70 anos do martírio de Franz Jägerstätter: “não é possível ser cristão e nacional-socialista”
Viena (RV) - Em 9 de agosto de 1943, na prisão de 'Brandeburg an der Havel',
em Berlim (a mesma onde foram mortos o Pastor luterano Dietrich Bohnöffer e o Sacerdote
católico Max Joseph Metzger) era decapitado Franz Jägerstätter, um austríaco que recusou-se
a servir no exército de Hitler, pois defendia "não ser possível ser cristão e nacional-socialista
ao mesmo tempo". Ele foi uma das testemunhas da resistência não-violenta à Hitler.
Foi proclamado Beato em 2007 no Domo de Linz, na Áustria, sua terra natal. A sua memória
litúrgica é recordada em 21 de maio, dia de sua beatificação.
A história deste
agricultor de 36 anos, nascido em St. Radegund, ao norte de Salzburgo, foi um alerta
contra a guerra e a violência, para tantos jovens católicos e não-católicos da Europa
Central, mas também para a população na Irlanda e no Reino Unido. Na Itália, ganhou
destaque na região do Trentino-Alto Adige, onde surgiu o ‘Grupo Jägerstätter Italia’,
graças ao empenho do sociólogo Giampero Girardi, ex-coordenador do Grupo ‘Objectores
de Consciência Cáritas’.
O ano de 2013 foi definido como o Ano dos Jägerstätter,
em função da recorrência do 70º aniversário do martírio de Franz e pelo 100º aniversário
da viúva Franziska, festejado em 4 de março passado, (ela veio a falecer duas semanas
após). Na época da morte de Franz, sua mulher, então com 30 anos, tinha plena consciência
que ficaria sozinha, após 7 anos de matrimônio e três filhas pequenas para criar,
devido à escolha coerente do marido, pertencente a Ordem Terceira Franciscana desde
1940.
“Não se pode ser contemporanemente cristão e seguir o nacional-socialismo:
existem momentos em que é necessário obedecer a Deus ao invés dos homens”, escreveu
Franz na noite antes de apresentar-se no quartel de Enns, em 2 de março de 1943, após
ter recebido uma carta de convocação. Aprisionado no ex-convento das Irmãs Ursolinas,
foi condenado à morte em 6 de julho por um tribunal de guerra de Berlim e em 9 de
agosto foi executado.
A Pax Chisti internacional, que os define como 'operadores
de paz', escreveu: “Neste Ano da Fé, Franz e Franziska estão entre as testemunhas
mais importantes e críveis da nossa fé. Estejam certos que continuaremos a partilhar
as suas histórias, para encorajar as novas gerações a aprender desta fé profunda e
dos seus testemunhos ao Evangelho da paz e da não-violência”.
As celebrações
mais significativas terão lugar em Berlim, uma junto ao 'Österreichischen Kulturforum'
e a outra em colaboração com a Paróquia da Santíssima Trindade, com duas conferências
da historiadora e sua biógrafa, Erna Putz sobre o tema “Franz & Franziska Jägerstätter
– A recepção de duas figuras incômodas“ e “O nascimento e as consequências de uma
decisão“.
A figura do mártir foi muito discutida por anos entre seus compatriotas
e por ex-militares da Wehrmacht. A beatificação em 2007, no entanto, tornou evidente
o reconhecimento do heroísmo do mártir também por parte da Igreja. Ademais, foram
compostas inúmeras obras teatrais sobre sua vida, sendo a última a de Félix Mitterer,
que será encenada por estes dias em Haag. A viúva Franzisca lutou para manter viva
sua memória, através da publicação de suas cartas e contos de sua vida.
A Pax
Christi Áustria, por sua vez, convida para as celebrações a serem realizadas junto
à Paróquia de St. Radegund, Diocese de Linz, sede da sepultura dos dois cônjuges.
Até dois anos atrás, Franziska costumava encontrar os participantes e testemunhar
o ocorrido. Deixou de fazê-lo no último ano por questões de saúde.
Também em
Londres realizou-se uma celebração no dia 9, às 16 horas, hora da morte do Beato Franz,
na Catedral de Westminster, promovida pela Pax Christi. (JE)