Encontro entre Dom Vincenzo Paglia e o Metropolita Hilarion: Católicos e Ortodoxos
unidos na defesa da família.
“Ortodoxos e Católicos juntos pela família”. Eis o título de um convénio realizado
no dia 12 de Novembro em Roma, tendo sido organizado pelo Pontifício Conselho para
a Família conjuntamente com o Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos e o
Departamento para as Relações exteriores do Patriarcado de Moscovo. Ao centro dos
trabalhos a relação de Dom Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para
a Família, e a de Hilarion, Metropolita di Volokolamsk. Serviço de Salvatore
Sabatino, pela Rádio Vaticano.
Relançar a aliança entre a Igreja Ortodoxa
e a Igreja Católica, centrando-nos na família como núcleo fundamental da sociedade.
Dom Vincenzo Paglia reafirma-o com clareza sublinhando que a crise da família está
na base da crise de toda a sociedade. Uma realidade, esta em que agora vivemos, que
exalta o valor do individualismo, tornando o núcleo familiar frágil e passível de
ataques e esquecendo o princípio sobre o qual a família assenta: “o amor para sempre”.
Daí a necessidade de conjugar esforços, centrando-nos na identidade de visão entre
católicos e ortodoxos.
Dom Vincenzio Paglia:
R. – Eu creio que é decisivo
que as igrejas cristãs redescubram a coragem de testemunhar ao mundo aquele mistério
de amor que desde os primórdios da criação Deus estabeleceu quase no cume dos sete
dias, ao ponto que quando criou a sua obra prima – o homem, Adão – deu-se conta que
este precisava de se complementar, e encontrou Eva. Isto para dizer que, num mundo
como o de hoje, onde se exalta o ‘eu’ em prejuízo de qualquer ‘nós’, a família torna-se
numa boa nova para restituir a esperança a todos.
RV - Actualmente,
nós nos encontramos diante de um paradoxo: o de termos uma família que de um certo
ponto de vista é idealizada e, por outro lado, é extremamente frágil. Como avaliar
esta dicotomia que se está a impor cada vez mais?
R. – O problema
é que devemos compreender, viver e sobretudo testemunhar, porque o amor não é um sentimento
passageiro. O amor é como construir uma casa, e para construir uma casa é preciso
tempo, esforço, paciência, inteligência e possibilidade de correcção no caso de os
tijolos serem mal postos. Assim é o amor; o amor não é um vento passageiro, como frequentemente
se entende hoje. Portanto, quando nós falamos do ideal da família, não nos referimos
a uma abstracção ou a uma ideia, trata-se, sim, de uma realidade, mas aquilo que se
dá por adquirido – como por exemplo na conquista de uma meta desportiva, onde todos
sabem que é preciso treino, esforço e muitas renúncias – é cancelado quando se fala
de construir a coisa mais importante do mundo, ou seja, aquela meta que se chama
família e que é também edificação? Eis porque eu creio que é fundamental, numa sociedade
que faz do consumo, da satisfação imediata a qualquer custo, a lei suprema, deve-se
compreender que o amor è uma coisa seria e, como todas as coisas sérias, requer empenho
e esforço.
RV - O Papa Francisco convocou um Sínodo Extraordinário precisamente
dedicado à família…
R. – O Papa Francisco mais uma vez nos precede
a todos nós. O Papa percebeu que quando fala de família fala de uma coisa concreta,
porque a grande maioria dos jovens a querem, mas vê como muitas vezes essa é atacada
e mesmo violentada. Ele que percebeu isto compreendeu que a Igreja deve colocar a
família no centro da sua atenção. Eu espero que o compreendam os políticos, os estudiosos
de economia, os cultores do direito, os intelectuais, enfim, a própria sociedade.
Recolocar no centro a família significa pegar – talvez – o nó mais urgente e mais
dramático se se abandona, e mais eficaz se se enfrenta, para restituir um futuro à
nossa sociedade.
Por seu lado Hilarion examina os aspectos mais críticos da
família, que é base para o desenvolvimento harmónico da vida e da sociedade; também
evidencia que se deve partir da Sagrada Escritura, onde a vida não se reduz ao indivíduo,
mas está sempre ligada a Deus e ao próximo. É necessário, enfim, recriar juntos aquele
equilíbrio que a nossa sociedade abandonou, sem nunca perder de vista o principio
sobre o qual a família é fundada.
Metropolita Hilarion:
R. – Nós, ortodoxos
e católicos, temos o mesmo entendimento do matrimónio. Para nós a família é a união
entre um homem e uma mulher, com a finalidade de gerar filhos. Não queremos descriminar
as uniões – digamos – entre pessoas do mesmo sexo, mas para nós a família é a união
entre homem e mulher.
RV - Mas é evidente que assistimos, hoje, a uma
multiplicação do modelo familiar e, muito frequentemente, as famílias estão em crise:
quando uma família está em crise, obviamente, está em crise um pouco toda a sociedade
…
R. – O núcleo familiar está na base da sociedade e também da formação
do Estado. Se nós destruirmos este núcleo – ou seja, a família – destruiremos também
o Estado.
RV - O que se pode, neste momento, fazer para ajudar a família
a voltar aos valores, porque quotidianamente assistimos à exaltação do individualismo
em vez da família?
R. – Agora nós podemos ver a destruição da família
e as consequências deste processo, como os problemas demográficos: por exemplo, na
Europa, dentro em breve, já não teremos mais gente para povoar este continente. E
isto está exactamente ligado a políticas erradas em relação à família tradicional.