilotado de milhares de quilômetros de distância, quem tem a responsabilidade
das violações humanitárias cometidas através de seu uso? E quando informações vitais
relativas ao uso de drones armados não são controladas, como se pode verificar a conformidade
com o direito internacional, o direito humanitário internacional e os padrões éticos?",
questionou Dom Tomasi.
Segundo o arcebispo, "a falta de riscos militares e
a suposta precisão dos drones armados podem induzir a perpetrar ataques mais arriscados
para os civis. São fundamentais uma maior transparência e responsabilidade mais clara
em seu uso".
É necessário também preparar os operadores remotos de sistemas
robóticos e garantir-lhes o "tempo necessário para refletir sobre a decisão a ser
tomada diante de uma tela no que diz respeito à vida e a morte."
Quase 30%
dos pilotos de drones passam por crise existencial. "Devemos nos perguntar se este
contexto de guerra desumanizada pode tornar mais estimulante ir para a guerra", concluiu
Dom Tomasi. (MJ)