"A Lista de Bergoglio", livro que traz os relatos de pessoas salvas pelo sacerdote
durante a ditadura militar argentina
Roma (RV) – “A lista de Bergoglio. Os salvos por Francisco durante a ditadura.
A história nunca contada” é o título do livro escrito pelo jornalista italiano Nello
Savo, do jornal ‘Avvenire’, que traz o testemunho de dezenas de perseguidos políticos
pela ditadura Argentina salvos pelo Padre Jorge Mario Bergoglio. O livro – com prefácio
escrito pelo Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e com 192 páginas - será lançado em
quatro de outubro pela Editora Emi.
O testemunho dos sobreviventes à perseguição
da Junta Militar protegidos pelo então Provincial dos Jesuítas - junto aos documentos
inéditos como a transcrição do interrogatório em 2010 do Arcebispo Bergoglio aos magistrados
que investigavam violações dos direitos humanos durante a ditadura -, revelam a existência
de uma verdadeira rede clandestina construída pelo futuro Pontífice para salvar os
perseguidos, o que incluía também indicações e conselhos em como despistar a polícia
e a censura e para organizar fugas ao exterior.
Entre os testemunhos recolhidos
pelo jornalista, está o do jesuíta Juan Carlos Scannone, hoje com 81 anos, considerado
o maior teólogo argentino. Segundo ele, nunca se falou sobre o trabalho de Bergoglio
em favor dos perseguidos, para não parecer que estivessem “tentando manipular os fatos
dos anos da ditadura”. Porém, “arriscando uma estimativa mais conservadora, se poderia
dizer que o Padre Jorge tenha colocado em locais seguros mais de 100 pessoas”. Entre
estes, dissidentes, sindicalistas, sacerdotes, estudantes, intelectuais, crentes ou
não.
O livro destaca a história do sindicalista Gonzalo Mosca, escondido no
Colégio Máximo como “estudante em retiro espiritual”, posteriormente sendo expatriado
ao Brasil. “Padre Jorge não somente me acompanhou ao Aeroporto, mas foi até a porta
do avião”, contou Gonzalo. Ou ainda, Alicia Oliveira, ativista civil e dissidente,
à quem Padre Bergoglio possibilitou que encontrasse seus filhos enquanto estava escondida
dentro do Colégio Máximo.
O livro traz também uma carta inédita escrita por
Bergoglio à família do Padre Franz Jalics, um dos dois jesuítas sequetrados e torturados
na ESMA, o conhecido centro de detenções do regime. “Tomei diversas iniciativas para
conseguir a libertação de seu irmão, até agora não tivemos sucesso, mas não perdi
a esperança de que ele será libertado brevemente. Decidi que a questão é minha missão”,
lê-se numa carta escrita em 15 de outubro de 1976. E ainda “As dificuldades que seu
irmão e eu tivemos entre nós sobre a vida religiosa não tem nada a ver com a situação
atual”. Jalics “é para mim um irmão”, escreveu Bergoglio na carta.
O livro
reconstrói ainda, pela primeira vez, o encontro de Bergoglio com o Almirante Emilio
Eduardo Massera, quando pediu a libertação imediata dos dois jesuítas detidos.
No
trágico contexto após o golpe de 24 de março de 1976 - 30 mil desaparecidos, 15 mil
fuzilados, 500 recém nascidos tirados de suas mãos condenadas à morte pelo regime
militar e mais de 2 milhões de exilados -, são numerosas as histórias contadas por
Scavo, como a dos três seminaristas do Bispo mártir Enrique Angelelli, que Bergoglio
escondeu no Colégio porque eram procurados pelo regime militar. Este episódio inclui
o relato do futuro Papa Francisco, que com destemor e correndo riscos, frustrou uma
busca de uma patrulha que estava no encalço dos seminaristas. (JE)