Papa Francisco ensina o verdadeiro diálogo – D. Bruno Forte sobre a carta do Papa
ao “La Repubblica”
Teve enorme eco
nos media e continua a suscitar reflexões a carta que o Papa Francisco enviou ao jornalista
italiano Eugenio Scalfari e que foi publicada na terça-feira dia 11 no diário “La
Republica”. Sobre a importância deste gesto no horizonte do diálogo entre crentes
e não crentes a Rádio Vaticano ouviu D. Bruno Forte, bispo de Chieti-Vasto em Itália.
“Nesta
carta, o Papa Francisco diz coisas belíssimas mas que pertencem totalmente à fé e
à tradição da Igreja. A começar por aquele ponto que suscitou alguma surpresa quando
diz que não se deve falar de absoluto em relação à verdade cristã, porque a verdade
não é absoluta, não é isolada, separada, mas é uma verdade que é relação, amor em
si mesma – Trindade Santa – e na relação com os homens. Este é um ponto belo e muito
importante, mas que, na realidade, pertence à grande tradição cristã. O que é novo,
em alguns aspetos surpreendente e a meu ver bonito, é que o Papa Francisco estabeleça
esse diálogo com um pensador, um jornalista de grande inteligência, declaradamente
não-crente, e que esse diálogo se dê, de facto, através de Scalfari, num jornal como
'La Repubblica', um jornal que se caracteriza também por uma marca – como se diz –
fortemente laica. Mostra que o Papa não tem temor de amar a pessoa humana como ela
é, onde ela se encontra, sem estabelecer condições preconcebidas para o encontro e
o diálogo. Isso é verdadeiramente diálogo: uma abertura para o outro, na fidelidade
à própria identidade, mas também no acolhimento profundo da pessoa do outro, assim
como ele é."
Segundo D. Bruno Forte, o Papa Francisco revela, com esta
carta, a sua condição humana que quer relacionar-se com todos sem esquemas nem etiquetas...
"Creio
que nisso o Papa queira ser aquilo que desde o início mostrou ser: em primeiro lugar,
quer ser uma pessoa humana, e como todas as pessoas humanas, que, com a ajuda de
Deus, puderam realizar a própria vocação à plenitude de humanidade, que é o amor,
é uma pessoa humana que quer relacionar-se com todos, sem esquemas, sem etiquetas.
Creio que este é o estilo de Francisco: um estilo singularmente eficaz, como se vê
pelo acolhimento e pelo interesse que suscita, mas um estilo não tático, ou seja,
não é algo que Francisco faz por tática; fá-lo porque ele é assim, porque é a sua
identidade profunda, o seu querer continuamente referir-se ao Deus vivo e justamente
assim relacionar-se ao outro, quem quer que o outro seja, no respeito, no acolhimento,
na verdade e no amor." (RS)