Jales (RV) - Em pleno mês missionário, temos neste dia 20 o Domingo das Missões,
junto com o Dia da Infância missionária. Tudo para destacar a importância da dimensão
missionária da Igreja.
O destaque deste ano é dado, de novo, por uma insistência
do Papa Francisco. Ele propõe inverter na prática as prioridades. Olhando racionalmente,
não haveria dúvida em constatar que, eclesialmente, primeiro vem a comunhão, depois
a missão. Primeiro o chamado, depois o envio. Primeiro somos discípulos, depois nos
tornamos missionários.
Mas se conferimos mais de perto a dinâmica da vida
cristã e eclesial, percebemos uma espécie de inversão operacional. A missão desencadeia
um dinamismo, que acaba incidindo sobre a própria Igreja. Ela passa a se regular
em vista da missão que ela tem a cumprir.
Daí a insistência do Papa. E´ a missão
que vai desencadear e sustentar o processo de renovação eclesial. E´ retomando a
missão que a Igreja vai reencontrar sua própria identidade.
É por este prisma
que o Papa Francisco avalia o que aconteceu na Conferência de Aparecida. Ela se diferencia
das outras Conferências já acontecidas, em Medellín, Puebla e Santo Domingo. As outras,
culminaram num texto, com sua riqueza de conteúdo, mas também com seu risco de esquecimento.
Ao passo que em Aparecida o desfecho foi outro. Ficou relativizado o texto, tanto
que havia a hipótese de nem redigir texto algum. Mas ficou ressaltado o compromisso
com a missão, como foco a ser conferido, de maneira dinâmica e permanente. A Conferência
de Aparecida, de fato, convergiu para, no seu final, lançar o desafio da “missão continental”.
Não estava ainda claro o alcance e a fisionomia que poderia ter a tal de “missão
continental”. E ainda não está. Mas o fato é que Aparecida indicou para a Igreja
o caminho certo para a sua constante renovação: é o caminho da missão.
Quando
colocamos a missão como nossa motivação, entramos na área de competência da graça
de Deus. Se é “em nome do Senhor” que nos propomos a agir, é porque nos sentimos
a serviço da causa do Senhor. Em conseqüência nos colocamos na dependência da eficácia
de sua graça.
Na história houve, certamente, alguns equívocos sérios em torno
da Evangelização. Dá para fazer uma importante constatação: quando a Igreja fez da
evangelização uma “conquista”, impondo sobre os povos um domínio cultural e político,
ela confiou no seu poderio humano, e não na força libertadora do Evangelho. Assim
fazendo, ela não anunciou o Evangelho livremente, como São Paulo. Mas cobrou uma pesada
conta, nem tanto em benefícios que ela recebeu, mas no prejuízo que ela provocou nos
povos, a quem ela anunciou um “evangelho” deformado pela submissão exigida dos povos
“conquistados”.
Quando a Igreja não se deixa converter pelo Evangelho que ela
prega, ela acaba se pervertendo a si mesma, e aos povos por ela “submetidos” a um
evangelho deturpado.
É diante da missão que a Igreja experimenta a absoluta
necessidade de continuar se convertendo. Assim, a missão, voltada para fora da Igreja,
acaba se voltando para a própria Igreja, que se torna, também ela, destinatária do
Evangelho de Cristo.
De tal modo que, na Igreja, o chamado vem sempre ligado
ao envio, a comunhão é sempre vinculada à missão. Assim a Igreja é sempre estimulada
a levar aos outros o que ela mesma vive.
O Evangelho anunciado precisa ser
um Evangelho vivido.