P. Samir: diálogo, única via para o conflito na Síria
Em primeiro
plano nos media persiste o apelo à paz e ao diálogo lançado no Domingo pelo papa Francisco.
Fabio Colagrande falou do caso com o Pe. Samir Khalil Samir, professor de História
da Cultura Árabe e Estudos Islâmicos na Universidade Saint Joseph, de Beirute: R.
– A luta na Síria já não é a luta da democracia contra a autocracia: era assim ao
princípio, contra a ditadura para obter democracia e liberdade. Hoje em dia, tornou-se
uma luta do campo sunita - representado pelos países árabes da Península Arábica,
com a ajuda de outros países e a ajuda, se assim a podemos considerar, de todos aqueles
movimentos fundamentalistas terroristas - contra o regime. Aproximadamente regime
xiita, porque os Alauitas são apenas uma parte. Ressurgem assim quase 14 séculos de
ódio. O problema não é por nada religioso.Quanto é importante este apelo do
Papa para a paz e que resultadospoderá ter?R.
– Na verdade, o Papa resume o que qualquer pessoa sensata pensa: a guerra traz a guerra,
a violência provoca violência, para nunca mais acabar. Melhor o diálogo, mesmo que
difícil, mesmo que cada qual tenha que fazer passos na direcção do outro e tenha de
renunciar uma parte daquilo que considera justo. Melhor isto que uma guerra: existem
já mais de 100 mil mortos, não se pode planificar ainda mais guerra na esperança que
ela traga a paz. É impossível, porque na Síria agora as duas partes encontram-se num
ponto tal de ódio recíproco que cada qual teme de poder ceder e assim desaparecer,
ser morto juntamente com a comunidade e seus seguidores. Não existe outra solução
senão a oração e o jejum, como diz o Evangelho e como disse o Santo Padre, na dimensão
da humanidade que tem um pouco de espiritualidade. E, por outro lado, existe o diálogo:
foi agendado para a próxima semana um debate com possíveis concessões mútuas. Pode-se
realmente pensar na via da negociação?Alguns dizemque a negociação já não tem ponto de saída... R.
– A negociação é a única via. Que ela é difícil, ninguém tem dúvida. A outra via seria
exterminar todos os oponentes. A única via, portanto, é a negociação, ou seja, a
presença de um "árbitro": a comunidade internacional - representada pela ONU e por
alguns Países não todos do mesmo "campo" – que proponha coisas razoáveis e soluções
que não vão totalmente por um lado ou pelo outro. Cada parte escolhe os seus representantes
mais "razoáveis", mais abertos ao outro, e uma comissão internacional que funcione
como um guia. Eu não conheço outra solução.Como estão
envolvidoshoje oscristãos
da Sírianesta crisee qual
pode sera sua contribuição paraa
paz? R. – Antes de tudo, começar a fazer na Síria este acto espiritual
do jejum e da oração. Quanto mais adesões houver maior será a atmosfera para a paz.
A Síria tem uma tradição de respeito, porque lá havia um regime ao mesmo tempo baasista
e leigo. Penso que os cristãos são vistos por todos como os mais "pacificadores".