Eleições autárquicas nesta quarta-feira em Moçambique
Decorrem nesta quarta-feira, em Moçambique, as eleições autárquicas. Segundo as notícias
disponíveis, as operações de voto estão a decorrer sem incidentes e com bom grau de
participação, pelo menos em Maputo, onde desde a abertura das urnas, às 7 horas, se
formaram longas filas. A cidade está com um trânsito inferior ao normal para um
dia de semana, facto a que não é alheia a tolerância de ponto dada pelo Governo –
decisão seguida por diversas empresas. Muitas lojas estão também encerradas. No
conjunto do país, segundo o presidente da Comissão Nacional de Eleições, Abdul Carimo
Sau (citado pela edição on line do quotidiano português “Público”), a votação “teve
início de forma muito serena e tranquila”. As eleições são boicotadas pela Renamo
(Resistência Nacional Moçambicana, principal partido da oposição e antigo movimento
guerrilheiro), que contesta a composição dos órgãos eleitorais, maioritariamente compostos
por elementos da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder desde a independência,
em 1975). Decorrem num momento de tensão político-militar que ameaça fazer regressar
o país à guerra que viveu durante 16 anos, até 1992. O Presidente da República,
Armando Guebuza, foi o primeiro a votar na assembleia número 1 da Josina Machel (foto).
Numa curta declaração, apelou à participação dos eleitores. Garantiu que “obviamente”
está assegurada “a segurança dos cidadãos e de todo o processo” e considerou que há
“algum exagero” quando se fala de insegurança na zona centro do país, porque os ataques
armados que ali têm ocorrido são “em zonas muito bem identificadas e localizadas”. São
mais de três milhões os eleitores registados nas 53 autarquias do país. Nas últimas
semanas sucederam-se ataques atribuídos à Renamo, no centro do país. A 21 de Outubro,
forças militares moçambicanas ocuparam a base do antigo movimento rebelde em Satungira,
província de Sofala, onde no último ano viveu o seu líder, Afonso Dhlakama, que está
desde então em lugar desconhecido. O porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, disse
na segunda-feira ao PÚBLICO que os antigos guerrilheiros não vão andar aos tiros durante
as eleições autárquicas desta quarta-feira, mas anunciou que o partido não reconhecerá
legitimidade aos eleitos. A importância das eleições transcende o âmbito local.
Os resultados podem influenciar o diálogo pela paz e trazer novidades ao panorama
político do país africano. A Frelimo só não preside a dois municípios – Beira, província
de Sofala, e Quelimane, província da Zambézia. Essas autarquias são governadas pelo
MDM (Movimento Democrático de Moçambique), terceira força no Parlamento, única que
concorre contra o partido governamental em todas as autarquias e aspira a reforçar
a sua influência autárquica.