Jales (JE) - Dentro de poucos dias, no início de outubro, vai se reunir a Comissão
de Cardeais, nomeada pelo Papa Francisco, para ajudá-no no governo da Igreja.
Sua
composição obedeceu ao critério de representatividade. Todos os cinco continentes
estão incluídos. Mas chama a atenção o fato do continente americano ter três representantes,
sendo dois da América Latina.
Sendo o Papa latino-americano, resulta evidente
uma constatação, que vai se confirmando sempre mais. A Igreja da América Latina está
sendo colocada em destaque.
Em primeiro lugar pelo próprio fato do papa ser
latino-americano. Não é por acaso que isto aconteceu. Sua atuação surpreendente aguça
a curiosidade de muitas pessoas que procuram entender o que levou a Igreja da América
Latina a oferecer um papa tão surpreendente como está sendo o Papa Francisco.
Por
sua vez, o próprio Papa vem demonstrando uma intenção de colocar a serviço de toda
a Igreja, valores que são próprios da Igreja da América Latina.
Esta empreitada
do Papa Francisco, de valorizar a caminhada de nossa Igreja, se realiza em três frentes.
Em primeiro lugar, recorrendo à fecunda experiência eclesial da Conferência
de Aparecida, realizada em 2007, onde o então Cardeal Bergoglio teve atuação destacada,
como coordenador da equipe de redação. Não é exagerado afirmar que a Conferência de
Aparecida foi a experiência eclesial mais forte, vivida pelo Cardeal Bergoglio antes
de ser eleito papa.
Não é por acaso que, vindo para o Rio de Janeiro para
o encontro mundial com os jovens, o Papa Francisco fez questão de vir também para
o Santuário de Aparecida, onde se realizou a Conferência. Vindo ao encontro dos jovens
do mundo, ele quis encontrar também a jovem Igreja Latino Americana, que agora é convidada
a oferecer seu dinamismo juvenil, para que a Igreja retome vigor, especialmente lá
onde ela parece mais extenuada pelo peso dos séculos.
Outra frente de valorização
da Igreja da América Latina se constitui no empenho de superação de preconceitos e
de temores, provenientes da maneira de fazer uma teologia que servisse de suporte
para a caminhada pastoral, sobretudo das comunidades eclesiais.
É muito significativo
o fato do jornal oficial do Vaticano, o L´Osservatore Romano, ter publicado nestes
dias diversos textos do famoso teólogo Gustavo Gutierrez, tido como fundador da “Teologia
da Libertação”. Durante muito tempo pairaram suspeitas sobre possíveis equívocos que
esta teologia poderia suscitar. O fato pode agora ser tido como positivo, pois forçou
os teólogos a uma dupla atenção, para aprimoram sua produção teológica, que finalmente
para a ser mais reconhecida pela própria Igreja.
Uma terceira frente, em favor
da valorização do testemunho cristão e eclesial da América Latina, está na decisão
do Papa Francisco, de retomar o processo de canonização de Dom Oscar Romero, martirizado
em 1980, no auge dos confrontos políticos e sociais existentes então em quase todos
os países da América Latina.
Por pressões políticas, este processo de canonização
tinha sido arquivado. Agora o Papa Francisco ordenou que fosse retomado com urgência.
São sinais dos tempos. A Igreja ganhou não só um papa, vindo do “fim do mundo”,
como ele mesmo falou, e como na prática os europeus continuam olhando para nós. Mas
o novo Papa traz consigo a rica caminhada da Igreja da América Latina, que ele deseja
colocar ao alcance de todos.