Papa Francisco recebe em audiência Presidente do Parlamento Europeu. Schultz: “Papa
tem enorme impacto em questões mundiais”
O Papa Francisco
recebeu sexta-feira passada, no Vaticano, o Presidente do Parlamento Europeu Martin
Schulz,. Durante o encontro Schulz convidou o Papa ao Parlamento Europeu em Estrasburgo.
Entrevistado pelo colega Fabio Colagrande da RV, Scultz concentrou-se nos
primeiros sete meses do pontificado do Papa Francisco:
Penso que não
sou o único na Europa, a ficar profundamente impressionado por estes primeiros sete
meses ... É um Papa com grande abertura mental, fortemente convencido da abertura
e creio também convencido da necessidade de um diálogo directo entre ele mesmo e os
crentes, mas mesmo os não-crentes, as pessoas em geral. Esta manhã, ouvi um comentário
perspicaz de um embaixador junto da Santa Sé, que me disse: Este é um Papa que fala
uma linguagem semelhante àquela usada no Twitter: é capaz de passar mensagens que
podem ser recolhidas também por pessoas comuns. Bem, esta é a grande novidade. E,
sim, estou muito impressionado com isso.
- Depois da tragédia de Lampedusa
o Papa falou de “vergonha”. De que maneira a União Europeia apode impedir que se repitam
massacres semelhantes?
Partilho a opinião de que é uma vergonha para
a parte rica do mundo , poder acontecer que pessoas tenham de morrer a poucos metros
de distância das nossas fronteiras, das nossas costas. Portanto, aquilo que a União
Europeia deve fazer, e em particular os Estados-Membros da União, é a reforma de todo
o nosso sistema de imigração . Temos a Convenção Dublin 2, que cobre exclusivamente
a questão do asilo político, enquanto que na Europa falta o aspecto de protecção
temporária para aquelas pessoas que fogem de regiões onde grassam guerras civis, das
áreas onde têm ocorrido desastres naturais ou até mesmo um sistema que contemple a
imigração legal. Hoje, somos confrontados com um atraso de duas décadas. Eu sou um
membro do Parlamento Europeu desde 1994 e em 1994, tratávamos dos mesmos argumentos
que estamos a falar hoje ... Se eu for buscar os meus comunicados de imprensa de 1.995
sobre casos que se verificaram aqui na Itália - em 1997 ou 1998 talvez se lembra do
caso de Badolato e Soverato - se pegar naqueles comunicados de imprensa e substituir
as datas com as actuais, o conteúdo não muda. Portanto, devemos acelerar os tempos
na busca de soluções para a protecção temporária e precisamos também de um sistema
de imigração legal para combater a imigração ilegal.
- Que contribuição
podem oferecer os cristãos da Europa neste momento de crise social e económica?
Acho
que o que os cristãos podem oferecer está contido nas mensagens do Papa nestes últimos
sete meses : precisamos de mais emprego, precisamos de uma maior justiça social ...
A Europa , por exemplo, é a área mais rica do mundo, mas com um má distribuição do
nosso bem-estar dentro da própria União Europeia, e através da União Europeia, no
mundo. Precisamos do respeito mútuo, de uma maior solidariedade fundada numa maior
colaboração internacional ... É também necessário um comércio mais justo com as outras
partes do mundo, precisamos de uma maior abertura e uma política "lógica" por parte
dos Estados-Membros: por exemplo, enviando os Ministros dos Negócios Estrangeiros
nos lugares onde há revoluções, como no Norte da África, para que estes, ao retornarem
às respectivas capitais, possam determinar – juntamente com os seus Ministros das
Finanças - os meios necessários para o desenvolvimento dessas populações. Os cristãos
deveriam passar a mensagem de que estas contradições não são muito credíveis e insistir
junto dos governos e das instituições internacionais para cumprirem as suas promessas.
É preciso aproximar as promessas e a acção, para que se preencha o fosso entre o que
prometemos e o que depois fazemos. Esta é a melhor maneira em que os cristãos podem
exercer pressão sobre as instituições públicas , talvez até mesmo sobre as suas próprias
instituições. Por isso penso que o que o Papa disse neste seu primeiro período de
pontificado é encorajador para os cristãos ...
- Por que convidou o
Papa Francisco para intervir numa sessão plenária do Parlamento Europeu?
Hoje
é o 25° aniversário do discurso de João Paulo II no Parlamento Europeu, aos 11 de
Outubro de 1988. E também é o 61° aniversário da abertura do Concílio Vaticano II.
Vivemos numa época de mudanças. 1988 realmente foi um ano de uma mudança epocal: era
um ano antes da queda da "Cortina de Ferro" ... Hoje, vivemos num mundo globalizado
no qual a União Europeia deveria desempenhar um papel de estímulo na obtenção de uma
maior justiça, maior cooperação; deveria ser um instrumento para a criação de um mundo
mais justo e equitativo. E o lugar onde se discute de tudo isto é o Parlamento Europeu.
E a Santa Sé é uma realidade, o Papa uma pessoa, que têm um enorme impacto no debate
mundial sobre as mudanças que precisamos . Por isso, um homem com um tal impacto e
uma tal importância , deve tomar a palavra exactamente naquele contexto em que se
discute do papel da Europa no mundo. Esta é a razão pela qual tentei convencê-lo a
falar ao Parlamento Europeu.