Reflexão para o 26º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Cidade
do Vaticano (RV) - A reflexão sobre a primeira leitura da liturgia deste domingo
nos coloca no interior de uma sociedade onde um grupo, formado pelo nobres da Samaria
(governantes, palacianos, chefes políticos e latifundiários) desfrutava das conquistas
militares do rei Jeroboão. Nesse ambiente surgiu a fala discordante do Profeta Amós
que dizia estarem enganados os poderosos ao esperarem o Dia de Javé como um dia de
glória. O Dia de Javé será um dia de castigo, culminando com a destruição da própria
Samaria e com o exílio de seus moradores. Ele foi claríssimo ao dizer: “ o bando dos
gozadores será desfeito”.
Eis os motivos: enriquecimento à custa do pobre e
“não se preocupar com a ruína do povo”. Será que também não existem pobres que
desejariam usufruir dessas benesses e sonham em ser como um desses ricos? Pessoas
vendem seu corpo, sua inteligência para poderem conviver nesse mundo de privilegiados.
Deixam-se corromper para isso.
O Evangelho nos apresenta a reflexão de Jesus
diante desse quadro. Ele usa a parábola do rico e de Lázaro para nos dar o seu recado.
O rico, que nem nome possui, é descrito como alguém que se veste com luxo, usando
roupas importadas, se banqueteando diariamente e morando em uma mansão. Do lado de
fora, um sem-teto, Lázaro. Ele via entrar os comensais em traje de festa. Sentia vontade
de comer, queria matar a fome, a sede, mas nada lhe era dado. Ao contrário, ainda
era incomodado pelos cães que lambiam suas feridas. Era o excluído!
Contudo,
Deus - que optou preferencialmente pelos pobres - ao permitir a morte dos dois, acolhe
Lázaro em sua casa, enquanto o rico continua em seu fechamento, agora absolutizado
pela morte. Neste momento, o nome Lázaro revela seu significado, Deus ajuda, e de
fato Deus o ajudou. Enquanto o rico, sem nome, fica agora totalmente ignoto, morto,
sepultado e desconhecido!
Dentro da parábola vemos também o resultado, a consequência
da atitude surda, absolutamente insensível do rico. O abismo que ele criou, excluindo
o pobre de toda e qualquer participação nos bens que ele julgava possuir, volta agora
contra ele mesmo. É tão grande que é impossível haver comunicação entre eles. Pior,
a inversão foi drástica. Aquele que sempre esteve saciado, suplica por uma gota d’água
e pede que Lázaro faça isso.
Existe nesse trecho do Evangelho algo que muitas
vezes passa despercebido e que não deveria, porque é importante. Quando Abraão fala
com o rico, apesar de se dirigir a uma pessoa, ele usa o plural – “..nem os daí poderiam
atravessar até nós.” O rico não está só. Outros o antecederam na ocupação de acumular
bens gananciosamente.
Mas o rico faz um segundo pedido a Abraão, que salve
os irmãos dele, para que não tenham a mesma sorte. Para isso ele pede a ida de Lázaro
à casa deles, para que, vendo um morto, se convertam. Abraão diz ser inútil isso.
Para salvá-los, já existe Moisés e os profetas. Veladamente aí está que nem a ressurreição
de Jesus irá salvá-los, caso não se abram ao pobre. De fato, quantas pessoas batizadas
vivem uma existência surda e insensível em relação aos excluídos! A partilha gera
vida, o acúmulo, morte!
A única força capaz de mudar o coração do rico, de
ser fechado em si mesmo, é a Palavra de Deus. Ela tem o poder de abrir os corações!
Neste
domingo celebramos o Dia da Bíblia. Que ela seja utilizada por nós de tal modo que
permita ao nosso coração permanecer sempre aberto aos irmãos, praticando a partilha.
(CAS) Para ouvir, clique acima.