Aos 90 anos, morre Irmã Veva, amiga dos índios no MT
Cuiabá (RV) - Morreu no início da tarde desta terça-feira, 24, no município
de Confresa, Mato Grosso, a Irmã Genoveva. Há 60 anos vivendo junto ao povo Tapirapé,
a missionária passou mal na aldeia Urubu Branco, local onde morava, logo após o almoço.
Morreu enquanto era levada ao hospital. O enterro ocorrerá na própria aldeia. Em agosto
deste ano, Veva, como era conhecida, completou 90 anos.
A nota do CIMI e da
CPT lembra sua chegada ao país:
“Três irmãzinhas chegaram ao Brasil no dia
24 de junho de 1952, com o objetivo de morar junto com os Tapirapé, numa casa como
a dos indígenas, passando a ter a mesma alimentação e o mesmo estilo de vida.
“Ir aos esquecidos, aos desprezados, pelos quais ninguém se interessa”, são as palavras
da Irmãzinha Madalena, fundadora da Fraternidade. As Irmãs Genoveva, Clara e Denise,
quando chegaram à aldeia Tapirapé, encontraram um povo com cerca de 50 pessoas, sobreviventes
dos ataques de seus vizinhos Kayapó.
Hoje, mais de 800 Tapirapé, em sua maioria
crianças e jovens, vivem nas aldeias Majtyritãwa, próxima a Santa Terezinha,´Tapiitãwa,
Wiriaotãwa, Akara´ytãwa e Xapi´ikeatãwa, na área indígena Urubu Branco, próxima da
cidade de Confresa.
O respeito às crenças, ao estilo de vida e aos costumes
dos Tapirapé foi o que fez das Irmãzinhas as principais aliadas deste povo durante
todos estes anos. As lutas foram muitas e a determinação destas mulheres ainda maior.
“Queríamos viver no meio deles o amor de Deus que não deseja outra coisa senão que
vivam e cresçam como Tapirapé”, afirmava a Irmãzinha Genoveva, que ainda vive com
eles.
Logo na chegada, deram atenção especial à saúde, pois os indígenas estavam
muito expostos ao contágio de doenças levadas pelos não-índios. Era a primeira vez
que a “fraternidade” se estabelecia numa comunidade indígena em solo brasileiro. Muita
coisa aconteceu durante esses 60 anos. Os Tapirapé, que pareciam estar próximos da
extinção, conseguiram se recompor.
Mas, para chegar a essa nova situação, quanta
dedicação, partilha e aprendizagem foi exigida das irmãs que vinham de uma cultura
completamente diferente. Apesar de alguns surtos epidêmicos, com a chegada das Irmãzinhas
a mortalidade foi reduzida e quase erradicada, devido aos tratamentos curativos e
do controle profilático das doenças. Nesse processo todo, as Irmãzinhas sempre respeitaram
a maneira de ser dos Tapirapé.
O Povo Tapirapé
O quase extermínio dos
Tapirapé se dá a partir de 1909, quando a população de aproximadamente 2000 índios
foi exposta às doenças trazidas pelos não-índios. Epidemias de gripe, varíola e febre
amarela acabaram com duas aldeias. Outro agravante da diminuição e dispersão dos Tapirapé,
foram as disputas existentes com os Kayapó, que viviam na mesma região. Em 1935, já
estavam reduzidos a 130 pessoas e, em 1947, estavam com apenas 59. Foi nesse ano
que ocorreu o grande ataque Kayapó. Aproveitando a ausência dos homens que haviam
saído para a caça, a aldeia Tampiitãwa foi praticamente destruída e várias mulheres
e meninas raptadas. Com a chegada das Irmãzinhas, em 1952, a situação começa a ser
controlada. Com isso, podemos dividir a história Tapirapé em duas etapas - antes e
depois das Irmãzinhas.
Testemunho de doação
Desde 1952, quando chegou
à aldeia, Genoveva, ou simplesmente Veva, como era conhecida, nunca mais saiu de perto
dos Tapirapé. Veva nasceu no dia 19 de agosto de 1923, em Valfraicourt, um lugarejo
da França. De aparência frágil, cabelos brancos, há muitos anos acordava todos os
dias antes do sol para cuidar da pequena roça que cultivava atrás das casas de taipa
da aldeia Urubu Branco, a maior do povo.
O respeito total à cultura e ao processo
histórico deste povo fez com que os Tapirapé se salvassem e se multiplicassem, tornando-se
um povo alegre e seguro. Das religiosas, Veva era a única Irmãzinha que permanecia
na aldeia desde o começo da missão. Atualmente vivia numa casa simples, como as outras
dos indígenas, em companhia da colega Odile. (CM)