Papa Francisco na Vigília pela Paz: Nunca mais a guerra! O ídolo do poder transforma
o ser humano num novo Caim
A Praça de São
Pedro encheu-se com dezenas de milhares de fiéis que quiseram estar junto do Papa
Francisco nesta vigília de oração, ao fim da tarde sábado 7 de setembro. Por todo
o mundo foram milhões as pessoas que se uniram ao Santo Padre nesta oração pela paz
na Síria e no mundo. Oração mariana e Adoração Eucarística foram os momentos altos
desta celebração. Na mensagem que proclamou nesta Vigília da Paz o Papa Francisco
evocou a narração bíblica da origem do mundo e da humanidade, contida no Livro do
Genesis e insistiu sobre a mensagem da bondade da Criação de Deus… “Deus
viu que isso era bom» (Gn 1,12.18.21.25). A narração bíblica da origem do mundo e
da humanidade fala-nos de Deus que olha a criação, quase contemplando-a, e repete:
isto é bom.” Toda a criação – continuou o Papa Francisco - constitui um
conjunto harmonioso, bom, mas os seres humanos em particular, criados à imagem e semelhança
de Deus, formam uma única família, em que as relações estão marcadas por uma fraternidade
real e não simplesmente de palavra: o outro e a outra são o irmão e a irmã que devemos
amar, e a relação com Deus, que é amor, fidelidade, bondade, reflete-se em todas as
relações humanas e dá harmonia para toda a criação.
“Mas perguntemo-nos
agora: é este o mundo em que vivemos? A criação conserva a sua beleza que nos enche
de admiração; ela continua a ser uma obra boa. Mas há também “violência, divisão,
confronto, guerra”. Isto acontece quando o Homem, vértice da criação, perde de vista
o horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo.”
“Quando
o Homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro,
quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar
de Deus, então deteriora todas as relações, arruína tudo.” E é aqui, diz o
Santo Padre, que o Homem abre a porta à violência, à indiferença, ao conflito… “È
justamente nesse caos que Deus pergunta à consciência do homem: «Onde está o teu irmão
Abel?». E Caim responde «Não sei. Por acaso sou o guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9).
Esta pergunta também se dirige a nós, assim que também a nós fará bem perguntar:
Por acaso sou o guarda do meu irmão? Sim, tu és o guarda do teu irmão! Ser pessoa
significa sermos guardas uns dos outros! Contudo, quando se quebra a harmonia, produz-se
uma metamorfose: o irmão que devíamos guardar e amar transforma-se em adversário a
combater, a suprimir. Quanta violência surge a partir deste momento, quantos conflitos,
quantas guerras marcaram a nossa história! Basta ver o sofrimento de tantos irmãos
e irmãs. Não se trata de algo conjuntural, mas a verdade é esta: em toda a violência
e em toda a guerra fazemos Caim renascer. Todos nós!” “E ainda hoje” –
disse o Papa Francisco - “prolongamos esta história de confronto entre irmãos,
ainda hoje levantamos a mão contra quem é nosso irmão.” O Santo Padre perguntou então
se é possível percorrer outro caminho…Olhando para a Cruz temos a resposta. Ali não
se respondeu à violência com a violência, não se respondeu à morte com a morte. “Nunca
mais a guerra” recordou o Papa Francisco invocando Paulo VI e que acabe o
barulho das armas. O perdão e o diálogo são a linguagem que tem futuro, são a novidade
que pode trazer a paz aos conflitos…E o Santo Padre terminou a sua mensagem clamando
por paz e reconciliação: “Perdão, diálogo, reconciliação são as palavras
da paz: na amada nação síria, no Médio Oriente, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação
e pela paz, e tornemo-nos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de reconciliação
e de paz.” (RS) Foto: Papa acolhe ícone de Nossa Senhora, "Salus populi
romani", quase no início da Vigília.
Texto integral da alocução do Papa na
Secção: Documentos (em baixo à direita, no site)