2013-10-24 18:58:26

"Outra Europa é possível": representante vaticano reflete, num livro, sobre os maiores desafios para o Velho Continente


Cidade do Vaticano (RV) - "Outra Europa é possível": esse é o título do livro do observador permanente da Santa Sé junto ao Conselho da Europa, Mons. Aldo Giordano, publicado pela editora São Paulo.

Trata-se de um livro-entrevista em que o representante vaticano reflete sobre os maiores desafios para o Velho Continente e conta a sua experiência vivida nos anos em que esteve como secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais Européias (1995-2008), e depois, a partir de 2008, como observador permanente em Estrasburgo, na França, onde se encontra a sede do Conselho da Europa.

Entrevistado pela Rádio Vaticano, Mons. Giordano nos diz, em primeiro lugar, qual Europa é possível:

Mons. Aldo Giordano:- "A questão central parece-me ser a da liberdade. A Europa amadureceu, ao longo dos séculos e nas últimas décadas, um grande amor pela liberdade: porém, hoje, vemos que a liberdade que se consolida em nossos caminhos é uma liberdade fortemente individualista, que está centralizada num "eu" que se agiganta cada vez mais. Então, creio que devemos retomar e aprofundar o conceito de liberdade, até descobrir que, na realidade, a liberdade é o lugar da relação com o outro, o lugar da relação também com o totalmente Outro e, portanto, a relação com a nossa origem e com Deus. Consequentemente, devemos superar uma Europa que se fecha em si mesma em nível cultural, onde o "eu" quer decidir tudo, inclusive decidir o próprio sexo, decidir como fazer os filhos, decidir sobre todos os valores. Ao invés, deve redescobrir que a liberdade é um lugar que é constituído pela relação com um Pai, pela relação com o outro e pela relação com valores existentes em si mesmos. Não cabe a nós decidir o valor da vida, mas devemos descobrir o mistério da vida; não cabe a nós inventar-nos a bondade ou inventar-nos a verdade, devemos descobrir que existe uma verdade, que existe uma bondade e que existe uma beleza."

RV: Mons. Giordano, nos últimos anos muito se tem falado sobre crise econômica: e isso é necessário, sobretudo, porque são os cidadãos que pagam o preço. Como se pode ter um olhar que não seja limitado também sobre temas econômicos?

Mons. Aldo Giordano:- "Creio que para o aspecto econômico os novos elementos são o da justiça, o elemento ético, o elemento da solidariedade e o da gratuidade. A Europa teve um grande papel em nível econômico, hoje, porém, parece que nos encontramos frágeis também sobre isso e, então, creio que somente uma economia que redescubra a solidariedade e que tenha a coragem da solidariedade, poderia tornar a Europa capaz de verdadeiramente voltar a dizer algo à humanidade."

RV: O Papa Francisco conseguiu mexer com as consciências naquilo que nos ensinou a definir a "globalização da indiferença". O senhor, que há anos vive no coração da Europa, o que pode dizer-nos sobre como se vive no coração das instituições a sacudida que o Papa Francisco está dando ao mundo? Uma surpresa iniciada com o anúncio do nome escolhido – Francisco:

Mons. Aldo Giordano:- "Vejo em minha experiência, inclusive junto às instituições europeias, um grande interesse e uma grande simpatia pela figura e pela proposta que vem do Papa Francisco. Diante de uma Europa e diante de um mundo que parece não encontrar caminhos de novidade, a figura do Papa apresenta-se hoje sempre mais uma figura de referência e também um sinal de esperança, porque é a esperança que muitas vezes falta em nossos caminhos. Transmite a intuição de que a humanidade pode fazer outros percursos: não somos sempre obrigados a caminhar por certas estradas; não se é obrigado a resolver o problema entre os povos com a violência; não somos obrigados a estabelecer relações entre os povos baseadas no comércio de armas; não somos obrigados a deixar populações inteiras morrer de fome. Intui-se em sua mensagem que se o homem volta à sua raiz mais profunda e também a Igreja retorna a redescobrir verdadeiramente a sua vocação mais bonita e mais profunda, isso é uma novidade. Dias atrás, no Comitê dos ministros do Conselho da Europa, houve um debate sobre migrações e o Papa foi citado por suas palavras sobre o primado da pessoa. Foi recordada sua visita a Lampedusa (ilha situada no extremo-sul da Itália, ndr), na qual o Papa afirmou que a pessoa tem a prioridade e que, portanto, tudo o mais deve girar em torno dessa prioridade. Creio que isso cria novidade política e cria novidade também para as economias." (RL)







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