Jales (RV) - A presença do Papa Francisco é contagiante. Seus gestos palavras
vão direto ao coração do povo brasileiro, com suas mensagens ao mesmo tempo simples
e profundas. Tão logo não esqueceremos esta catequese, feita dos episódios de sua
agenda, que assim se transformam em cenários para as novas parábolas do mesmo Evangelho
de Cristo.
Desta maneira, seus ensinamentos recebem um contexto concreto, que
ajuda a medir o alcance de sua “doutrina social”, feita não de princípios teóricos,
mas de afirmações claras e práticas.
Para isto certamente o ajuda sua formação
jesuítica, com os tradicionais três pontos, que vão cadenciando suas afirmações.
Esta
sequência de três pontos pode ser identificada em sua fala na favela. Lá ele tomou
a realidade concreta da pobreza, para desenvolver seu raciocínio. A primeira afirmação
é primorosa:
“Uma sociedade que não cuida dos seus pobres, se empobrece a
si mesma.”. À primeira vista pareceria só uma frase de efeito. Mas conferindo bem
o seu alcance, nos damos conta de sua pertinência e sabedoria. A pobreza maior não
se encontra junto aos pobres, mas se constitui do empobrecimento perverso de quem
se fecha em seu egoísmo, e ignora as riquezas humanas que se encontram nos pobres.
Prosseguindo
em sua catequese social, o Papa Francisco constata que “a melhor maneira de medir
a grandeza de uma sociedade é ver a maneira como ela trata os mais necessitados”.
Que sabedoria e que lucidez!
Daí decorre o terceiro ponto de sua breve homilia.
Ele tem evidentes feições práticas, sinalizando o compromisso que ele propõe a todos.
No atendimento aos seus pobres, a sociedade pode redescobrir seus melhores valores,
que acabam enriquecendo o conjunto da sociedade, que passa a integrar a solidariedade
como valor prático que faz multiplicar os bens que aumentam na medida que são compartilhados.
Outros
ensinamentos muito oportunos foram dados por ocasião da visita ao Hospital São Francisco,
onde é feito um trabalho caridoso e competente de recuperação de dependentes químicos.
O difícil assunto a abordar era a droga. E ele o abordou de maneira serena e firme.
Em primeiro lugar, afirmou que a situação da droga hoje em dia pede da sociedade
um gesto de coragem. Isto implica uma postura consciente, decidida e articulada contra
a droga, buscando sempre as causas de onde brota o problema, em cuja raiz existem
duas vertentes. Uma é a ganância, que leva os traficantes a perderem o escrúpulo de
matar para garantir o seu lucro. Outra vertente é a falta de valores, especialmente
nos jovens, que se tornam vulneráveis diante de ofertas feitas de modo traiçoeiro
por quem deseja envolvê-los para depois explorá-los.
De fato, o problema da
droga é tão sério que a sociedade deveria se declarar em estado de calamidade, para
um enfrentamento claro contra “os mercadores da morte”.
No combate contra a
droga é preciso integrar as duas dimensões, lembradas na abertura do Concílio pelo
Papa João 23, referindo-se à severidade e à misericórdia. Muito otimista, João 23
observava que a Igreja ganha mais usando hoje o remédio da misericórdia, do que o
remédio da severidade.
Com a droga, é preciso integrar as duas posturas. Com
os traficantes, usar o remédio da severidade. Com as vítimas da droga, usar o remédio
da misericórdia, revestindo-nos dos sentimentos de Cristo, que tinha compaixão com
as multidões, mas batia de rijo contra os fariseus.
Portanto, com os “mercadores
da morte”, o remédio da severidade. Para com os drogados, o remédio da misericórdia.
Com isto, inverteríamos a tendência: em vez da droga degenerar a sociedade, o combate
contra ela redescobriria o caminho para a sua realização verdadeira.