Cidade do Vaticano (RV) – Estamos vivendo os
últimos suspiros do verão no hemisfério norte do nosso planeta, apesar do calor que
ainda está presente, verão aqui na Itália, que como no Brasil, é sinônimo de férias,
um período tão esperado, diria agoniado, por quem trabalha o ano inteiro. Diferentemente
do que ocorre no Brasil, onde nossas férias, em geral, são no início do ano ou durante
o carnaval, aqui na Europa, nos meses de julho e agosto, o “homem urbano” se transfere
para a praia ou para a montanha. Como dizia João Paulo II é o momento de retemperar
o corpo, sem esquecer o espírito.
Neste período aqui na Itália, onde tudo
pára, até a política dá um tempo, - menos a chegada de imigrantes através do Mar Mediterrâneo
- a cidade de Rimini, uma cidade de mar, uma espécie de Rio ao diminutivo, hospeda
o “Encontro da Amizade entre os Povos”, promovido pelo movimento Comunhão e Libertação.
Todos
os anos discute-se sobre um tema, este ano – o encontro se realizou nesta semana –
foi dedicado ao tema “Emergência-homem”. Para a ocasião, o Papa Francisco enviou uma
mensagem na qual refletiu sobre a grande urgência da evangelização. O Santo Padre
recordou que o homem permanece um mistério, irredutível a qualquer imagem que a sociedade
possa formar a respeito. Chama a atenção ainda para o fato de que Cristo é a porta,
é o caminho e, assim sendo, sem colocá-lo no centro da vida não será possível entender
o mistério do homem.
O Papa Francisco faz uma afirmação importante e ampla:
“o poder econômico, político, midiático precisa do homem para perpetuar a si mesmo”.
É por isto que muitas vezes procura manipular as massas, induzir desejos, apagar
aquilo que de mais precioso o homem possui: o relacionamento com Deus. Aí uma constatação
do Pontífice de que o poder teme os homens que estão em diálogo com Deus porque isso
os torna livres. Eis, então a emergência-homem que o Encontro de Rimini procurou refletir.
Trata-se, segundo Francisco, de restituir o homem a si mesmo, à sua altíssima
dignidade, à singularidade e preciosidade de toda a existência humana, desde a concepção
até o fim natural. “É preciso voltar a considerar a sacralidade do homem e ao mesmo
tempo dizer com força que é somente no relacionamento com Deus, isso é, na descoberta
e adesão à própria vocação, que o homem pode alcançar a sua verdadeira estatura”.
E
nesse processo, a mensagem lembra que a Igreja tem uma grande responsabilidade. O
Santo Padre volta a falar da necessidade de se cultivar uma cultura do encontro, uma
cultura que cada vez mais, apesar de toda a facilidade de comunicação do mundo moderno,
está cada vez mais difícil de ser atuada, vivida. E o apelo de Francisco, “vamos com
coragem ao encontro dos homens e mulheres do nosso tempo, das crianças e dos idosos,
dos cultos e das pessoas sem instrução, dos jovens e das famílias. Vamos ao encontro
de todos, sem esperar que sejam os outros a nos procurar!”. Em síntese, devemos levar
o perfume do amor de Cristo para fora das nossas realidades, para cada ambiente. Essa
a tarefa da Igreja, de todos nós, servir o homem indo buscá-lo nos labirintos sociais
e espirituais mais escondidos.
O mundo de hoje vive cada vez mais a angústia
do nada, da falta de horizontes, de um vazio que se amplia com a violência do forte
sobre o fraco, do poderoso sobre o indefeso. Perdido neste início de século o homem
grita por socorro, socorro que só pode vir de um amor sem fim que se consumou numa
Cruz. A emergência do homem de hoje e a sua pobreza é a falta de Cristo. (Silvonei
José)