Bispo auxiliar de Roma: Francisco ajuda-nos a recuperar sobriedade e transparência
Cidade do Vaticano (RV) - "Onde há engano não se encontra o Espírito de Deus
(...) A vida dúplice de um cristão faz muito mal, muito mal!": foram algumas das palavras
pronunciadas pelo Santo Padre na homilia da missa celebrada nesta segunda-feira na
Santa Marta, casa onde reside no Vaticano.
"Todos somos pecadores, mas nem
todos somos corruptos", disse ainda Francisco, convidando cada um à coerência entre
palavras e vida, entre ações do dia a dia e exigências do Evangelho. O Pontífice
exortou-nos a não sermos cristãos corruptos, condenando o comportamento ambíguo daqueles
que, de um lado, roubam do Estado e dos pobres e, de outro, se fazem benfeitores da
Igreja.
A esse propósito, a Rádio Vaticano ouviu o bispo auxiliar de Roma e
assistente eclesiástico da Comunidade de Santo Egidio, Dom Matteo Zuppi, de quem quis
saber as impressões que teve das palavras do Papa Francisco:
Dom Matteo
Zuppi:- "A impressão foi de termos tido palavras muito oportunas e muito verdadeiras,
que nos ajudam a compreender algo que muitas vezes fica na penumbra e na ambiguidade,
como é sempre toda hipocrisia – que todos trazemos em nós – e é, neste caso, a hipocrisia
de quem doa algo à Igreja, mas rouba o Estado. E ao invés, diz, isso é inaceitável!
Muitas vezes parece ser o modo com o qual se pensa, ou de colocar-se em paz com a
própria consciência, ou de poder fazer qualquer coisa..."
RV: Uma ambiguidade
que não é somente roubar o Estado e depois, quem sabe, fazer uma oferta à Igreja,
mas que muitas vezes se apresenta também na vida familiar, no trabalho...
Dom
Matteo Zuppi:- "Minha percepção é de que a pregação destes meses, à qual o Papa
Bergoglio nos tem acostumado, é de uma grande misericórdia: o Senhor que espera, que
é paciente... Mas nos fala também de um Senhor que revela aquilo que a pessoa é e,
de certo modo, justamente porque misericordioso, é ainda mais direto contra aqueles
que pensam levar embora a misericórdia sem querer o bem e sem abrir-se ao Senhor.
A incoerência é aquilo que não permite a misericórdia e, por isso, me parecem palavras
inclusive muito severas, que dão um grande sentido à própria misericórdia."
RV:
É um discurso que toca cada um de nós, cada qual em sua vida, mas, certamente, chama
em causa também aquilo que muitas vezes acontece dentro da própria Igreja – o Papa
falou de sacerdotes corruptos –, para não falar da política e outras instâncias...
Dom
Matteo Zuppi:- "Creio que vemos em todos os aspectos como precisamos de
homens verdadeiros, transparentes, capazes de dizer palavras que estejam unidas à
vida, palavras que não sejam vazias. Há uma corrupção difusa, que vemos muito facilmente
nos outros e que enxergamos tão pouco em nós, e que me parece exija uma grande atenção
da parte de todos, porque efetivamente a corrupção elimina possibilidades. O escândalo:
a um certo ponto, tudo se torna sujo, não se vê nada mais que seja bonito, verdadeiro,
que seja bom. E é uma das consequências mais terríveis para quem dá escândalo, de
vários modos. É algo que nos deve interrogar todos na Igreja. Creio que as palavras
do Papa Francisco nos ajudem a recuperar um sentido de seriedade, de sobriedade, de
transparência, de que temos uma grandíssima necessidade na Igreja, mas de que precisamos
muitíssimo também no mundo inteiro." (RL)