Papa recebeu Rabino-chefe de Roma nos 70 anos da Deportação dos Judeus romanos. "Erradicar
o anti-semitismo do coração e da vida", com uma "cultura do encontro, de relações
autênticas, sem preconceitos nem suspeitas"
Recebendo nesta
sexta-feira, no Vaticano, o Rabino-chefe de Roma, Ricardo Di Segni, com uma delegação
da comunidade judaica da Cidade, o Papa Francisco exprimiu o desejo e a esperança
de contribuir, como Bispo de Roma, para relações de proximidade e amizade entre católicos
e judeus, como teve a graça de realizar em Buenos Aires. Esta audiência teve lugar
a poucos dias da celebração dos 70 anos da Deportação dos Judeus de Roma, enviados
para os campos de extermínio nazis”. “Como bispo de Roma – declarou o Papa – sinto-me
particularmente próximo da Comunidade Judaica da Urbe”. Comunidade com mais de dois
mil anos de presença ininterrupta, sendo mesmo a mais antiga da Europa ocidental.
As relações com a Igreja de Roma – reconheceu o pontífice – foram muitas vezes marcadas
por incompreensões e mesmo injustiças, mas conheceram - graças a Deus – nas últimas
décadas, o desenvolvimento de relações amigáveis e fraternas. E isso graças ao Concílio
Vaticano II, mas não só. “Para esta mudança de mentalidade contribuiu sem dúvida,
da parte católica, a reflexão do Concílio Vaticano II, mas um contributo não menor
veio da vida e da acção, de ambas as parte, de pessoas sapientes e generosas, capazes
de reconhecer a chamada do Senhor e de se encaminharem com coragem por caminhos novos
de encontro e de diálogo”. Aludindo à “comum tragédia da guerra” e à deportação
dos Judeus de Roma – cujos 70 anos serão celebrados dentro de dias, afirmou o Santo
Padre: Faremos memória e rezaremos por tantas vítimas inocentes da barbárie humana,
pelas suas famílias. Será também uma ocasião para manter sempre desperta a nossa atenção
para que não ressurjam, sob qualquer pretexto, formas de intolerância e de anti-semitismo,
em Roma ou no resto do mundo. Que o anti-semitismo seja excluído do coração e da vida
de cada homem e de cada mulher! Embora sem negar a importância da reflexão, o Papa
considerou também fundamental o “diálogo vital, da experiência quotidiana”. “Sem
uma autêntica e concreta cultura do encontro, que leva a relações autênticas, sem
preconceitos nem suspeitas, de pouco serviria o empenho no campo intelectual. Também
aqui, o Povo de Deus tem uma própria intuição e pressente o caminho que Deus lhe pede
que percorra. Espero contribuir aqui em Roma para esta proximidade e amizade,
como tive a graça de fazer com a comunidade judaica de Buenos Aires”. Na saudação
inicial ao Papa, o Rabino-chefe de Roma fez ao Papa Francisco votos de um pontificado
“longo e sereno”, em que não deixará certamente de viajar pelo mundo encontrando muitas
comunidades de judeus e visitando Israel, e concluiu exprimindo o desejo de que, como
fizeram João Paulo II e Bento XVI, se desloque um dia em visita pessoal à comunidade
judaica romana. Antes da audiência conjunta da Delegação da Comunidade Judaica
de Roma, o Santo Padre tinha recebido em audiência privada o Professor Ricardo Di
Segni, Rabino Chefe de Roma.
Entretanto, foi divulgada uma mensagem enviada
ao Rabino-Chefe de Roma, para a celebração dos 70 anos da Deportação dos Judeus Romanos.
O Santo Padre considera que “é nosso dever ter presente diante dos nossos olhos o
destino destes deportados, advertir o medo por eles vivido, o seu desespero” e isso
“para os não esquecer , para os manter vivos, na nossa recordação e na nossa oração,
juntamente com as suas famílias, os seus parentes e amigos, que choraram a sua perda
e ficaram completamente abatidos perante a barbárie a que pode chegar o ser humano”.
O Papa sublinhou a importância de “fazer memória”, que aliás não significa
simplesmente recordar; “significa também e sobretudo esforçarmo-nos por compreender
qual é a mensagem que isso representa para hoje, de tal modo que a memória do passado
possa ensinar ao presente e tornar-se luz que ilumina o caminho do futuro.”
Papa
Francisco considera que esta comemoração poderá constituir (citamos) “um apelo às
novas gerações para que não amesquinhem a própria existência, não se deixem arrastar
por ideologias, sem nunca justificar o mal que encontramos e não diminuindo a vigilância
contra o anti-semitismo e contra o racismo, qualquer que seja a sua proveniência”.