Francisco propõe diálogo inter-religioso franco e sincero, para evitar fraternidade
"de laboratório"
Cidade do Vaticano (RV) – Não é possível pensar numa fraternidade de “laboratório”:
foi o que disse o Papa Francisco aos cerca de 50 membros do Pontifício Conselho para
o Diálogo Inter-religioso, recebidos esta manhã, no Vaticano, por ocasião do encerramento
de sua Plenária.
Em seu discurso, o Pontífice comentou a atualidade do tema
escolhido para o encontro: “Membros de diferentes tradições religiosas na sociedade”.
Citando sua Exortação Evangelii gaudium, Francisco recordou que uma atitude
de abertura na verdade e no amor deve caracterizar o diálogo com os fiéis de outras
religiões.
De fato, constatou, não faltam no mundo contextos em que a convivência
é difícil. Muitas vezes, motivos políticos ou econômicos se sobrepõem às diferenças
culturais e religiosas, manipulando incompreensões e erros do passado. Tudo isso gera
desconfiança e medo. E para vencer este medo, afirmou o Papa, a única estrada é o
diálogo, o encontro marcado pela amizade e pelo respeito. "É a única estrada humana."
Dialogar,
acrescentou, não significa renunciar à própria identidade quando se vai ao encontro
do outro, nem mesmo ceder a compromissos sobre a fé e a moral cristã. Além disso,
o encontro com quem é diferente de nós pode ser a ocasião de crescimento na fraternidade,
de enriquecimento e de testemunho.
É por isso que diálogo inter-religioso
e evangelização não se excluem, mas se alimentam reciprocamente. Não impomos nada,
não usamos nenhuma estratégia desleal para atrair os fiéis, mas testemunhamos com
alegria, com simplicidade, aquilo no que cremos e o que somos. Como discípulos de
Jesus, devemos nos esforçar para vencer o medo, prontos a fazer o primeiro passo,
sem nos deixar desencorajar diante das dificuldades e incompreensões.
Outra
desconfiança que deve ser superada, observou ainda o Pontífice, é em relação às tradições
religiosas e à dimensão religiosa enquanto tal. Nas sociedades sempre mais secularizadas,
a religião é vista como algo inútil ou até mesmo perigosa; e a convivência só seria
possível escondendo a própria pertença religiosa, numa espécie de espaço neutro, sem
qualquer referência à transcendência.
Francisco então questiona: Como seria
possível criar relações verdadeiras, construir uma sociedade que seja autêntica casa
comum, impondo que se coloque de lado aquilo que cada um considera a parte mais íntima
do próprio ser? Não é possível pensar numa fraternidade ‘de laboratório’.
O
futuro, indicou o Papa, está na convivência respeitosa das diversidades, inclusive
de quem não crê, e não na homologação a um pensamento único teoricamente neutral,
que produziu "tragédias" no decorrer da História.
Torna-se, portanto, imprescindível
o reconhecimento do direito fundamental à liberdade religiosa, em todas as suas dimensões.
Estamos convencidos de que a edificação da paz mundo passe por esta via.