Papa Francisco: "os migrantes e refugiados não são peões no tabuleiro de xadrez da
humanidade"
Cidade do Vaticano (RV) – Foi apresentada nesta terça-feira, na Sala de Imprensa
da Santa Sé, a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado
(que se celebrará no dia 19 de janeiro de 2014), sobre o tema: “Migrantes e Refugiados:
rumo a um mundo melhor”. O texto foi apresentado pelo Presidente do Pontifício Conselho
da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Cardeal Antonio Maria Vegliò, pelo
Secretário do mesmo Dicastério, Dom Joseph Kalathiparambil, e subsecretário, Pe. Gabriele
Bentoglio, C.S.
O Dia Mundial do Migrante e do Refugiado foi instituído pelo
Papa Pio X em 1914, e no próximo ano celebra a sua 100ª edição.
O Papa inicia
a sua mensagem com uma constatação que “as nossas sociedades estão enfrentando, como
nunca antes na história, processos de interdependência mútua e interação em um nível
global, que, mesmo incluindo elementos problemáticos ou negativos, se destinam a melhorar
as condições de vida da família humana, não só nos aspectos econômicos, mas também
nos aspectos políticos e culturais”. Em seguida afirma que cada pessoa pertence à
humanidade e partilha a esperança de um futuro melhor com toda a família dos povos.
E é a partir dessa constatação que o Santo Padre escolheu como tema para o Dia Mundial
dos Migrantes e Refugiados deste ano: “Os migrantes e refugiados: rumo a um mundo
melhor”.
Falando dos resultados das mudanças modernas, o Papa Francisco destaca
o fenômeno crescente da mobilidade humana que emerge como um “sinal dos tempos”, como
o definiu o Papa Bento XVI na sua Mensagem de para o Dia Mundial do migrante e do
refugiado de 2006. Se por um lado, as migrações muitas vezes denunciam fragilidades
e lacunas nos Estados e na Comunidade internacional, por outro, revelam a aspiração
da humanidade de viver a unidade, no respeito às diferenças; de viver o acolhimento
e a hospitalidade, que permitem a partilha equitativa dos bens da terra; de viver
a proteção e a promoção da dignidade humana e da centralidade de cada ser humano.
Falando
em seguida do ponto de vista cristão o Santo Padre observa a tensão entre a beleza
da criação, marcada pela Graça e pela Redenção, e o mistério do pecado. A solidariedade
e o acolhimento, os gestos fraternos e de compreensão, veem-se contrapostos à rejeição,
discriminação, aos tráficos de exploração, de dor e de morte.
Um motivo de
preocupação são, principalmente, as situações em que a migração não só é forçada,
mas também realizada através de várias modalidades de tráfico humano e de escravidão.
O “trabalho escravo” é hoje uma moeda corrente!
E o Papa Francisco se pergunta:
o que significa a criação de um “mundo melhor”? “Esta expressão – acrescenta - não
se refere ingenuamente a conceitos abstratos ou a realidades inatingíveis, mas se
dirige à busca de um desenvolvimento autêntico e integral, para poder agir de tal
modo que haja condições de vida digna para todos, para que se encontrem respostas
justas às necessidades dos indivíduos e das famílias, para que seja respeitada, preservada
e cultivada a criação que Deus nos deu.
O nosso coração quer um “mais”, -
continua a mensagem - que não seja simplesmente conhecer mais ou ter mais, mas que
seja essencialmente um ser mais. Não se pode reduzir o desenvolvimento a um mero crescimento
econômico, alcançado, muitas vezes, sem tem em conta os mais fracos e indefesos. O
mundo só pode melhorar se a atenção é dirigida, em primeiro lugar, à pessoa; se a
promoção da pessoa é integral, em todas as suas dimensões, inclusive a espiritual;
se não se deixa ninguém de lado, incluindo os pobres, os doentes, os encarcerados,
os necessitados, os estrangeiros (cf. Mt 25, 31-46); caso se passe de uma cultura
do descartável para uma cultura do encontro e do acolhimento.
O Papa Francisco
chama a atenção ainda para o fato que os migrantes e refugiados não são peões no tabuleiro
de xadrez da humanidade. Trata-se de crianças, mulheres e homens que deixam ou são
forçados a abandonar suas casas por vários motivos, que compartilham o mesmo desejo
legítimo de conhecer, de ter, mas, acima de tudo, de ser mais.
No caminho,
ao lado dos migrantes e refugiados, - acrescenta o Santo Padre -, a Igreja se esforça
para compreender as causas que estão na origem das migrações, mas também se esforça
no trabalho para superar os efeitos negativos e aumentar os impactos positivos nas
comunidades de origem, de trânsito e de destino dos fluxos migratórios.
Violência,
exploração, discriminação, marginalização, abordagens restritivas às liberdades fundamentais,
tanto para o indivíduo quanto para grupos, são alguns dos principais elementos da
pobreza que devem ser superados. Muitas vezes, são justamente esses aspectos que caracterizam
os movimentos migratórios, ligando migração e pobreza.
Fugindo de situações
de miséria ou de perseguição em vista de melhores perspectivas ou para salvar a sua
vida, - continua a mensagem do Papa Francisco - milhões de pessoas embarcam no caminho
da migração e, enquanto esperam encontrar a satisfação das expectativas, muitas vezes
o que encontram é suspeita, fechamento e exclusão; quando não são golpeados por outros
infortúnios, muitas vezes, mais graves e que ferem a sua dignidade humana.
A
realidade das migrações, com as dimensões que assume na nossa época de globalização,
precisa ser tratada e gerida de uma maneira nova, justa e eficaz, o que exige, acima
de tudo, uma cooperação internacional e um espírito de profunda solidariedade e compaixão.
O Santo Padre afirma que uma boa sinergia pode ser um incentivo para os governantes
enfrentarem os desequilíbrios socioeconômicos e uma globalização sem regras, que se
encontram entre as causas das migrações em que as pessoas são mais vítimas do que
protagonistas.
É também importante ressaltar como essa colaboração já começa
com o esforço que cada país deveria fazer para criar melhores condições econômicas
e sociais no seu próprio território, para que a emigração não seja a única opção para
aqueles que buscam a paz, a justiça, a segurança e o pleno respeito da dignidade humana.
Finalmente, olhando para a realidade dos migrantes e refugiados, há um terceiro
elemento que o Papa Francisco destaca neste caminho de construção de um mundo melhor:
a superação de preconceitos e de pré-compreensões, ao considerar a migração. De fato,
não é raro que a chegada de migrantes, prófugos, requerentes de asilo e refugiados
desperte desconfiança e hostilidade nas populações locais. Surge o medo que se produzam
perturbações na segurança social, que se corra o risco de perder a identidade e a
cultura, que se alimente a concorrência no mercado de trabalho ou, ainda, que se introduzam
novos fatores de criminalidade. Os meios de comunicação social, neste campo, têm um
papel de grande responsabilidade: cabe a eles, de fato, desmascarar estereótipos e
fornecer informações corretas.
O Papa cita ainda a Sagrada Família de Nazaré
que teve que viver a experiência de rejeição no início do seu caminho. E conclui:
“Queridos migrantes e refugiados! Não percais a esperança de que também a vós está
reservado um futuro mais seguro; Que possais encontrar em vossos caminhos uma mão
estendida; que vos seja permitido experimentar a solidariedade fraterna e o calor
da amizade!” (SP)