2013-11-10 13:23:31

Papa Francisco e “os valores dos italianos” (Sal da Terra)


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A poucos meses da eleição do Papa Francisco, a sua influência faz-se sentir de tal maneira no comportamento dos italianos que mereceu mesmo uma referência expressa no Relatório do Estudo que uma conceituada empresa de análises sociológicas dedica anualmente, por encargo do Estado, ao comportamento dos cidadãos e aos “valores” evidenciados. Se nos últimos anos vinham aumentando sinais preocupantes de “egoísmo difuso, passividade, irresponsabilidade, materialismo radical”, desta vez a ampla sondagem realizada aponta para uma inversão de tendência, com a revalorização da espiritualidade e da interioridade e uma nova disponibilidade ao voluntariado e ao serviço dos outros.

Teve justificado destaque em Itália o Relatório publicado há dias pelo CENSIS (Centro Estudos e Investimentos Sociais) com o título de “Os valores dos italianos 2013. O retorno do pêndulo”. Segundo a análise interpretativa dos responsáveis do estudo, haveria indícios de um certo despertar de esperança, de positividade e de energia, não obstante o persistir de índices económico-sociais deprimentes. E o que é mais surpreendente para nós nesta publicação “laica”, é a menção do Papa Francisco como tentativa de explicar a evolução em curso.

Um dos pontos da análise intitula-se “Papafranciscanismo”, neologismo que alude ao que parece ser um comportamento de massa suscitado pelo espírito e estilo do Papa Francisco. “A figura do Papa está a despertar o interesse não só pela fé, mas mais em geral pela vida espiritual e pelo gosto de certa frugalidade dos costumes” – lê-se no Relatório, que prossegue: “É de notar que os crentes, quer se trate de um credo confessional ou não confessional, têm, mais do que os não crentes, a capacidade de cultivar no espírito pensamentos positivos. Os crentes mostram maior vitalidade dos não crentes, não só no que diz respeito à vida religiosa, mas também quando se trata de ajudar pessoas em dificuldade ou de realizar um trabalho importante”. Mais à frente, a concluir esta parte da análise, acrescenta-se: “Dir-se-ia que o hábito de uma vida espiritual, de interioridade e porventura também de uma pertença religiosa, tenha criado uma predisposição ao pensamento positivo”.


Estas observações retiveram a atenção de um editorialista do “Corriere della Sera” (o maior quotidiano de Itália, mais de 400.000 mil exemplares por dia), que confirma a existência de tal “papafranciscanismo”. Escreve Paolo Conti num Editorial do passado dia 7: “O fenómeno adverte-se bem e é muito difuso: papa Bergoglio, sem impor coisa nenhuma, propôs um velho-novo modelo profundamente humano, mais do que religioso em sentido estrito, e por isso mais fácil de advertir: imediatismo, simplicidade, ironia, recusa de circunlóquios e formalismos, abandono definitivo dos luxos destinados a sublinhar a sua condição de soberano.”

O Editorial do “Corriere della Sera” reconhece que este comportamento do Papa se estende também à “espiritualidade”, com “uma teologia propositadamente simplificada e uma ideia de fé ligada à alegria e não à culpa”. Observa-se justamente que o que conta para as grandes massas, mesmo não católicas, é o estilo de vida escolhido pelo Papa. O velho carro Renault, prenda de um pároco, usado no interior da Cidade do Vaticano, é mais eloquente do que todas as publicidades de automóveis de luxo - faz notar o jornal, que observa ainda que Papa Francisco calhou num momento da vida da Itália em que a recessão põe em causa a esperança no futuro. Sem qualquer calculismo, mantendo simplesmente o modo de viver que sempre foi o seu, tem mostrado que se pode ser Papa com um carro utilitário e comendo no refeitório de Santa Marta. Como um pai de família a braços com restrições para chegar ao fim do mês com o salário de que dispõe







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