2013-11-02 09:38:14

Niger, migrantes mortos no deserto - o Papa rezou por eles no Angelus em dia de Todos os Santos. O P. Moussie Zerai comenta a situação


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No Angelus desta sexta-feira de Todos os Santos o Papa Francisco lembrou a tragédia no deserto do Niger. O Santo Padre apelou à oração pelas vítimas que partem das suas terras à procura de uma vida melhor e acabam por sucumbir à fome e à sede.
São já 92 as pessoas encontradas mortas no deserto do Niger. Muitas são mulheres e crianças e procuravam chegar à Argelia para depois viajarem ao seu objetivo final: a Europa. De referir que estes corpos foram encontrados em avançado grau de decomposição, o que demonstra o pouco interesse e o desrespeito por estas pessoas vítimas também da indiferença.
Através desta tragédia descobriu-se que este fenómeno migratório que atravessa esta parte de África não é menor do que aquele que acontece diáriamente no canal da Sicília como nos diz o padre Moussie Zerai (foto), eritreu, presidente da Agência Habeshia para a Cooperação e o Desenvolvimento, entrevistado pela nossa colega italiana Cecilia Seppia:
“É um fenómeno muito ligado ao do Mediterrâneo e não se ouve falar, mas sucede que morrem dezenas de migrantes ali na fronteira entre o Sudão e a Líbia, o Chade e o Niger. Mas, ninguém o conta...”
“Muitas vezes são abandonados pelos traficantes. Mesmo no passado, durante o regime de Khadafi os militares pegavam nas pessoas e abandonavam-nas na fronteira e aí morriam de fome e sede. Não respeitam os vivos imaginemos os mortos, infelizmente.”

Esta tragédia volta a demonstrar a necessidade de uma verdadeira cooperação internacional. Mas, não bastam só os corredores humanitários e é preciso enfrentar as causas que levam as pessoas a deixarem os seus países. O padre Moussie Zerai sintetiza a situação:
“Não bastam só os corredores humanitários, é preciso trabalhar sobre as várias frentes. O primeiro empenho da comunidade internacional é aquele de resolver as causas que empurram estas pessoas a abandonarem os seus países mas também, temporariamente, encontrar canais legais para acolher estas pessoas e realmente dar-lhes a proteção de que necessitam; embaixadas que abram as suas portas para acolherem os pedidos de asilo; programas de inserção; instrumentos vários para uma transferência legal do asilado dos campos de refugiados em direção aos países que oferecem proteção.” (RS) RealAudioMP3

Segundo o jornal on line Afrik.com, o governo do Níger decretou três dias de luta nacional a decorrer a partir do dia 1 deste mês em memória dos 92 mortos até agora detectados no deserto e promete acompanhar melhor os traficantes.

Segundo a mesma fonte desses 92 mortos, 52 eram crianças, 33 mulheres e 7 homens, todos nigerinos que tentavam chegar à Argélia, onde contavam viver de esmolas. Apenas 21 pessoas num total de 113 sobreviveram à travessia e à sede no deserto.

Afrik.com faz ainda notar que o Níger é um dos países mais pobres do mundo e frequentemente afectado por crises alimentares devido à seca. O que explica uma emigração que está a assumir proporções incomensuráveis.

Por seu lado a União Africana decretou o dia 3 de Novembro, dia de luto continental em recordação das vítimas do afundamento ao largo de Lampedusa, no passado dia 3 de Outubro, de um barco de migrantes, e que levou a vida a mais de 400 pessoas entre mortos recuperados e desaparecidos no mar, na sua maioria eritreus e somalis.







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