Ataque à Síria pode provocar uma guerra com dimensão mundial – D. Mário Toso, Secretário
do Conselho Pontifício Justiça e Paz
Um dia depois do anúncio do Papa no Angelus dominical de convocar um Dia de Jejum
e Oração pela Paz na Síria e no Mundo para o próximo Sábado dia 7, a Rádio Vaticano
entrevistou o secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Dom Mario Toso.
Na sua reflexão, o arcebispo parte, justamente, do apelo do Papa no Angelus: D.
Mario Toso:- "O Pontífice faz-se intérprete do grito que se eleva de todas as partes,
do coração de cada um, da única grande família que é a humanidade. Trata-se de um
ímpeto universal da consciência das pessoas, dos povos. As sociedades civis e as suas
organizações pedem aos seus representantes que, de um lado, renunciem definitivamente
ao conflito armado – "Nunca mais a guerra" – e, de outro lado, que trabalhem, com
convicção e intensamente, em favor da paz. O Papa Francisco continua a missão de Jesus
Cristo, Príncipe da paz, que caminha com a humanidade e, "semeado" nas consciências,
a impele a caminho de seu pleno cumprimento."
"A guerra traz guerra", disse
o Papa Francisco. De facto, há o temor, expresso por muitas pessoas na Igreja, de
que um ataque à Síria possa estender a violência a toda a região transformando esta
guerra civil num conflito de dimensão mundial... D. Mario Toso:- "No Angelus deste
1º de setembro foi pronunciada a firme condenação a uma guerra que foi conduzida com
o uso indiscriminado das armas e que, em primeiro lugar, atinge a população civil
e inerme. Jamais é o uso da violência conduz à paz. A guerra traz guerra também porque
retém os povos numa espiral mortal: traz em si uma visão distorcida do poder entendido
como prepotência e domínio e, ademais, acentua o preconceito em que todos buscam destruir
o outro. Com tais pressupostos, o 'outro' permanece sempre um antagonista, um inimigo
a ser derrotado, jamais será um irmão. A guerra jamais chega ao fim e as razões da
justiça não são seguidas." "Como o Papa Francisco fez entender, é necessário estar
angustiados pelos dramáticos desdobramentos que se prospectam, à luz de como os grandes
da terra estão procedendo. O caminho de solução dos problemas da Síria não pode ser
o da intervenção armada. A situação de violência não diminuiria. Pelo contrário, há
o risco que deflagre e se estenda a outros países. O conflito na Síria contém todos
os ingredientes para explodir numa guerra de dimensão mundial e, em todo caso, ninguém
sairia ileso de um conflito ou de uma experiência de violência. A alternativa só pode
ser a da racionalidade, das iniciativas baseadas no diálogo e na negociação. Em suma,
é preciso mudar o rumo. Sem mais tardar, é preciso embocar o caminho do encontro e
do diálogo, que são possíveis tendo como base o respeito recíproco, o amor. O Poder
ideológico da violência, que aniquila o adversário, deve ser substituído pelo poder
do amor que requer a proteção daquilo que é comum. O verdadeiro poder é o amor, que
implica uma paixão pelo bem dos outros, como costuma dizer o Papa Francisco. O amor
robustece os outros, suscita iniciativas de colaboração em favor da justiça e da paz." Esta
iniciativa recorda o horizonte universal da "Pacem in terris" do Beato João XXIII
e - recordou também D. Toso - o 'espírito de Assis', que se experimentou no mês de
outubro de 2011, em torno do Papa Bento XVI, continuando os Dias de oração pela paz
promovidos por João Paulo II. São necessários "sinais de paz", que mexam com as pessoas
mais do que discursos bonitos. É preciso ser peregrinos da verdade, peregrinos da
paz. É tudo isto que o Santo Padre propõe para os próximos dias e, sobretudo, para
Sábado dia 7.