Jales (RV) - O Brasil inteiro toma conhecimento de mais uma tragédia familiar,
que nos deixa estarrecidos. Mesmo que o triste episódio ainda não esteja de todo esclarecido,
o fato é que resultaram cinco vítimas fatais, de uma mesma família, com evidentes
indícios de ato praticado por um adolescente de treze anos, matando seus pais, sua
avó, sua tia-avó, e terminando por se matar a si próprio.
Diante de uma tragédia,
a primeira atitude é de respeito pelas vítimas, de pesar pela perda de vidas, e de
solidariedade pela dor causada a pessoas que mais de perto foram atingidas.
Cabe
também, de imediato, um espaço para cada um, da maneira como achar conveniente, se
colocar diante do mistério da existência humana, e com reverência pedir que Deus tenha
compaixão das vítimas, na convicção de que sua misericórdia ultrapassa nossas trágicas
limitações. Pois se mostra cada vez mais necessário situar nossa vida, nossos atos,
nossas contingências, à luz de verdades transcendentes, que nos apontam valores preciosos
para a salvaguarda da vida humana. Não dá mais para achar que o banimento da fé não
tenha consequências, e que seja possível prescindir impunemente da religião ao situar-nos
diante da existência humana.
Fatos como este levantam interrogações profundas.
Que teria faltado naquela família, que contava com o amor dos pais, o zelo da avó,
o carinho da tia, compondo um contexto humano cálido e exuberante?
E a
Escola, que teria deixado de fazer, além da acolhida personalizada que proporcionou
ao menino, desde o primeiro dia de sua matrícula?
E que ambiente social ele
respirou, para que fosse levado a praticar estes atos de extrema crueldade?
A
própria Igreja precisa se interrogar sobre como inserir na prática cotidiana das pessoas
o sentimento de respeito à vida humana,e a urgência do cultivo de atitudes destinadas
a resguardar a integridade das pessoas.
Diante de fatos assim, em todo o caso,
é salutar que todas as instituições se interroguem e procurem a ajuda mútua, para
se criar uma “cultura da vida”, e superar o que infelizmente vai se desenhando como
uma fatídica “cultura da morte”.
Por escassas informações repassadas, do caso
específico desta tragédia, fica confirmada a convicção de que, em todas as famílias,
nas escolas, na Igreja, na Sociedade, se faz necessário distinguir de maneira mais
clara, o virtual do real. Entre essas duas dimensões, passou a existir uma fronteira
muito tênue e às vezes, mesmo, coincidente.
O mundo virtual pode ser construído
e desconstruído, de acordo com as fantasias de cada um. Nele é fácil fazer e desfazer,
viver e morrer, matar e se matar. No mundo virtual, tudo pode ser feito, de maneira
inconseqüente. Mas estes procedimentos, que ocupam crianças e adolescentes horas a
fio, quando se inverte o contexto, e se passa do mundo virtual para o mundo real,
aí podem acontecer tragédias que nos assombram.
Outra observação: a distância
cultural entre gerações se tornou muito grande. Urge um esforço comum, para aproximar
as gerações, criar mais momentos de convivência na família, fortalecer a dimensão
salutar da realidade concreta da vida, da normalidade, do encanto com a natureza,
e da consciência de quanto é importante o respeito pelas pessoas, cultivando o cuidado
pela prodígio da vida, que se encontra sobretudo em nossa existência humana.
Uma
coisa resulta evidente. A pessoa humana não se sacia com futilidades ou aparências.
Por mais que abarrotemos os filhos com valores superficiais, maior resulta a carência
interior, que demanda por valores humanos consistentes e inquestionáveis. De novo
se comprova: “Não só de pão vive o homem”. O ponto de partida volta a ser o valor
da vida humana, de que a guardiã é a família, que deve ser apoiada por todos na sua
indispensável tarefa de geradora e promotora da vida.