Niger, migrantes mortos no deserto - o Papa rezou por eles no Angelus em dia de Todos
os Santos. O P. Moussie Zerai comenta a situação
No Angelus
desta sexta-feira de Todos os Santos o Papa Francisco lembrou a tragédia no deserto
do Niger. O Santo Padre apelou à oração pelas vítimas que partem das suas terras à
procura de uma vida melhor e acabam por sucumbir à fome e à sede. São já 92 as
pessoas encontradas mortas no deserto do Niger. Muitas são mulheres e crianças e procuravam
chegar à Argelia para depois viajarem ao seu objetivo final: a Europa. De referir
que estes corpos foram encontrados em avançado grau de decomposição, o que demonstra
o pouco interesse e o desrespeito por estas pessoas vítimas também da indiferença. Através
desta tragédia descobriu-se que este fenómeno migratório que atravessa esta parte
de África não é menor do que aquele que acontece diáriamente no canal da Sicília como
nos diz o padre Moussie Zerai (foto), eritreu, presidente da Agência Habeshia para
a Cooperação e o Desenvolvimento, entrevistado pela nossa colega italiana Cecilia
Seppia: “É um fenómeno muito ligado ao do Mediterrâneo e não se ouve falar,
mas sucede que morrem dezenas de migrantes ali na fronteira entre o Sudão e a Líbia,
o Chade e o Niger. Mas, ninguém o conta...” “Muitas vezes são abandonados
pelos traficantes. Mesmo no passado, durante o regime de Khadafi os militares pegavam
nas pessoas e abandonavam-nas na fronteira e aí morriam de fome e sede. Não respeitam
os vivos imaginemos os mortos, infelizmente.”
Esta tragédia volta a
demonstrar a necessidade de uma verdadeira cooperação internacional. Mas, não bastam
só os corredores humanitários e é preciso enfrentar as causas que levam as pessoas
a deixarem os seus países. O padre Moussie Zerai sintetiza a situação: “Não
bastam só os corredores humanitários, é preciso trabalhar sobre as várias frentes.
O primeiro empenho da comunidade internacional é aquele de resolver as causas que
empurram estas pessoas a abandonarem os seus países mas também, temporariamente, encontrar
canais legais para acolher estas pessoas e realmente dar-lhes a proteção de que necessitam;
embaixadas que abram as suas portas para acolherem os pedidos de asilo; programas
de inserção; instrumentos vários para uma transferência legal do asilado dos campos
de refugiados em direção aos países que oferecem proteção.” (RS)
Segundo o
jornal on line Afrik.com, o governo do Níger decretou três dias de luta nacional a
decorrer a partir do dia 1 deste mês em memória dos 92 mortos até agora detectados
no deserto e promete acompanhar melhor os traficantes.
Segundo a mesma fonte
desses 92 mortos, 52 eram crianças, 33 mulheres e 7 homens, todos nigerinos que tentavam
chegar à Argélia, onde contavam viver de esmolas. Apenas 21 pessoas num total de 113
sobreviveram à travessia e à sede no deserto.
Afrik.com faz ainda notar que
o Níger é um dos países mais pobres do mundo e frequentemente afectado por crises
alimentares devido à seca. O que explica uma emigração que está a assumir proporções
incomensuráveis.
Por seu lado a União Africana decretou o dia 3 de Novembro,
dia de luto continental em recordação das vítimas do afundamento ao largo de Lampedusa,
no passado dia 3 de Outubro, de um barco de migrantes, e que levou a vida a mais
de 400 pessoas entre mortos recuperados e desaparecidos no mar, na sua maioria eritreus
e somalis.