Arcebispo Toso: ataque à Síria pode causar guerra com dimensões mundiais
Cidade do Vaticano (RV) - Um dia depois do anúncio do Papa no Angelus
dominical de um Dia de jejum e oração pela paz na Síria e no mundo, a Rádio Vaticano
entrevistou o secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Dom Mario Toso.
Em sua reflexão, o arcebispo parte, justamente, do apelo do Papa no Angelus:
Dom
Mario Toso:- "O Pontífice se faz intérprete do grito que se eleva de todas
as partes, do coração de cada um, da única grande família que é a humanidade. Trata-se
de um ímpeto universal da consciência das pessoas, dos povos. As sociedades civis
e as suas organizações pedem a seus representantes que, de um lado, renunciem definitivamente
o conflito armado – "Nunca mais a guerra" – e, de outro lado, que trabalhem, com convicção
e intensamente, em favor da paz. O Papa Francisco continua a missão de Jesus Cristo,
Príncipe da paz, que caminha com a humanidade e, "semeado" nas consciências, a impele
a caminho de seu pleno cumprimento."
RV: "A guerra traz guerra", disse
o Papa. De fato, há o temor, expresso por muitos na Igreja, de que um ataque à Síria
possa estender a violência a toda a região...
Dom Mario Toso:- "No
Angelus deste 1º de setembro foi pronunciada a firme condenação a uma guerra que foi
conduzida com o uso indiscriminado das armas e que, em primeiro lugar, atinge a população
civil e inerme. Jamais é o uso da violência conduz à paz. A guerra traz guerra também
porque retém os povos numa espiral mortal: traz em si uma visão distorcida do poder
entendido como prepotência e domínio e, ademais, acentua o preconceito em que todos
buscam destruir o outro. Com tais pressupostos, o 'outro' permanece sempre um antagonista,
um inimigo a ser derrotado, jamais será um irmão. A guerra jamais chega ao fim e as
razões da justiça não são seguidas."
RV: O Beato João Paulo II definiu
a guerra no Iraque uma "aventura sem retorno". Temos aí o risco de um novo grave erro.
Qual é a sua opinião a esse respeito?
Dom Mario Toso:- "Como o Papa
Francisco fez entender, é necessário estar angustiados pelos dramáticos desdobramentos
que se prospectam, à luz de como os grandes da terra estão procedendo. O caminho de
solução dos problemas da Síria não pode ser o da intervenção armada. A situação de
violência não diminuiria. Pelo contrário, há o risco que deflagre e se estenda a outros
países. O conflito na Síria contém todos os ingredientes para explodir numa guerra
de dimensão mundial e, em todo caso, ninguém sairia ileso de um conflito ou de uma
experiência de violência. A alternativa só pode ser a da racionalidade, das iniciativas
baseadas no diálogo e na negociação. Em suma, é preciso mudar o rumo. Sem mais tardar,
é preciso embocar o caminho do encontro e do diálogo, que são possíveis tendo como
base o respeito recíproco, o amor. O Poder ideológico da violência, que aniquila o
adversário, deve ser substituído pelo poder do amor que requer a proteção daquilo
que é comum. O verdadeiro poder é o amor, que implica uma paixão pelo bem dos outros,
como costuma dizer o Papa Francisco. O amor robustece os outros, suscita iniciativas
de colaboração em favor da justiça e da paz."
RV: O Papa convidou os fiéis,
mas não somente os fiéis, a se unirem no Dia de oração pela paz na Síria e no mundo,
no próximo sábado, dia 7. Essa iniciativa recorda o horizonte universal da "Pacem
in terris" do Beato João XXIII, que, justamente, se dirige a todas as pessoas de boa
vontade...
Dom Mario Toso:- "Recorda também o 'espírito de Assis',
que se experimentou – e continua a propagar-se – no mês de outubro de 2011, em torno
do Papa Bento XVI, continuando os Dias de oração pela paz promovidos por João Paulo
II. São necessários "sinais de paz", que mexem com as pessoas mais do que discursos
bonitos. É preciso ser peregrinos da verdade, peregrinos da paz. A construção da paz
depende da busca apaixonada da verdade sobre o homem, sobre o mundo e sobre Deus.
Depende, em particular, da comunhão com Ele, da oração que se traduz em atos de justiça."
(RL)