Belo Horizonte (RV) - A sociedade civil levou recentemente ao Congresso Nacional
um importante manifesto por uma reforma política democrática. Lideradas pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), 35 entidades elaboraram, em conjunto, uma proposta
de reforma política e a encaminharam ao Congresso. Este encaminhamento precisa ser
conhecido, apoiado e permanecer na pauta de discussões cidadãs, com especial envolvimento
dos políticos, que devem reconhecer a importância do atual momento para a história
do país.
É verdade que a reforma política não nascerá simplesmente pelo leito
da política partidária. Os interesses cartoriais que fortemente marcam este tipo de
política, particularmente quando se aproxima o período eleitoral, não permitem, entre
outros fatores, uma visão cidadã mais arrojada e corajosa. De modo geral, primeiro
faz se o atendimento de questões e demandas internas. Depois, consideram-se as urgências
e as necessidades da população. Por isso mesmo, é fundamental que entidades da sociedade
civil, particularmente as instituições de comprovada credibilidade e que priorizam
o bem comum, façam ouvir a voz do povo. Esse é o barulho necessário para despertar
o interesse da representação política em não atrasar processos essenciais à sociedade.
É importante lembrar que a reforma política não é uma demanda colocada em
pauta recentemente. Contudo, há uma demora insuportável na sua operacionalização.
Houve um sinal de aceleração no tratamento desse processo com as pressões advindas
das manifestações populares de junho. A proposta feita às pressas não foi adequada,
caiu na desconsideração e tudo voltou ao ritmo lento. Infelizmente, a sociedade civil
sofre com líderes pouco proativos no que se refere às mudanças de rumo. Existe uma
carência de líderes capazes de implantar dinâmicas que corrijam os procedimentos necessários
para se alcançar as metas prioritárias na organização social.
Aliás, esse
é um problema contemporâneo bastante grave que atinge as mais diversas instituições.
Um fenômeno doloroso com desdobramentos nos mais diversos níveis, como o equivocado
exercício da cidadania, o desrespeito e inadequado tratamento de bens públicos e a
falta de lucidez daqueles que podem provocar mudanças decisivas nos mais diferentes
âmbitos. Por isso mesmo, a infraestrutura necessária e possível exigida pela sociedade
civil se esbarra nas burocratizações, incompetências e atrasos que se multiplicam
aos milhares e aos olhos de todos.
A reforma política é um passo muito importante
para superar esse contexto social pouco humanístico e descompromissado com o bem comum.
Entidades que representam diversos segmentos da sociedade civil brasileira, tendo
analisado a conjuntura político-social do país, construíram com competência um proposta
concreta de Projeto de Lei para a consideração das instâncias competentes do Congresso
Nacional. É preciso sublinhar que o trabalho de formatação desta iniciativa foi entregue
pronto, com inquestionável competência jurídica e política. Assim, as possíveis demoras
para sua tramitação serão atribuídas, talvez, a prazos regulamentares ou algum outro
fator.
Teme-se, no entanto, pelo entrave que nasce da falta de lideranças
com vontade política, uma carência de lucidez na operacionalização de processos para
a efetivação da reforma. As fragilidades de lideranças e o tênue compromisso com resultados
no exercício de responsabilidades configuram-se como terrível veneno, motivo de preocupação
com o futuro próximo.
Será inteligente abraçar a causa da reforma política,
sem delongas, para que se enfrente o grave problema do baixo índice de credibilidade
do Poder Legislativo, Judiciário, Executivo e dos partidos políticos. Mais que isso,
a reforma política é passo decisivo para que se caminhe na direção de compromissos
mais efetivos, com mudanças sistêmicas nas áreas da saúde, mobilidade, educação, entre
outras.
Para a representação política nacional, é oportunidade de ouro buscar
a participação ampla dos mais diversos organismos da sociedade civil nesta reforma,
com as metas de recompor os valores da democracia, da justiça social, da ética na
política, participação cívica e efetividade dos direitos do cidadão. Que as autoridades
tenham a competência de acolher e considerar o manifesto da sociedade civil.
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte